Ciencias Sociales España , Salamanca, Jueves, 02 de junio de 2011 a las 13:28

“Espanha deve apoiar os jovens cientistas porque este é um momento crítico”

Prêmio Nobel de Química, Peter Agre afirma em Salamanca que os países devem apostar na Ciência

José Pichel Andrés/DICYT Peter Agre, cientista norte-americano de origem norueguesa, ganhou o Prêmio Nobel de Química em 2003 por descobrir as aquaporinas, proteínas presentes nas membranas celulares responsáveis pelo movimento das moléculas de água no organismo. O pesquisador da Johns Hopkins University de Baltimore (Estados Unidos) também é médico e atualmente se dedica ao combate da malária enfocando o problema de uma maneira global, sem preocupar-se tanto pelos avanços técnicos neste campo, que ainda são insuficientes, como pelos problemas sociais e políticos dos países cujas populações sofrem com esta doença. Peter Agre esteve na Universidade de Salamanca no dia 31 de maio onde deu uma conferência convidado pelo Instituto de Biologia Funcional e Genômica. Momentos antes concedeu uma entrevista à DiCYT, na que refletiu sobre vários aspectos da Ciência atual.

 

Pergunta. Descobrir as aquaporinas lhe valeu um Nobel, mas qual é a função destas proteínas?
Resposta. Possuem uma grande importância por seu papel na regulação dos fluidos no corpo humano em processos tão importantes como a concentração da urina, o fluido espinhal, as lágrimas ou o suor. Inclusive as crianças estudam na escola o processo de osmose e estas proteínas são as encarregadas de controlá-lo em nível biológico.

 

P. Que implicações terapêuticas pode ter essa descoberta?
R. O potencial desta pesquisa está no futuro, porque ainda não foi possível desenvolver medicamentos para controlar as aquaporinas. No entanto, este conhecimento tem uma potencial aplicação em processos como o edema cerebral ou o glaucoma.

 

P. E estão em todos os organismos e formas de vida...
R. Sim, é um gene que a natureza conservou, de maneira que está em todas as formas de vida e tem um papel essencial porque quase todos os organismos somos água em uma alta porcentagem.

 

P. Em alguma ocasião o senhor afirmou que se encontrássemos outras formas de vida fora da Terra estas também teriam estas proteínas.
R. A água é, provavelmente, um componente essencial em todas as formas de vida. Se encontra-se vida em outros planetas, não me surpreenderia encontrar aquaporinas ou formas relacionadas com elas. Eu gostaria de viver este momento, mas ele ainda pertence ao futuro.

 

P. Atualmente seu trabalho centra-se na malária. Tem alguma relação esta doença com o seu estudo das aquaporinas?
R. Na realidade, meu interesse por doenças do Terceiro Mundo como cólera ou malária é anterior a meu trabalho com as aquaporinas, mas estou estudando estas proteínas tanto no parasita como no vetor da doença, o mosquito. Seu estudo pode ser importante para aplicações voltadas à erradicação da malária, de forma que meu interesse era anterior, mas ter encontrado as aquaporinas é uma oportunidade para avançar.

 

P. Que expectativas existem na luta contra esta doença?
R. É um grande desafio. Existe um componente científico, mas o problema é muito complexo e implica a sociedade e os governos que as manejam. Por exemplo, trabalhamos no Zimbábue e em Zâmbia e as perspectivas são muito diferentes. Enquanto em Zâmbia existe uma sociedade estruturada, no Zimbábue o problema é o regime ditatorial, é uma sociedade disfuncional e abordar o problema é mais complexo. Não vejo uma solução a curto-prazo, mas quem sabe nas próximas gerações.

 

P. Do ponto de vista científico, podemos esperar avanços significativos como uma vacina?
R. A vacina seria uma forma eficaz de combater a malária, mas o problema é muito mais complexo. A vacina não estará disponível em um futuro próximo, de forma que, de momento, o mais importante é evitar que o mosquito pique as crianças. As vacinas que foram desenvolvidas até agora não são a resposta ao problema.

 

P. O senhor, quem estudou as duas coisas, o que nos pode dizer sobre a relação existente entre a Química e a Biologia?
R. É curioso porque tive que estudar Química para depois estudar Medicina, mas no ano em me deram o Nobel, o de Medicina foi para um matemático e um químico e os de Química para dois médicos. É engraçado como se dão os prêmios Nobel, mas muitas vezes tem a ver com o objeto de estudo. A Ciência é multidisciplinar, tudo está relacionado.

 

P. Colabora com cientistas espanhóis?
R. Não temos projetos em comum porque eu, neste momento, mais que trabalhar em um âmbito científico, estou dirigindo um projeto de luta contra a malária em seu conjunto. A Espanha deve formar cientistas com o propósito de mantê-los, que não se dispersem pelo mundo. Realmente, a Espanha e qualquer outro país o que tem que fazer é fomentar a curiosidade dos jovens cientistas. Este é um momento muito crítico no que devem comprometer-se para tal e também os Estados Unidos, porque se não o fazemos, deixaremos a ciência nas mãos dos chineses.