Alimentación Brasil Campinas, São Paulo, Jueves, 03 de junio de 2010 a las 13:57
Indicadores socioambientais

Economia melhor não garante avanços sociais e ambientais na Amazônia

Conclusões de pesquisa contraria o pensamento comum de que avanços econômicos geram mudanças positivas nas áreas ambiental e de saúde

 

Carolina Octaviano/Ciência e Cultura/Labjor/DICYT Apesar do crescimento econômico, os estados que compõem a chamada Amazônia Legal - composta pelo Acre, Pará, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e Tocantins - ainda apresentam problemas sociais, ambientais e de saúde, contrariando o pensamento comum de que a melhora na economia traz, conseqüentemente, mudanças positivas nestas áreas. Isso é o que confirma a pesquisa recém-divulgada “Indicadores de sustentabilidade ambiental e de saúde na Amazônia Legal, Brasil”, realizada em 2006 por Leandro Luiz Giatti, doutor em saúde pública pelo Departamento de Saúde ambiental da Universidade de São Paulo (USP), e Carlos Machado de Freitas, também doutor nesta área pela Fundação Oswaldo Cruz.

 


Para reunir e levantar dados, os pesquisadores utilizaram o modelo “Forças Motrizes, Pressão, Situação, Exposição, Efeito e Ação” (FMPSEEA) proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que foi adotado por apresentar a possibilidade de analisar a relação entre saúde e ambiente de modo sistêmico, identificando as causas que geram pressões e mudanças no estado ambiental. O que, segundo Giatti, permite utilizar a seguinte analogia: “a composição de algo similar a uma foto composta por partes de fotos tiradas do mesmo objeto em distintos momentos”.

 


A pesquisa salienta que a relação entre crescimento econômico e desigualdades, naquela macroregião, se dá de maneira heterogênea, assim como são distintos os modelos de desenvolvimento, apropriação do espaço e da natureza e as políticas vigentes em cada estado que a compõem. “Nesse sentido, ressaltamos bastante as diferenças entre os estados de Mato Grosso e Amazonas, ambos vem crescendo muito economicamente. O primeiro tem melhores indicadores sociais, mas é o que mais desmata. E o segundo, conserva significativamente o patrimônio natural, porém, apresenta sérios problemas de distribuição de renda e de desemprego”, explica Giatti.

 


Para o pesquisador, “há diferenças nos modelos adotados entre os estados, mas alguns dos que mais crescem economicamente são também os que mais desmatam (Pará, Rondônia e Mato Grosso), por processos de desenvolvimento fortemente dependentes de recursos naturais, como no caso da soja, do comércio de produtos florestais (madeireiros) e da agropecuária de modo geral”. Esses dados permitem apontar para o desenvolvimento insustentável da região, pois ao mesmo tempo em que se consegue obter bons indicadores de crescimento econômico, redução da mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida, o desmatamento e os processos de apropriação desenfreada de recursos naturais vão se intensificando.

 


O estudo relembra ainda o estreito relacionamento entre desenvolvimento econômico, sustentabilidade ambiental e saúde humana. Em vista está o bem estar e não somente a ausência de doenças, pois isso tudo gera o crescimento, não apenas a economia, e esses fatores são dependentes uns dos outros. “Assim, julgamos primordial, que para a adoção de estratégias de desenvolvimento econômico que tenham, enquanto pré-requisitos, a saúde do ambiente e a saúde da população, que também é determinada pela melhoria de indicadores socio-econômicos”, afirma Giatti. Logo, o crescimento econômico não é garantia de igualdade social e de qualidade de vida.

 


Ao analisarem os índices de saúde da região, os pesquisadores se deparam com um quadro sanitário bastante delicado. “Prevalecem doenças infecciosas diretamente associadas às radicais mudanças ambientais, como malária, leishmaniose e dengue. Mas também recrudescem problemas como mortes por violência (associadas a tensões sociais e conflitos por terras), mortes por acidentes de trânsito (associadas à urbanização, precário planejamento de vias, etc.) e problemas relacionados ao precário saneamento básico na região. Além disso, algumas doenças fortemente relacionadas à pobreza ainda têm grande importância na região, tais como tuberculose e hanseníase”, complementa. Para o pesquisador, os resultados deixam claro que o desenvolvimento econômico, associado às profundas mudanças ambientais e pouca ação para mitigar desigualdades, não é o melhor caminho para desenvolver a Amazônia em uma perspectiva integral, considerando um objetivo primordial que deve ser a qualidade de vida de seus habitantes.