Tecnologia 3D para documentar jazidas de 2.000 anos de idade

Cristina G. Pedraz/DICYT O Grupo de Pesquisa MoBiVAP (Modelização, Biomecânica e Visualização Avançada) da Universidade de Valladolid trabalha em uma linha de pesquisa dedicada à documentação de vestígios arqueológicos através de varredura a laser 3D. Nos últimos anos trabalharam em diversas jazidas de Castela e Leão, apesar de que uma das zonas nas que mais concentraram esforços é a de Clunia Sulpicia, uma colônia romana fundada no século I antes de Cristo e localizada ao sul da província de Burgos, entre as localidades de Coruña del Conde e Peñalba del Castro.

Os membros do MoBiVAP, localizado no Parque Científico Universidade de Valladolid, realizaram o levantamento de algumas partes de Clunia através de varredura a laser, uma ferramenta “com grande potencial em relação à recriação virtual de cenários como este de 2.000 anos de antiguidade”, explicou a DiCYT o matemático e pesquisador do grupo Javier Finat.

Com respeito ao funcionamento desta tecnologia, o especialista aponta que um mecanismo de varredura captura o reflexo dos sinais emitidos que chocam contra o objeto, sem produzir-lhe nenhum dano. Com essa informação é obtida uma nuvem de pontos em tons de cinza ou colorida, a partir da qual podem gerar modelos, realizar superposição de fotografias de alta resolução, croquis ou gravações antigas. Como assinala Finat, a principal vantagem destes dispositivos é que “tem um alcance superior a 1.000 metros em alguns casos, de maneira que é possível escanear bairros inteiros”. Adicionalmente, com os de precisão podem ser realizados “estudos de detalhe que podem alcançar a centésima parte do milímetro”. No caso da jazida Roma de Clunia, o trabalho realizado em poucos dias somente teria sido possível realizar-se em um ano caso dispositivos como estes não fosse utilizados.

Deterioração avançada

Como indicam os pesquisadores, devido ao avançado estado de deterioração e ao saqueio que sofreu a colônia uma detalhada documentação é necessária, algo “que permita consolidar e documentar o que atualmente existe vislumbrando possíveis intervenções ou a uma navegação virtual de tipo interativo”. Uma das atuações desenvolvidas na jazida romana consiste na geração de modelos baseados em nuvens de pontos de alta resolução correspondentes ao Teatro Romano e à Casa Taracena. Neste caso, fusionou-se a informação procedente do laser 3D com fotografias de alta resolução, tanto terrestres como aéreas.

Por outro lado, realizou-se o escaneamento da escavação do palco do teatro para documentar as peças que foram retiradas, assim como várias catas da parte superior da cavea ou escadas do teatro. Do mesmo modo, escanearam-se em alta resolução peças como vasilhas de terra sigillata, um tipo de cerâmica vermelha brilhante característica do período histórico romano. Neste sentido, o modelado “permite melhorar a visualização interativa das incisões realizadas na cerâmica e gerar modelos virtuais que completem o atual estado das peças”, destacam os pesquisadores.

Escaneamento a laser para a leitura de inscrições

A aplicação do scanner laser para facilitar a leitura de inscrições foi objeto, ademais, de um estudo experimental na zona. Nas escavações realizadas atrás da parede do palco do teatro encontrou-se um cômodo sob o solo que provavelmente corresponde a um espaço onde os animais utilizados em certos espetáculos eram mantidos.

Em uma parede que atravessa a rampa de acesso ao cômodo, detalham os especialistas, podem ser vistas algumas inscrições “pouco legíveis”, feitas “com algum objeto pontiagudo na superfície do gesso que reveste as pedras”.

As inscrições estão parcialmente marcadas pelo material que reveste o cômodo e, devido à fragilidade do revestimento, “sua limpeza se torna muito arriscada”, adverte a equipe técnica. Através do escaneamento, “pretende-se explorar a possibilidade de realçar os relevos através de operações geométricas e assim facilitar sua interpretação”.