Salud Brasil Campinas, São Paulo, Martes, 25 de marzo de 2014 a las 08:58

Síndrome do pânico afasta pacientes de exercícios físicos

O receio de intensificar sintomas como falta de ar e taquicardia leva essas pessoas ao sedentarismo e pior performance cardiopulmonar

Gabrielle Adabo/ComCiência/Labjor/DICYT - Tontura, dificuldade de respirar, aceleração dos batimentos cardíacos, suor excessivo e sentimento de morte iminente. Esses são alguns dos principais sintomas da síndrome do pânico. O corpo de quem apresenta o transtorno interpreta de maneira errônea as sensações e entende algumas delas como perigo (sinais de ansiedade podem ser tomados como os de um ataque cardíaco, por exemplo), o que pode fazer com que a pessoa passe a fugir de situações, atividades ou mesmo lugares que desencadeiem a crise. Um estudo, desenvolvido pelos pesquisadores Ricardo Muotri e Márcio Bernik, do Instituto de Psiquiatria e Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), concluiu que quem tem o transtorno tende a evitar exercícios físicos e apresenta pior performance cardiopulmonar. Esse comportamento resulta em sedentarismo que, por sua vez, aumenta o risco dessas pessoas desenvolverem doenças cardíacas.

 

Os resultados do estudo foram divulgados em artigo publicado na edição 36 da Revista Brasileira de Psiquiatria. O experimento foi realizado com um grupo de sessenta pessoas: trinta delas com o transtorno do pânico e outras trinta sem nenhuma desordem psiquiátrica. No grupo das pessoas com a síndrome, 14 delas foram diagnosticadas com o chamado transtorno do pânico de subtipo respiratório, no qual a falta de ar e o aumento do esforço para respirar são os principais sintomas durante as crises. O perfil geral da amostragem era de adultos, com idade média de 34 anos, sendo quarenta mulheres (vinte em cada grupo) e todos os sessenta sedentários.

 

Os pesquisadores avaliaram a capacidade cardiovascular dos dois grupos com base em um teste de esforço cardiopulmonar realizado em uma esteira ergométrica, com velocidade e declive variáveis. Também foram aplicados questionários para determinar o subtipo de transtorno de pânico: com base na identificação das sensações corporais; para medir a severidade dos sintomas de pânico; medir o risco cardiovascular; avaliar a qualidade de vida; e para identificar e analisar em uma escala os fatores que impedem os participantes de se engajarem em uma atividade física. As questões deste último tinham como objetivo quantificar o medo de atividades físicas, detectar o ato de evitá-las e apontar o receio dos portadores de síndrome do pânico para as sensações e as consequências, como dificuldades para respirar e taquicardia que os exercícios provocam.

 

As respostas aos questionários indicaram que o grupo dos portadores do transtorno do pânico, tanto os com o subtipo respiratório quanto os demais, evitam exercícios físicos e temem as atividades em uma escala maior do que o outro grupo. Todos os pacientes com pânico voluntariamente interromperam o exercício cardiopulmonar em uma frequência cardíaca abaixo da máxima, enquanto que todos os do grupo dos que não têm a síndrome completaram o teste atingindo a frequência cardíaca máxima.

 

Os resultados do teste com o exercício confirmaram a premissa dos autores de que os pacientes com transtorno do pânico apresentam baixo nível de condicionamento físico. A principal diferença entre os grupos foi o VO2max, índice que mede o volume máximo de oxigênio que o corpo é capaz de transportar e utilizar durante uma atividade física, mais alto no grupo que não apresenta o transtorno. O grupo dos que têm síndrome do pânico atingiu a meta de frequência cardíaca e o limiar ventilatório mais cedo e apresentou menor consumo de oxigênio, além de maior esforço para realizar a atividade.

 

Apesar de não encontrarem diferenças significativas nos testes entre os pacientes com síndrome do pânico com o subtipo respiratório e os demais dentro do grupo que apresenta o transtorno, o estudo concluiu também que os primeiros sentem os sintomas do pânico de forma muito mais severa.