Alimentación Portugal , Coimbra, Jueves, 14 de mayo de 2015 a las 16:57
INESPO II

Projeto internacional explorará o funcionamento do Cerrado brasileiro

Apesar da importância ecológica deste, bioma ainda se sabe muito pouco sobre o seu funcionamento. Investigadores do Brasil, Espanha, Portugal e França também vão investigar como será afetado pelas mudanças climáticas

Cristina G. Pedraz/DICYT O Cerrado é a maior savana neotropical do mundo e fica quase inteiramente dentro do Brasil. Cobre 24% do país (cerca de 2 milhões de quilómetros quadrados, ou seja, quase quatro vezes a área da Península Ibérica) e entre todas as savanas é a que abrange a maior biodiversidade. Devido a esta importante extensão e a sua biodiversidade, o Cerrado é chave na manutenção de importantes serviços ecossistémicos relacionados com a energia, a captura de carbono e a ciclagem de nutrientes, tanto a nível regional como global.

 

Apesar desta importância ecológica, sabe-se ainda muito pouco sobre o seu funcionamento. Para aprofundar o conhecimento deste bioma e saber quais os fatores que controlam este funcionamento, os investigadores de quatro países (Brasil, Espanha, Portugal e França) desenvolverão o projeto CONCERN (acrónimo em inglês de Present and future functioning of CarbOn-and Nitrogen-related proCesses and dispErsal processes in the BRazilian savaNna), a partir de meados deste ano.

 

Segundo Jorge Durán, investigador do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra (Portugal), uma das entidades parceiras do projeto, o Cerrado brasileiro “foi surpreendentemente ignorado pelas autoridades locais e da comunidade internacional”. Apenas 2 % da sua área está sob algum tipo de proteção, embora seja um dos biomas mais ameaçados do planeta, com mais de 50 % da sua área original já alterada, de acordo com a literatura científica.

 

“Os incêndios e a intensificação da agricultura e pecuária são os inimigos tradicionais do Cerrado, mas nos últimos anos uma nova ameaça potencial surgiu sobre todos eles, a mudança do clima. Os modelos climáticos preveem, além do conhecido aumento de temperatura, umas mudanças drásticas na distribuição das chuvas no Cerrado. Especificamente, espera-se uma diminuição no número de dias chuvosos, uma extensão da estação seca e um aumento de eventos de chuvas torrenciais ou aguaceiros”, explica o investigador.

 

Estas mudanças no clima também podem afetar o funcionamento do Cerrado e, nomeadamente, os ciclos de carbono e nitrogénio, dois nutrientes essenciais para o funcionamento de qualquer ecossistema. Alguns estudos antecipam efeitos sobre a saúde da vegetação e outros pressagiam taxas de extinção de espécies entre 39 e 48 %, segundo os cenários climáticos.

 

Efeitos sobre o ciclo do carbono

 

Os efeitos das mudanças climáticas sobre o ciclo do carbono também são de uma grande importância, já que deste depende que os ecossistemas trabalhem como fontes ou sumidouros de CO2 atmosférico, a principal causa do efeito de estufa. Neste sentido, a maior duração da estação seca, juntamente com o aumento das chuvas torrenciais, “poderia ocasionar que esses ecossistemas passassem de ser um sumidouro de carbono para uma fonte líquida, o que retroalimentaria a mudança do clima”.

 

Algo semelhante poderia acontecer com outros gases de efeito de estufa, como o metano e o óxido nitroso, cujas emissões do solo para a atmosfera poderiam aumentar devido às mudanças esperadas no clima. “O que é realmente notável é que, dada a extensão do Cerrado, qualquer alteração neste ecossistema vai ter um efeito sobre os ciclos biogeoquímicos globais e sobre o clima do planeta”, anota Durán.

 

Consequentemente, o projeto CONCERN também visa prognosticar como o Cerrado vai responder a cenários realistas de mudanças no regime de precipitações e, especificamente, como isso comprometerá os distintos processos ecossistémicos relacionados com o armazenamento e ciclagem de nitrogénio e carbono. Finalmente, os investigadores tentarão entender se a diversidade vegetal e do solo (invertebrados e microrganismos) outorgará alguma resistência à mudança climática.

