Alimentación España , León, Jueves, 09 de septiembre de 2010 a las 18:57

Pesquisa de geólogo do IGME de León analisa insólito arrecife fóssil jurássico

Há poucos exemplos semelhantes e sua análise permitirá aprofundar o conhecimento geológico e sua aplicação na prospecção de hidrocarbonetos

Antonio Martín/DICYT É difícil imaginá-lo, mas ante à montanha de Dejbel Bou Dahar, paisagem pedregosa semi-desértica onde só cresce erva de camelo, se eleva um arrecife. Não se trata de uma miragem surgida no coração do deserto marroquino, em plena cordilheira do Alto Atlas, e sim de uma formação geológica de grande interesse científico. Foram contados arrecifes fósseis do Jurássico Inferior no planeta e até ali deslocou-se uma equipe de cientistas internacional, entre eles, um pesquisador que trabalha desde 2007 no Instituto Geológico e Mineiro da Espanha (IGME) em León, para estudá-los. Os especialistas estão trabalhando na reconstrução de um modelo tridimensional do afloramento, o que permitirá conhecer mais profundamente estas formações e que pode ser útil à indústria petroleira para planejar melhor suas extrações de hidrocarbonetos.

 

A linha de pesquisa teve início em 2005, lembra Óscar Merino, geólogo do IGME, e está centrada no estudo e reconstrução tridimensional do arrecife. Esta pesquisa científica foi financiada por duas grandes companhias petroleiras, a holandesa Shell e a norte-americana Chevron ETC, e foi realizada por um grupo integrado por especialistas de universidades européias e norte-americanas: Amsterdam (Países Baixos), Cardiff (Reino Unido), Potsdam (Alemanha), Tejas e Miami (Estados Unidos). “Os pesquisadores estão na fase final de elaboração”, lembra Merino, quem possui um papel importante no trabalho, “e a publicação de resultados científicos ainda continua”.

 

A montanha de Dejebel Bou Dahar, com sua forma de trapézio de quase 35 Km de longitude, até 10 de largura e 500m de altura, se eleva sobre as planícies circundantes pelas que há alguns poucos anos passava uma etapa do Rally Dakar. O arrecife coroava a parte superior de suas ladeiras que, no Jurássico Inferior, formavam os declives ou taludes submarinos de uma ilha larga similar aos atuais atóis da Polinésia. O lagoon (lagoa, em português) que corresponde hoje ao extenso planalto que forma o alto da montanha, estaria coberto por águas superficiais de cor turquesa. Nas margens da montanha, onde se precipitam suas ladeiras, se encontram restos de colônias de corais escleractíneos, esponjas e grandes bivalves fossilizados que habitavam o arrecife. “Este tipo de formações são excepcionais no Jurássico Inferior (há entre 199 e 175 milhões de anos), uma vez que somente foram descritos no Jurássico Médio e Superior (há 175 e 145 milhões de anos).

 

Esta pesquisa se encontra entre um grupo de trabalhos pioneiros no desenvolvimento de uma nova metodologia para o estudo de afloramentos rochosos desenhada por cientistas da Universidade de Tejas em 2005. Recebe o nome digital outcrop modelling. A metodologia, explica o pesquisador do Instituto Geológico e Mineiro da Espanha, combina os estudos geológicos de campo convencionais com sistemas de laser denominados lidar e GPS de alta resolução para obtenção de informação geológica em três dimensões. Esta informação é posteriormente processada com aplicações informáticas (Petrel e Gocad) desenhadas para a análise de dados geológicos do subsolo usados para a exploração de recursos. Nesta fase colaboram especialistas das petroleiras. “O desenvolvimento e implementação desta nova metodologia significa por si só um resultado valioso desta pesquisa”, diz Merino, natural de Bolaños de Campos (Valladolid).

 

As petroleiras costumam financiar pesquisas deste tipo já que parte dos resultados científicos obtidos são aplicáveis para a correta gestão e exploração de seus campos de gás e de petróleo e para a exploração e prospecção de novas jazidas. Em linhas gerais, o gás e o petróleo se encontram armazenados em formações geológicas porosas do subsolo (semelhantes aos aqüíferos, mas contêm em seus poros hidrocarbonetos ao invés de água) situadas a vários quilômetros de profundidade.

 

Conhecimentos detalhados

 

Quase metade das jazidas de hidrocarbonetos conhecidas se encontram em formações calcárias, muitas das quais correspondem à arrecifes fósseis. Para sua correta exploração é necessário que se conheça detalhadamente sua estrutura geológica e composição. No entanto, devido às grandes dificuldades e aos elevados custos envolvidos na extração de amostras rochosas a vários quilômetros de profundidade, o número de dados diretos com os que contam os geólogos e engenheiro para conhecer as jazidas é sempre muito limitado. Devido a este fato, é comum o uso de informação geológica obtida em formações rochosas que afloram na superfície com características similares. Por isso, os modelos tridimensionais realizados no deserto marroquino possuem grande valor para a indústria petroleira, já que são potencialmente aplicáveis à prospecção de hidrocarbonetos em arrecifes fósseis de características semelhantes. Várias publicações científicas, em revistas de alto impacto, reúnem os resultados desta equipe internacional.

 

Principais resultados

 

Os pesquisadores publicaram durante o ano de 2009 no Journal of Sedimentary Research um estudo detalhado da margem do arrecife e seu desnível submarino, partindo do lugar em que no Jurássico rompiam-se as ondas até as zonas de bacia profunda que o rodeavam. Uma recriação em três dimensões mostra como estava formado o arrecife: com uma zona muito superficial chamada em inglês lagoon (lagoa), “reconhecível nos atuais arrecifes por sua água azul turquesa”, a parte de trás do arrecife e, na direção posta, uma ladeira submarina que conectava a estrutura com águas profundas, na qual se acumulavam os fragmentos de corais e esponjas removidos pelas ondas e tormentas. O trabalho caracteriza as rochas que se encontram nesta estrutura fóssil, determina as profundidades em que viviam os corais e vários tipos de esponjas que formavam as comunidades de arrecifes, as inclinações do fundo marinho e a distribuição no espaço dos sedimentos carbonosos que se formavam. Ademais, nesta pesquisa se reconstrói também a evolução do sistema desde seu nascimento.

 

Outro trabalho, publicado em 2009 em Sedimentology, descreve com detalhes como era a zona de trânsito entre o arrecife e o lagoon e mostra também reconstruções em 3D da distribuição dos distintos tipos de sedimento que nela se formavam. Entre as conclusões de um terceiro artigo que será publicado em breve em Sedimentology, indica-se que a morte do arrecife se deve em parte a mudanças nos oceanos e a um rápido aquecimento do clima (aumento das temperaturas), que ocorreu há 183 milhões de anos.