Alimentación México , Distrito Federal, Miércoles, 20 de octubre de 2010 a las 13:46

São desenvolvidos protocolos para conservar frutas e hortaliças com raios gama

Técnica permite prolongar a vida em prateleira e evitar o uso de produtos químicos

UNAM/DICYT Há poucos anos, a radiação eletromagnética começou a ser usada como tecnologia na imunização e esterilização de materiais e superfícies. Desde instrumentos cirúrgicos e manipulação de polímeros, até alimentos. No México, pesquisadores como Andrea Trejo Márquez, acadêmica da Faculdade de Estudos Superiores (FES) Cuautitlán da UNAM, desenvolvem protocolos para irradiar frutas e hortaliças para conservá-las e desinfetá-las.

 

Os raios gama formam um dos diversos tipos de radiação existentes e são capazes de penetrar a matéria com maior profundidade que os alfa e beta; vêm do isótopo Cobalto-60, obtido a partir do bombardeio de nêutrons ao Cobalto-59.

 

Trata-se de ondas eletromagnéticas curtas e com grande poder de introdução, que faz possível a irradiação do produto, empacotado ou congelado. São introduzidos de maneira completa e uniforme, e uma pequena quantidade de energia pode alcançar o objetivo, sem necessidade de uma lenta penetração térmica.

 

Segundo Trejo Márquez, a quantidade de energia irradiada que um alimento recebe é medida em grays (Gy), unidade equivalente a um joule (unidade de energia) absorvido por um quilo; a variação habitual para a irradiação destes produtos está entre os 50 e 10 mil Gy, conforme cada caso e efeito buscado.

 

Existem três categorias de uso segundo a intensidade da irradiação: em doses baixas, menores que um quilo Gy, se inibe o brotamento em bulbos e tubérculos, se desparasita as carnes, se desinfeta produtos vegetais e se atrasa o amadurecimento; em doses médias, de um a 10 quilos Gy, são destruídos microorganismos e melhoradas as propriedades tecnológicas dos alimentos; em doses altas, maiores que 10 quilos Gy, é possível esterilizar-se e eliminar-se vírus.

 

Destruição de microorganismo sem ‘químicos’

 

Se o brotamento de bactérias em tubérculos e bulbos como batatas, cebolas e alhos é inibido, a irradiação evita o uso de agentes químicos e, ao atrasar o amadurecimento, aumenta a vida em prateleira dos alimentos; também é possível desinfetar com doses baixas que causam a morte ou esterilidade de insetos, explicou.

 

Se são controladas as condições ambientais e se realiza uma boa seleção do estado fisiológico do produto, as mudanças nos vegetais podem ser reduzidas a níveis não-detectáveis. Para tal, é necessário que se normatize o tema, mas poucos países na América Latina contam com a normatização, advertiu a universitária.

 

Em 2006, México e Estados Unidos assinaram um acordo para usar a irradiação como tratamento pós-colheita em frutas e vegetais para exportação, contando com a aprovação da Organização Mundial de Saúde (OMS), da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), e da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA).

 

No mundo, são consumidos ao ano cerca de 50.000 toneladas de alimentos irradiados e 63 países já aprovaram o uso desta tecnologia; foram realizados estudos de toxicidade nas doses regulamentadas e em nenhum produto foi detectado risco para a saúde.

 

No país, atualmente foram irradiados para exportação à União Européia, goiabas de Aguascalientes e distintas variedade de manga de Guerrero; o consumo do último, fresco e sem pesticidas, está no auge porque é rico em vitaminas A e C, minerais, fibras e antioxidantes, baixo em calorias, gorduras e sódio, comentou Trejo.

 

A pimenta manzano está na lista de produtos permitidos por Sagarpa e Estados Unidos para exportação, mas não conta com um protocolo de irradiação, por isso Trejo, além de participar na elaboração dos protocolos para a manga, desenvolve os correspondentes ao mamão e à pimenta manzano.

 

Irradiação de mangas

 

No México, existem variedades de manga como a Manila, Haden, Ataulfo, Tommy Atkins, Kent, Criollo, Keitt, Manililla e Paraíso, também conhecido como ‘petacón’. Sua produção nacional ocupa o terceiro lugar, depois da laranja e da banana.

 

No entanto, enfrenta problemas de qualidade, manejo pós-colheita, doenças e pragas, e para que sejam exportados são submetidos a um tratamento hidrotérmico para o controle de pragas; também se admite o processo por vapor quente e, recentemente, a irradiação foi adicionada à lista de técnicas permitidas.

 

Trejo tem dedicado-se ao estudo deste procedimento nestas frutas, principalmente de suas variedades Ataulfo, Manila e Haden para exportação; suas amostras em estado pré-climatério (verde) procedem de Guerrero, nas quais utilizaram-se três diferentes doses de irradiação: 150, 575 e mil Gy.

 

Para otimizar os parâmetros foram avaliadas variáveis fisiológicas (respiração), de qualidade (sólidos solúveis, pH, acidez, firmeza e cor), nutricionais (vitaminas), bioquímicas (enzima peroxidase e polifenoloxidase) e sensoriais (teste de atributos e preferência).

 

A universitária encontrou que a faixa entre 150 a mil Gy a técnica é viável como tratamento de controle fitossanitário, sem afetar a qualidade das mangas; além disso, afirmou, deve-se observar o estado de amadurecimento para irradiar no momento adequado e obter melhor resposta sem alteração das características de qualidade.

 

As primeiras mangas irradiadas para exportação, que saíram do país há um ano, foram trabalhadas no Laboratório de Pós-colheita de Produtos Vegetais, sob supervisão de Trejo, no Centro de Assimilação Tecnológica (CAT) da FES Cuautitlán. O processo é realizado no Instituto de Ciências Nucleares da UNAM, em colaboração com Epifanio Cruz, e em Sterigenics, empresa localizada em Tepeji del Río.

 

A irradiação não exclui as boas práticas agrícolas no campo, a salubridade no manejo e uma adequada cadeia de frio na etapa de comercialização, porque depois do tratamento, o produto pode novamente infectar-se.

 

As principais vantagens desta tecnologias consistem em que, até um quilo Gy, não existem riscos toxicológicos e, além da desinfecção, existe o benefício de prolongar-se a vida em prateleira, diminuir-se os sintomas de doenças como a antracnose, tudo isso sem afetar qualidades nutricionais e sensoriais dos produtos.

 

Sua única desvantagem, ponderou Trejo, é o desconhecimento por parte de produtores, comerciantes e consumidores, assim como a variação no efeito da radiação, de acordo com as características de cada produto, apesar de que esta última pode ser resolvida com estudos que determinem os protocolos adequados para cada um deles.

 

Os raios gama podem ser aproveitados como alternativa contra doenças como a antracnose, que afeta o mamão; também foi documentado que controla a mosca-das-frutas, sem danificar a produção.

 

Outros métodos, como o hidrotérmico, podem afetar o produto; os químicos são rejeitados por grande parte dos consumidores e seus resíduos podem gerar complicações. De acordo com Trejo, por mal manejo, pragas ou desordens fisiológicas, têm-se perdas de até 45% nas colheitas.

 

Sem os protocolos adequados podem ocorrer queimaduras externas, danos em lipídeos, amadurecimento anormal ou sabores desagradáveis; no caso da pimenta, pode perder seu ardor, inclusive; por isso, são necessárias pesquisas para cada produto, e este é o dever da Universidade, concluiu a pesquisadora.