Quando a comporta de Gibraltar foi aberta «

A bordo del Joides

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A bordo del Joides 13 diciembre, 2011

Quando a comporta de Gibraltar foi aberta

Uma das primeiras coisas que se perde em um barco, depois de uma semana, é a noção de tempo. “Hoje é sábado, não?”, pergunta um companheiro. “Sim, acho que sim”, você responde, e para tanto pensa duas vezes. Trabalha-se todos os dias, e em alguns nem mesmo se sai à cobertura para ver o sol ou a lua, não se tem as cervejinhas das tardes de sábado ou o relaxamento do domingo que quebram a monotonia do passar do tempo. Ontem foi um dia difícil, a torre de perfuração não pára nunca, funciona 24 horas por dia. Somente em nosso turno das 12h da manhã às 12h da noite foram perfurados quase 300 metros e a cada 20 minutos um novo testemunho era coletado, o laboratório parecia um pista de corrida, tubos de ensaio, peneiras, porta-objetos, etiquetas, corridas ao microscópio e, de repente, outro “Core on deck” nos auto-falantes, o próximo testemunho está chegando, alguém tem que ir buscar a próxima amostra, tivemos apenas tempo para comer, sem nada de “tea time” ou “cookie time”. Além disso, ainda nos resta fazer o relatório da última sonda a ser apresentado hoje.

Mas não importa, ainda existe um otimismo generalizado entre os companheiros, esta sonda em particular desperta grande expectativa, porque o objetivo é perfurar nos próximos dias mais de 700 metros no corpo contornítico de Faro, é um volume de sedimentos que tem mais de 100 quilômetros de distância e uns 700 metros de espessura, estendendo-se ao longo do talude continental do Sul de Portugal. Foi formado pela acumulação de partículas transportadas pela corrente profunda do Mediterrâneo que passa através do estreito de Gibraltar. Esta corrente de água relativamente quente e muito salina, que de alguma maneira registra o que acontece dentro do Mediterrâneo, contorna o talude continental de Cádiz e o Algarve, para logo virar no cabo de San Vicente e dirigir-se ao Norte pelo talude continental de Portugal e Galicia. Nestes 700 metros de sonda poderemos pesquisar as mudanças das águas profundas do Mediterrâneo através do tempo, mas sobretudo queremos atingir a base do corpo contornítico, e isso é o que desperta mais expectativas. Por quê se formou o corpo contornítico? Está relacionado com a abertura do estreito de Gibraltar? Por quê o estreito de Gibraltar foi aberto? Quando aconteceu? Está relacionado com a inundação do Mediterrâneo há 5,33 milhões de anos? Estas são algumas das perguntas que talvez tenham respostas após esta campanha.

Há mais de 40 anos outra expedição do programa Ocean Drilling Program, então com o barco Glomar Challenger, descobriu a existência de imensos corpos de sal no fundo do Mediterrâneo cobertos por mais de 2 km de sedimento acumulado nos últimos 5 milhões de anos. Como resultado daquela expedição se propôs que o Mediterrâneo tinha secado há mais de 5 milhões de anos. A única explicação possível é que foi cortada sua conexão com o Atlântico. Na realidade, se agora construíssemos uma represa no estreito, o nível do mar Mediterrâneo descenderia um metro por ano. Em um milênio e meio o nível do mar poderia descender até 1.500 metros. O Mediterrâneo tem um déficit hidrológico importante, a água que chega todos os anos do mar Negro, do Nilo, do Ródano, do Ebro e de rios menores não é suficiente para compensar a água que se perde pela evaporação. Por este motivo uma corrente de água superficial se vê forçada a entrar do Atlântico para compensar a perda de água e manter o nível do Mediterrâneo no mesmo nível do Oceano, mas se a porta do Atlântico fosse fechada, o nível de água descenderia irremediavelmente. Isto é o que aconteceu há cerca de 5,56 milhões de anos, a porta atlântica fechou e o nível do Mediterrâneo baixou até 1.500 metros em pouco tempo, convertendo-se em um mar morto no qual a concentração de sal na água superou o limite de saturação do sal.

Nesta sonda esperamos alcançar em alguns dias a profundidade em que se encontram os sedimentos acumulados naquele momento, quando a porta Mediterrânea estava fechada e, assim, a água profunda mediterrânea não varria o talude continental de Cádiz. Poderemos explorar os dramáticos acontecimentos da história do Mediterrâneo durante a chamada crise de salinidade do Messiniense, uma das maiores catástrofes ambientais e biológicas dos últimos milhões de anos, e isto será possível de fora do Mediterrâneo.

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