 

Metodologia de trabalho

 

O estudo será realizado na Floresta Nacional de Paraopeba, localizada no estado brasileiro de Minas Gerais. A equipa instalará parcelas de 20 metros quadrados ao longo da reserva e dividi-las-á em duas partes. Uma metade ficará como controlo enquanto a outra será submetida a tratamentos de alteração das precipitações, de modo a tentar simular as previsões dos modelos climáticos para as próximas décadas, ou seja, um aumento de um mês na duração da estação seca além de chuvas mais fortes durante a estação chuvosa.

 

Para isso, no final da estação seca, e com a ajuda de trabalhadores locais, serão instaladas nas subparcelas que correspondam umas estruturas para a supressão da chuva feitas de madeira e calhas de plástico transparente penduradas a um metro do chão. As tiras de plástico impedirão que grande parte da chuva chegue ao chão dessas parcelas durante o primeiro mês da estação chuvosa, e canalizarão a água em reservatórios. Passado esse mês, as estruturas serão removidas para depois simular vários episódios de chuva forte, simulando os típicos valores médios de uma trovoada na região.

 

Nestas parcelas, desde junho de 2015 e durante dois anos, pegarão amostras do terreno em intervalos de tempo regulares para calcular uma série de variáveis e processos relativos à ciclagem de nitrogénio e carbono no solo. Além disso, avaliarão a diversidade taxonómica e funcional das plantas e dos invertebrados e microrganismos na camada de solo, e calcularão a emissão de gases de efeito de estufa do solo.

 

Funções de cada parceiro

 

O Laboratório de Ecologia e Evolução de Plantas da Universidade Federal de Viçosa (Brasil) será o responsável pela gestão administrativa do projeto, a seleção de parcelas, a coordenação da construção das instalações e a avaliação da diversidade taxonómica de plantas. Por seu lado, o Laboratório de Ecologia e Mudanças Globais (‘Laboratorio de Ecología y Cambio Global’) do Museu Nacional de Ciências Naturais do CSIC (Espanha) vai focar-se na estimação de reservas e processos do ciclo de nitrogénio e carbono no solo, o balanço das emissões de gases com efeito de estufa e o cálculo de diversidade vegetal taxonómica e funcional. Ao mesmo tempo, o Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra (Portugal) trabalhará na avaliação de reservas e processos relacionados com ciclo do nitrogénio e carbono no solo, estimará as emissões de gases de efeito de estufa e a diversidade taxonómica e funcional de microrganismos e invertebrados do solo. Finalmente, a Universidade Paris Sud (França) também será responsável pelo cálculo da diversidade vegetal taxonómica e funcional.

 

A ideia é que todos os membros europeus façam um estágio curto no Brasil no início do projeto para treinar os membros brasileiros da equipa nas técnicas precisas para concretizar o projeto. Após esta instrução, serão os cientistas locais, quem se encarreguem da execução dessas tarefas, sob a supervisão de grupos parceiros europeus. Atualmente, a equipa arranjou dois contratos de pós-doutoramento associados ao projeto, de modo que, após o processo de seleção de candidatos, dois doutores mais vão se unir ao grupo de trabalho.

 

 

 

Dados:
Nome do projeto: Present and future functioning of CarbOn- and Nitrogen-related proCesses and dispErsal processes in the BRazilian savaNna (CONCERN)
Convocatória: MCTI/CNPQ/Universal (Faixa C)
Código projeto: 446698/2014-8
Duração: dois anos, ampliáveis
Financiamento: CNPq brasileira
Entidades parceiras: Laboratório de Ecologia e Evolução de Plantas da Universidade Federal de Viçosa, Brasil (João Meira Neto, Luiz Magnago e Markus Gastauer)
Laboratorio de Ecología y Cambio Global, Museo Nacional de Ciencias Naturales – CSIC, Espanha (Alexandra Rodríguez, Fernando Valladares, Ana Rey e Jorge Curiel).
Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, Portugal (Jorge Durán, Helena Freitas, Susana Rodríguez e José Paulo Sosa)
Université Paris Sud, França (Elena Granda)