Cultura Brasil Campinas, Brasil, Lunes, 16 de septiembre de 2013 a las 12:20

Unidades de Conservação de proteção integral tem IDH alto, mas distribuição de riqueza ruim

Uma das possíveis explicações para a relação encontrada, de acordo com o artigo, é que as áreas protegidas frequentemente são estabelecidas em áreas remotas com altas taxas de pobreza.

Cintia Cavalcanti/ComCiência/Labjor/DICYT - No cerrado brasileiro, municípios que possuem áreas de proteção ambiental de uso sustentável, que permitem o uso direto de seus recursos por populações locais, possuem Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) significativamente inferiores aos municípios que possuem áreas destinadas à proteção integral, que permitem apenas o uso indireto dos recursos naturais. Esse é o resultado de uma pesquisa elaborada por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ecologia Aplicada, da Universidade de São Paulo, que analisou mais de mil municípios dentro do bioma.

 

Para Rodrigo de Jesus Silva, biólogo e co-autor do artigo “Pressupostos de Conservação e Desenvolvimento no Cerrado Brasileiro”, embora uma das conclusões do estudo seja a de que a existência de Unidades de Conservação (UC) de proteção integral esteja relacionada a um melhor desenvolvimento social local, essa é uma relação mascarada, pois não reflete a distribuição de renda dentro dos municípios.

 

“Os municípios com UCs de proteção integral realmente apresentam maior IDH que aqueles com UCs de uso sustentável, mas essa renda está concentrada nas mãos de poucos, como mostra o Índice de Gini, que traduz esse fenômeno”, explica ele.

 

Segundo Silva, apesar de utilizar uma amostra grande, o estudo apresenta limitações históricas e de escala, uma vez que os dados foram extrapolados para todo o bioma e não há disponibilidade de dados referentes à situação socioeconômica dos municípios na época da criação das UCs. “A base de dados mais segura, que é a do IBGE, vai até 1991 e a criação das unidades em grande parte é anterior a essa data”, coloca.

 

Uma das possíveis explicações para a relação encontrada, de acordo com o artigo, é que as áreas protegidas frequentemente são estabelecidas em áreas remotas com altas taxas de pobreza. No caso específico do estudo, foi possível observar um padrão de áreas protegidas de uso direto estabelecidas em regiões com taxas de pobreza maiores que aquelas de uso indireto. Além disso, outra descoberta foi a de que, em geral, áreas de proteção integral no bioma do cerrado brasileiro foram criadas em áreas com melhores condições sociais – menos pobres – quando comparadas à municípios sem áreas protegidas.

 

Silva explica que a criação de áreas protegidas têm sido tratada a partir de duas perspectivas opostas. A primeira, preservacionista, prioriza a conservação dos recursos naturais livre da interferência humana, por meio do estabelecimento de áreas de proteção integral. A segunda dá prioridade às pessoas que vivem dentro ou no entorno dessas áreas, enfatizando à possibilidade de uso dos recursos naturais pelas comunidades locais. “Nas unidades de conservação que conheço ainda não foram criadas condições suficientes para que haja a manutenção de ambos os fatores, biodiversidade e condições socioeconômicas para a população local”, critica o biólogo.

 

Já para Maria Elisa Garavello, antropóloga e co-autora do artigo, tudo depende da forma com que as UCs são geridas e do tipo de desenvolvimento local pretendido. Para a pesquisadora, é possível conciliar a proteção da biodiversidade e dos recursos locais ao desenvolvimento da região através de uma gestão participativa e negociada das UCs, “no sentido de dar a garantia de acesso aos recursos à população local, mas com a contrapartida de uma ação consciente e responsável - o que envolve também um processo educativo e político”, ressalta.

 

A antropóloga acrescenta ainda que, para atingir esse objetivo há logicamente que se considerar uma população local que ainda mantenha certa relação de equilíbrio com o ambiente, que desenvolva conhecimentos e soluções específicas para sua sobrevivência e que lhe confira uma dada identidade, não realizando atividades predatórias e/ou de comercialização dos recursos naturais ali existentes.