Salud España , Salamanca, Lunes, 12 de noviembre de 2012 a las 14:30

Vírus modificado geneticamente ataca de forma seletiva as células tumorais

Pesquisadores da Universidade de Salamanca eliminam tumores em ratos ao induzir a morte celular através da inserção do vírus da doença de Newcastle, no qual se introduz um gene que ativa a apoptose

José Pichel Andrés/DICYT Pesquisadores da Universidade de Salamanca conseguiram utilizar o vírus da doença de Newcastle (Newcastle disease virus ou NDV, em inglês), que afeta a aves, como agente terapêutico contra células tumorais em experimentos in vitro e em modelos animais. No caso dos humanos, o vírus somente infecta células tumorais, por isso é tão interessante para a pesquisa. Os cientistas conseguiram modificar geneticamente o NDV para que, uma vez no interior destas células, ative a proteína FAS, que induz à morte celular programada ou apoptose. Desta maneira, em experimentos realizados com ratos eliminou-se o câncer sem danificar tecidos saudáveis.

 

“Aproveitamos que o NDV afeta somente às células tumorais, e não às sadias”, explica a DiCYT Enrique Villar Ledesma, pesquisador do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular. Com esta característica, há muitos anos os especialistas tentaram utilizar este vírus como oncolítico, isso é, como destruidor das células tumorais, mas os resultados foram pobres. Modificar o vírus para torná-lo mais agressivo é uma tarefa muito complexa, porque na realidade não se conhecem os mecanismos pelos quais somente ataca as células tumorais humanas, quando no caso das aves ataca as células sadias. Por este motivo, a idéia foi abandonada.

 

No entanto, a Universidade de Salamanca retomou esta via de pesquisa com uma nova idéia: introduzir o gene da proteína FAS, que induz a morte celular, para ver como se comportaria nos tumores. Os resultados in vitro foram promissores, porque foi possível ativar a apoptose, o mecanismo utilizado nas células para autodestruir-se quando detectam alguma anomalia e que nas células tumorais está suprimido. Agora os resultados em ratos também são promissores.

 

“Injetando células tumorais, provocamos nos ratos carcinomas de cólon e melanoma, de modo que foram desenvolvidos tumores, e ao introduzir o vírus recombinante com a proteína que induz à morte celular, desaparecem”, indica o pesquisado. De outro modo, em um grupo de controle de ratos que tinham desenvolvido o câncer e nos que foi injetado o NDV sem modificar, os tumores não remetiam.

 

Ademais, a pesquisa produziu outros resultados muito interessantes. “Nos animais sobreviventes foram injetadas novas células tumorais, mas estes não voltaram a desenvolver o tumor. Isso representa que provocamos uma resposta imunológica”, destaca Enrique Villar.

 

Muita pesquisa por diante

 

Em todos os casos, o cientista adverte que estes estudos são preliminares e precisam aperfeiçoar-se. “Já sabemos que este vírus recombinante estimula a apoptose em períodos curtos nos cultivos celulares e suprime tumores nos estudos in vivo, mas desconhecemos o mecanismo que provoca isso”, reconhece. “Para chegar aos testes clínicos ainda falta muito. Temos que saber quais são os mecanismos da oncólise nas células e aperfeiçoar o modelo animal antes de chegar aos estudos pré-clínicos”, assegura.

 

A abordagem do câncer a partir da virologia não é original, já que vários grupos de pesquisa em todo o mundo apostaram por esta via. No entanto, um aspecto destacável desta linha de pesquisa é a biossegurança do trabalho com o NDV, já que se trata de um vírus RNA negativo que em nenhuma etapa de seu ciclo biológico tem DNA. Isso quer dizer que não pode ser inserido no genoma humano, um perigo presente quando se trabalha com outros tipos de vírus, segundo os especialistas.

 

Atualmente, esta equipe do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular está em contato com o Centro de Pesquisa do Câncer (CIC) de Salamanca para avançar nesta aplicação antitumoral, bem como com o Hospital Monte Sinaí de Nova Iorque, no qual trabalha Adolfo García Sastre, especialista no vírus da gripe que fez seu doutorado em Salamanca orientado por Enrique Villar. De fato, em uma pesquisa anterior, junto com o grupo de pesquisa nova-iorquino, “conseguimos introduzir um gene do vírus da gripe no vírus da doença de Newcastle, de modo que imunizamos ratos contra a gripe”. Este avanço serviu para demonstrar que é possível inserir genes estranhos no NDV e que logo o vírus expressava as correspondentes proteínas. O seguinte passo foi pensar no gene da morte celular.

 

Genoma do vírus

 

A manipulação do genoma do vírus no laboratório é muito semelhante em alguns casos, e baseia-se nos estudos que durante décadas foram realizados pelos especialistas em virologia da Universidade de Salamanca, que conseguiram contribuir significativamente ao conhecimento de como os vírus entram nas células e interagem com elas. “Quando um vírus chega a um organismo procura entrar em uma célula o quanto antes para que o sistema imunológico não lute contra ele”, indica. Por essa razão, os cientistas tentam aproveitar terapeuticamente este fato, para o que normalmente é necessário manipular geneticamente o vírus, o que é mais complicado quando se trata de um vírus RNA, que usa como material genético ácido ribonucléico, que é um vírus DNA (ácido desoxirribonucléico).

 

“Introduzir a proteína da morte celular no vírus NDV é uma via originalmente nossa”, indica Enrique Villar, que tenta assegurar o financiamento para seguir adiante. “Este projeto é tão promissor que se não pudermos desenvolvê-lo aqui,  isso será feito nos Estados Unidos. Diante da situação de recorte de orçamentos da ciência espanhola, pode ser que depois do trabalho realizado durante anos as possíveis aplicações práticas ou patentes sejam desenvolvidas fora, afirma.