Alimentación España , Salamanca, Martes, 26 de abril de 2011 a las 13:48

Nível do mar Mediterrâneo subia no período glacial quando o Hemisfério Norte se aquecia

Universidade de Salamanca participa em uma pesquisa internacional que refutou a teoria que sustentava o contrário

José Pichel Andrés/DICYT O Grupo de Geociências Oceânica da Universidade de Salamanca participa em um projeto de pesquisa em conjunto com centros da França, Alemanha e Estados Unidos, além de outros cientistas espanhóis, cujo objetivo é o estudo da relação entre mudanças climáticas bruscas e alterações do nível do mar na era glacial. Recentemente, uma publicação deste grupo internacional na revista cientifica Quartenary Science Reviews reafirmou uma teoria muito aceita neste campo. Dentro do período glacial, houve épocas de importantes aquecimentos tanto na Antártida como no Hemisfério Norte, mas que não coincidiam entre si. Até agora se acreditava que o degelo da Antártida fruto deste aquecimento coincidia com o aumento do nível do mar Mediterrâneo, mas esta pesquisa demonstra que, ao contrário, este aumento está sincronizado com o degelo no Norte.

 

“Cerca de 30.000 a 60.000 anos atrás, houve aquecimentos importantes tanto na Antártida como no Hemisfério Norte, onde existiam grandes massas de gelo, mas estes não foram sincronizados. Muito pelo contrário, os aquecimentos da Antártida relacionam-se com resfriamentos no Norte e vice-versa”, explica Francisco Javier Sierro, pesquisador da Universidade de Salamanca em declarações à DiCYT.

 

Este fenômeno ocorreu em ao menos quatro ocasiões neste período, com uma diferença de 2.000 anos desde que o degelo aconteceu na Antártida até que surtisse efeitos no outro lado do planeta. Os cientistas também registraram quatro grandes aumentos do nível do mar, sem saber quando haviam ocorrido, ainda que a teoria mais aceita os fizesse coincidir com o aumento de temperaturas no Sul, onde a massa de gelo era muito superior.

 

Golfo de León

 

Os pesquisadores decidiram que o melhor lugar para estudar este assunto é o Golfo de León, onde estas oscilações no nível do mar provocaram retrocessos e avanços da linha da costa de 30 a 40 quilômetros em poucos centenários, já que se trata de um terreno muito plano. Uma exploração realizada em um ponto que atualmente encontra-se a 300 metros de profundidade frente à costa francesa foi chave. Datações pelo método do carbono 14 em restos de plâncton marinho da época permitiram comprovar que a temperatura da água subia ao mesmo tempo em que ocorria o degelo na Groelândia, onde já se haviam realizado explorações no gelo.

 

A contribuição deste grupo de Salamanca foi chave devido ao fato de que também são especialistas em foraminíferos, microscópicos animais pertencentes ao zooplâncton. “No período em que diminui o nível do mar e a linha de costa retrocede, detectamos espécies polares de plâncton que hoje vivem somente na Groelândia e que eram substituídas por espécies de clima temperado e subtropical com o aumento da temperatura e do nível do mar”, aponta Sierro. A presença destes foraminíferos fósseis indica, portanto, uma época fria e de níveis baixos do mar.

 

A exploração permitiu estudar-se este aspecto, já que a zona estava exposta aos sedimentos arrastados pelo rio Ródano no período em que o mar estava baixo, enquanto que no período contrário, aumentavam-se os depósitos de plâncton fóssil.

 

Correntes oceânicas que são chave

 

Os aumentos no nível do mar estão relacionados necessariamente com o degelo de alguma das grandes massas de gelo do planeta, mais ainda levando em consideração que há 20.000 anos as reservas de gelo do planeta eram o triplo das atuais, mas, por que ocorria o degelo? As correntes oceânicas têm a resposta. Ainda hoje, a chamada corrente do Golfo, porque chega do Golfo do México, faz com a que a Europa tenha temperaturas mais altas que outras zonas de mesma latitude. Se a água é densa (por temperatura e salinidade) se funde e faz com que outra massa de água ocupe o seu lugar, ativando assim essas correntes.

 

Isso pode ter implicações com o aquecimento global atual que provoca o derretimento do gelo da Groelândia. Ao ser água doce, diminui a densidade da água do mar, de maneira que não se funde e se evita que massas de água quente a substituam. Uma teoria sustenta que isso pode provocar o resfriamento da Europa, ao ser detida a corrente do Golfo. No entanto, a opinião mais aceita é a de que “este fenômeno diminuiria muito pouco a temperatura e não chegaria a compensar o aquecimento produzido devido ao aumento de CO2 na atmosfera”, indica Sierro.