Ciencias Sociales España , Burgos, Jueves, 04 de abril de 2013 a las 16:08

Hominídeos do norte da África já atuavam como açougueiros há 1,8 milhões de anos

Encontra-se as primeiras evidencias de uso de ferramentas de pedra para a extração de carne animal na jazida de El-Kherba (Ain Hanech), na Argélia

Cristina G. Pedraz/DICYT Pesquisadores do Centro Nacional de Investigação sobre a Evolução Humana (Cenieh), de Burgos, encontraram as primeiras evidências do uso de ferramentas de pedra para extrair a carne animal dos ossos, do mesmo modo que o fazem os açougueiros atuais, na jazida mais antiga do norte da África, a de El-Kherba (Ain Hanech), na Argélia, há aproximadamente 1,8 milhões de anos. O trabalho foi publicado na revista Journal of human evolution e insere-se em um projeto mais amplo de pesquisa paleontológica, o Ain Hanech Paleoanthropological Project.

 

Mohamed Sahnouni, pesquisador do Cenieh e primeiro autor do artigo, explica a DiCYT que este projeto analisa as primeiras ocupações humanas do norte da África e as adaptações destes hominídeos. A jazida de El-Kherba é “chave” neste sentido, pois conta com uma rica bacia de sedimentos com depósitos que vão do Mioceno médio (há 14 milhões de anos), até o Pleistoceno e o Holoceno (há 11.700 anos).

 

Os pesquisadores do Cenieh, que colaboram na iniciativa com a Universidade Rovira i Virgili de Tarragona e com colegas argelinos, encontraram nesta jazida extraordinários depósitos de fósseis de mamíferos, “fauna de tipo savana africana, composta por elefantes, rinocerontes, bovinos grandes e pequenos, carnívoros, e outra fauna que indica a presença de água”. A equipe científica analisou se existem modificações nestes ossos fósseis causadas por hominídeos, para saber se naquele momento existia um consumo destes animais, e obtiveram resultados interessantes.

 

“Estudamos a composição anatômica destes restos e a composição taxonômica da fauna, e tudo indica que a acumulação destes ossos fósseis foi provocada por hominídeos, que vieram a este lugar no qual havia água para a matéria prima, para manufaturar artefatos líticos com bordas muito eficazes para cortar a carne (feitos de calcário e sílex, como bordas cortadas, poliedros, esferóides, cascalho e vários fragmentos), um lugar com água que atraía também os animais”, afirma Sahnouni.

 

Testes com ossos e utensílios

 

Após observar com microscópio as superfícies destes ossos fósseis, encontraram marcas “claras” de cortes que demonstram a utilização de artefatos líticos para extrair a carne animal, as quais seriam as evidências mais antigas do norte da África. Os pesquisadores também encontraram provas do uso destes artefatos feitos de calcário e sílex para cortar carne, através do estudo microscópico de vestígios deixados sobre as próprias ferramentas, “um fato muito raro, já que até agora não existe nenhuma jazida na qual se tenha evidência de nenhuma das duas partes, tanto dos ossos, quanto dos utensílios, no qual reside a importância deste estudo”, agrega o cientista.

 

Assim, “tudo indica que os hominídeos deste lugar, de cerca de 1,8 milhões de anos, eram capazes de ter acesso à carne animal”. As análises realizadas revelam que estes hominídeos realizavam várias atividades açougueiras como a evisceração, a desmontagem, a extração da carne e a ruptura dos ossos de grandes mamíferos para obter a nutritiva medula.

 

Por outro lado, encontrando estas evidências no norte da África, o artigo publicado conclui “que todo o continente africano é um lugar de adaptação e desenvolvimento do comportamento dos primeiros hominídeos”, e não somente o leste do continente.

 

Além da aquisição de comida e da forma de subsistência destes hominídeos, objeto do artigo publicado, o Ain Hanech Paleoanthropological Project abre outras linhas de pesquisa: a cronologia das primeiras ocupações humanas na parte da África, a reconstrução do paleoambiente desta jazida de alguns milhões de anos, e o estudo da tecnologia lítica que utilizavam estes hominídeos, bem como aspectos de sua inteligência ou adaptação ao meio.

 

Referência bibliográfica

 

Sahnouni, M., Rosell, J., van der Made, J., Vergès, J. M., Ollé, A., Kandi, N., ... & Medig, M. (2013). The first evidence of cut marks and usewear traces from the Plio-Pleistocene locality of El-Kherba (Ain Hanech), Algeria: implications for early hominin subsistence activities circa 1.8 Ma. Journal of human evolution, 64(2), 137-150.