Ciencias Sociales España , Burgos, Miércoles, 08 de enero de 2014 a las 10:33

Encontrado em Atapuerca um musaranho do Pleistoceno Inferior

Trata-se do Sorex (Drepanosorex) margaritodon, descrito pela primeira vez na Europa ocidental por membros da Equipe de Pesquisa de Atapuerca

Cristina G. Pedraz/DICYT Nos últimos anos, os ricos sítios arqueológicos da Gran Dolina e da Sima del Elefante da Serra de Atapuerca foram a origem de importantes descobertas relacionados com a microfauna. A última descoberta, publicada na revista científica alemã Paläontologische Zeitschrift, é um musaranho do Pleistoceno Inferior, Sorex (Drepanosorex) margaritodon, cujos fósseis foram localizados nos níveis inferiores da Sima del Elefante. É a primeira vez que esta espécie de musaranho, pertencente ao grupo dos Soricidae ou musaranhos de dentes vermelhos, é encontrada na Europa ocidental.

São autores do trabalho membros da Equipe de Pesquisa de Atapuerca (EIA), Juan Rofes, da Universidade do País Vasco, e Gloria Cuenca-Bescós, da Universidade de Zaragoza e responsável pelo Grupo de Microfauna, os mesmos que encontraram a espécie Dolinasorex glyphodon, uma das poucas espécies de mamíferos venenosas conhecidas que viveu em Atapuerca aproximadamente entre 780.000 anos e 900.000 anos, e que não foi descoberta em outro lugar.

O interesse por esta nova espécie de musaranho descrita, Sorex (Drepanosorex) margaritodon, radica em três aspectos fundamentais, conforme detalha à DiCYT o pesquisador Juan Rofes. O primeiro é que “até agora somente havia sido encontrado em sítios arqueológicos da Europa central, ao leste do Rin, de modo que a descoberta na Sima del Elefante representa não só a primeira na península Ibérica, mas de toda Europa ocidental”.

Por outro lado, Sorex (Drepanosorex) margaritodon “foi encontrado em um dos níveis mais profundos do Pleistoceno Inferior da Serra de Atapuerca, especificamente no sítio arqueológico da Sima del Elefante, onde apareceram os restos mais antigos de hominídeos da Europa, que possuem cerca de 1,2 milhões de anos”.

Isto representa também um importante avanço no âmbito da biocronologia, para a datação dos sítios arqueológicos, em concreto para o período compreendido entre 1,1 e 1,5 milhões de anos. “Pela cronologia dos sítios arqueológicos sabemos que é uma espécie própria somente do Pleistoceno Inferior, isso é, que não chega ao Pleistoceno Médio e, portanto, não transpassa a barreira dos 700.000 anos. Isto representa para nós um bom indicador biocronológico, já que se surgirem restos humanos, líticos ou de macromamíferos nestes mesmos sedimentos, por associação com este animal podemos estimar sua idade”, explica Rofes.

Além de descrever a espécie, no artigo publicado em Paläontologische Zeitschrift os pesquisadores dão um passo mais e indicam a possível origem do Sorex (Drepanosorex) margaritodon, sua evolução e aportam um mapa de distribuição geográfica da espécie, indicando suas relações de parentesco e filogenia com outros musaranhos do mesmo gênero.

Por outro lado, a descrição deste tipo de espécies contribui ao conhecimento da Paleoecología. “Cada uma destas descrições de microfauna é somada para chegar aos artigos de recopilação geral que nos permitem realizar uma reconstrução do ambiente de Atapuerca em que se moviam os hominídeos e todos os animais que conviveram com eles. Estes animais nos fornecem informação, por exemplo, sobre se o ambiente era mais seco ou mais úmido, mais quente ou mais frio, ou se era mais arborizado ou mais aberto”, enfatiza o membro do EIA.

 

A descoberta de Sorex (Drepanosorex) margaritodon soma-se aos outros musaranhos descritos anteriormente pelo EIA nos sítios arqueológicos de Gran Dolina (Dolinasorex glyphodon) e da Sima del Elefante (Beremendia fissidens, Crocidura kornfeldi e Asoriculus gibberodon).

Porque existe uma acumulação de restos de microfauna?

 

A acumulação de restos de microfauna nos sítios arqueológicos tem sua origem na atividade das rapinas noturnas, como as corujas. “Estas rapinas costumam caçar por vários quilômetros ao redor dos sítios arqueológicos e normalmente pousam nas partes altas das cavernas. As rapinas ingerem a carne de suas presas, mas a pele, o pelo e os ossos são regurgitados, formando uma espécie de bola denominada egagrópila. A acumulação durante milhares de anos destas egagrópilas na entrada das cavernas resulta nas grandes acumulações de microvertebrados como morcegos, coelhos, musaranhos, anfíbios ou repteis nos sítios arqueológicos”, precisa o pesquisador.

Referência bibliográfica

 

Rofes, J., & Cuenca-Bescós, G. (2013). First record of Sorex (Drepanosorex) margaritodon (Mammalia, Soricidae) in Western Europe: biostratigraphy, biogeography and evolution of the species. Paläontologische Zeitschrift, 87: 529-541.