Ciencias Sociales Brasil Campinas, São Paulo, Miércoles, 03 de noviembre de 2010 a las 18:21
Economia

Governo brasleiro fez mudanças graduais e incrementais na economia

Segundo socióloga, medida seria uma “sábia conciliação” da agenda liberal do governo anterior

Rafael Evangelista/ComCiência/Labjor/DICYT Criticado por adversários por não ter feito mudanças drásticas na economia e incensado por apoiadores pelas conquistas sociais, o governo atual vem sendo um dos assuntos mais populares nos debates da 34a reunião da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). Na última terça, o tema foi “Processos decisórios, participação e representação política”, em fórum intitulado “Instituições políticas sob o governo Lula”. Nessa aparente contradição do governo estaria um dos segredos para sua alta popularidade, segundo a socióloga Maria Rita Loureiro, da FGV. “O governo Lula não se notabilizou por mudanças drásticas, foram medidas graduais, pontuais, de caráter incremental”, afirma. Teria havido uma “sábia conciliação” da agenda liberal do governo anterior – que persiste por quase dezesseis anos – com uma orientação desenvolvimentista.


Segundo Loureiro, a condução econômica do atual governo lembra a social-democracia de meados do século XX. “A agenda hoje não é mais a da estabilidade, mas da ascensão social”, afirma. O caráter das estratégias para o crescimento econômico teria se transformado, com as políticas sociais servindo de impulso para a economia.


Ironicamente, teria sido um escândalo político o responsável pela mudança na orientação do governo, já que o primeiro mandato se caracterizou pelo conservadorismo econômico. Medidas econômicas de caráter liberal, como o déficit nominal zero, o corte nos gastos e um aprofundamento de reformas na Previdência Social só foram abortadas após a crise do mensalão, que resultou em uma mexida área econômica. A partir daquele momento, as decisões teriam passado a ser tomadas de modo mais colegiado, integrando instituições como o BNDES, o Conselho de Desenvolvimento Social e ministérios como o de Ciência e Tecnologia e da Casa Civil. O lado liberal e conservador foi mantido no Banco Central, que de certa forma ficou insulado e impenetrável às questões da política.

 

Pragmatismo rumo ao centro


Também presente na mesa, o cientista político Fernando Luiz Abrucio, outro da FGV, elegeu da mesma forma a crise política de 2005 como responsável pela mudança de curso do governo, mas em outro departamento: o da coalizão política. Segundo ele, a partir daquele momento foram aprofundados os laços com o PMDB, que serviram para evitar a multiplicação de CPIs que poderiam abalar a estabilidade política: “Dependendo de como se tece alianças no Congresso, tem-se mais ou menos escândalos”, afirma. “Depois do mensalão ficou claro que era preciso ter um Congresso tranquilo”.


A partir de 2006 teria se consolidado um novo perfil do petismo, que já vinha em processo de transformação desde 1998. “Em 2002 a agenda torna-se mais propositiva, afirmativa, em torno de temas como a expansão dos empregos. A campanha negativa, baseada em lacunas do governo anterior é abandonada. Da mesma forma as bandeiras da ética e da moral e o discurso radical contra o status quo fica de lado”, aponta Abrucio. Segundo ele, teria havido um pragmatismo rumo ao centro. Contudo o processo não teria sido linear, mas em zigue-zague e sem ser contraditório com as políticas sociais.


A base política do petismo teria seguido as transformações. Progressivamente vai sendo ocupada por populações mais pobres, com perfil regional mais definido, e vão perdendo peso – porém permanecendo importantes - os trabalhadores sindicalizados e a classe média urbana. A grande questão, para Abrucio, é sobre o futuro: “Como ficarão o PT e o PMDB após Lula?”