Ciencias Sociales Brasil Campinas, São Paulo, Lunes, 15 de diciembre de 2014 a las 10:57

Mudança do perfil de operários chineses motiva maior número de greves

Paralisações em cadeia dentro da indústria automobilística é considerado um marco na transformação do caráter das mobilizações que se tornaram mais longas e agressivas

Juliana Passos/ComCiência/Labjor/DICYT Os trabalhadores chineses estão realizando greves mais fortes e mais frequentes desde 2010. A análise sobre o crescimento das paralisações e o histórico das lutas é feita no livro China: avanço do capital e revolta na nova fábrica do mundo, lançado no Brasil em outubro pela editora Consequência. Ralf Ruckus, organizador da edição brasileira em conjunto com Tim Bartholl, é um pesquisador independente e membro do coletivo Gongchao que iniciou sua pesquisa na China há dez anos.

 

O primeiro semestre de 2010 com paralisações em cadeia dentro da indústria automobilística é considerado um marco na transformação do caráter das mobilizações que se tornaram mais longas e agressivas. Em passagem pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para o lançamento do livro, ele explicou que parte dessa mudança vem de um novo perfil de operários que já não tem mais interesse em voltar para suas aldeias e o trabalho nas fábricas é, para muitos, a única opção de fonte de renda, embora nem jovens nem seus país desejem mais esse tipo de trabalho. Os veículos de informação noticiam com frequência a falta de mão de obra e as mulheres passam a ser presença mais frequente.

 

O poder das mobilizações acendeu um alerta para o governo chinês e um sindicato oficial passou a atuar internamente nas fábricas. Assim, as pessoas que tomavam a liderança das atividades passaram a ser mapeadas e há uma tentativa de contenção das paralisações. A desconfiança dos trabalhadores em relação ao sindicato oficial é demonstrada em pesquisa realizada, em 2007, pela Universidade de Sun Yat-Sen. Nela, apenas 2% dos trabalhadores migrantes cogitam procurar o sindicato oficial quando há uma disputa trabalhista.

 

A maioria dos trabalhadores das fábricas vem de áreas rurais, enquanto na década de 70 a urbanização do país era de 15%, atualmente se aproxima dos 70%. Os migrantes não tem direito a apartamentos nas áreas urbanas, seja por força da lei, que também impede que seus filhos frequentem as mesmas escolas da população local, quanto pelos valores proibitivos para aluguel ou aquisição de imóveis.

 

A identificação entre migrantes, acusados por muitas reportagens de serem os únicos a promoverem greves, contribuiu para que outras plantas também realizassem paralisações. Em alguns locais, operários em montadoras de automóveis que não gostariam de ser “deixados para trás” por aqueles que estavam nas autopeças – funções vistas como inferiores – também decidiram cruzar os braços por maiores salários, redução da jornada e melhores condições de trabalho.

 

Ao contrário do pensamento comum e de muitos sindicatos de trabalhadores como nos Estados Unidos e Itália, os salários pagos aos trabalhadores chineses não são muito diferentes daqueles pagos para trabalhadores de construção civil no Brasil e outros países em desenvolvimento. A maior diferença, de acordo com Ruckus, é a inexistência de serviços públicos. O acesso à saúde, educação e moradia tem um alto custo.

 

Ruckus compara o momento atual de mobilizações da China com o ocorrido nos anos 1930 nos Estados Unidos. Naquela época os protestos serviram para moldar políticas econômicas keynesianas, legislação trabalhista – algo que está sendo implantado aos poucos no país asiático –, como foi o New Deal. Ainda assim, ele considera cedo para dizer para onde caminha esta onda de mobilizações.