Tecnología España , Salamanca, Martes, 02 de febrero de 2010 a las 10:15

“É impossível que haja um acidente em um cemitério nuclear”

O especialista em Física Nuclear Francisco Fernández, da Universidade de Salamanca, destaca que o futuro Armazém Temporário de Resíduos (ATC) abre portas à linhas de pesquisa de ponta

José Pichel Andrés/DICYT Está aberto o debate na Espanha sobre a instalação de um Armazém Temporário Centralizado (ATC) de resíduos nucleares e, entre as várias localidades candidatas, surgem vozes a favor e contra com respeito à rentabilidade econômica e social e à questão da segurança. Francisco Fernández, professor de Física Nuclear da Universidade de Salamanca, aporta a visão mais técnica: não existe nenhuma evidência científica de risco para a saúde em uma instalação deste tipo, destinada a abrigar resíduos, é inclusive mais segura que as centrais nucleares, onde se produzem reações em cadeia. Além disso, o ATC que propõe o Governo está associado a um grande parque tecnológico, no qual existirão diversas possibilidades para desenvolver linhas de pesquisa de ponta, afirma o especialista.

 

Em declarações concedidas a DiCYT, Francisco Fernández explicou que um cemitério nuclear é “uma instalação segura, já que a radioatividade que pode emitir está controlada e conta com barreiras que impedem sua saída ao exterior”. Ademais, são realizadas medições constantes que garantem que os níveis de radiação não são prejudiciais para a saúde, da mesma maneira como ocorre em uma central nuclear.

 

Inclusive, uma central nuclear apresenta, em potência, muito mais risco. “Em uma central se gera energia e, havendo mal funcionamento, um acidente pode ocorrer uma vez que se trata de processos dinâmicos, mas um armazém não tem nenhuma atividade”, assinala. Uma central nuclear realiza processos complicados, “liga e desliga e, para produzir energia, realiza o que se conhece por reação em cadeia”. Este fenômeno tem lugar quando um nêutron é lançado contra um átomo provocando sua fissão, por sua vez, o átomo perde nêutrons que se chocam contra outros átomos para provocar novas fissões e assim sucessivamente, em um processo que produz grande quantidade de energia.

 

Pelo contrário, o objetivo do cemitério nuclear é o oposto, não só se ativa este tipo de processo, mas também trata de fazer com que os resíduos gerados deixem de emitir radiações. Portanto, “é impossível que haja um acidente nuclear” no futuro armazém de resíduos, segundo o especialista.

 

Mais de 1.000 anos

 

O que está claro é que construir na Espanha uma instalação deste tipo é imprescindível para armazenar “os resíduos que provem tanto das centrais ativas como das que se desmontam, porque irão desprender energia durante 1.000 ou 1.500 anos”, indica.


No entanto, o ATC que projeta o Governo está pensado para 60 anos, um tempo prorrogável até 100. O motivo é esperar até a futura construção do que se denomina armazém geológico profundo, o cemitério definitivo para os resíduos.

 

Pesquisar para transformar os resíduos

 

Ademais, isso dará a oportunidade de realizar pesquisa de ponta em torno ao armazenamento de resíduos no parque tecnológico anexo ao armazém. “Poderá ser pesquisado o que se denomina transmutação de resíduos, quer dizer, conseguir reações que os converta em um material com menos radioatividade, de forma que finalize antes do período no qual emitem radiação”, afirma Francisco Fernandéz. Além disso, outra linha muito potente de pesquisa na área dos resíduos é a melhoria dos containeres nos quais são armazenados.

 

Com relação ao lugar mais idôneo para se instalar o ATC, o especialista assegura que este não necessita cumprir muitos requisitos, já que a instalação é segura por si mesma, mas de qualquer modo, é conveniente que seja uma zona geográfica que não registre atividade sísmica e em um lugar concreto, salvo de inundações. Ademais, assinala outro aspecto importante: que esteja bem comunicado, já que para aí terão que ser levados os resíduos nucleares de toda a Espanha.

 

Ainda que o Governo espanhol tenha tomado como referência um modelo de armazém localizado na Holanda, já existem instalações deste tipo distribuídas por toda a Europa: Alemanha, França, Bélgica, Reino Unido, Suécia, Suíça e Rússia, afirma.

 

Medindo a radioatividade

 

Francisco Fernández é um especialista em medir radiação nuclear, já que as universidades de Salamanca e León fazem parte da rede de estações de medida de radioatividade ambiental que coordena o Conselho Nacional de Segurança Nuclear (CSN), garantindo que os níveis registrados na comunidade autônoma (Castilla y León) não superem as recomendações da Organização Internacional de Proteção Radiológica.

 

A fábrica de Enusa localizada em Salamanca, região de Juzbado, é objeto destes testes, que consistem em recolher amostras de solo, vegetais, peixes, leite e água. O objetivo é detectar cada um dos três tipos de radioatividade que é gerada, já que os núcleos atômicos se descompõem em radiação alfa, beta e gama.

 

O primeiro tipo de radiação penetra com dificuldade no organismo se não é ingerido diretamente através de algum alimento contaminado, mas é o que provoca maiores danos. De maneira contrária, tanto as radiações beta como as gama não causam alterações tão importantes, mas penetram com maior facilidade no corpo humano se o ambiente no qual se movimenta um indivíduo está contaminado.