Alimentación Brasil , São Paulo, Miércoles, 17 de marzo de 2010 a las 09:58

Tubarão-azul fornece dados sobre fauna de águas profundas, revela estudo

Pesquisador de São Vicente examinou estômago de predadores capturados por pescadores no Atlântico Sul

UNESP/DICYT O tubarão-azul (Prionace glauca), ou tintureira, tem ajudado os pesquisadores da Unesp, no câmpus de São Vicente, a conhecer melhor os animais que habitam as águas profundas do Oceano Atlântico. Ao analisar o conteúdo estomacal de 222 tubarões-azuis da costa brasileira, o oceanógrafo Teodoro Vaske Júnior, do Câmpus do Litoral Paulista, encontrou espécies raras de serem observadas, como a lula Vampyroteuthis infernalis – popularmente conhecida como “vampiro do inferno” – e a lula gigante do gênero Architeuthis. Também foram identificados peixes de difícil captura com redes, como brama (Brama brama) ou chaputa, peixe-lanterna (Anomalops katoptron) e peixe-prego (Echinorhinus brucus).

 

O predador, capaz de descer cerca de 600m de profundidade, é um “coletor” do fundo do mar, de acordo com Vaske Júnior. “Se fôssemos apanhar os animais nesses níveis, seriam necessários altos investimentos e equipamentos especiais – o que é muito difícil no Brasil", explica o especialista. "O tubarão-azul faz isso para nós ao se alimentar. Muitos dos exemplares retirados do interior dos tubarões estavam praticamente intactos.”

 

O pesquisador examinou o estômago de 222 tubarões-azuis – 116 capturados por pescadores na costa nordestina e 106, na porção sul do litoral brasileiro. No total, o estudo registrou 51 espécies de animais retirados do interior dos tubarões (veja quadro abaixo) e verificou que, em geral, os predadores alimentavam-se de lulas e peixes.

 

Entre os itens alimentares do tubarão-azul, Vaske Júnior destaca a lula “vampiro do inferno” – que vive a mais de 500 metros de profundidade - e a lula gigante do gênero Architeuthis. “Ambas foram identificadas por pedaços, uma vez que o tubarão-azul [que mede em torno de 2 metros de comprimento] não conseguiria engolir um animal maior do que ele [a lula gigante tem por volta de 10 metros]”, conta ele. “Sem os tubarões, dificilmente teríamos informações sobre esses animais, que foram estudados e catalogados.”

 

Também foram encontrados pedaços do tubarão da espécie Lamna nasus no estômago de um animal. “O tubarão-azul também come seus parentes”, diz o oceanógrafo. Outra surpresa foi a descoberta de uma pomba no interior de um predador. “Não se espera encontrar uma pomba em alto-mar. A ave deve ter se perdido do continente ou estava de carona em algum navio e, ao cair na água, foi engolida pelo tubarão-azul”, conta o pesquisador, acrescentando que o estudo fornece dados importantes sobre os hábitos alimentares da espécie no Atlântico Sul. O tubarão-azul, a mais comum espécie de tubarão oceânico do planeta, está presente nos três grandes oceanos – Atlântico, Índico e Pacífico – e no mar Mediterrâneo.

 

Ossos de galinha

 

Vaske Júnior descobriu que os hábitos alimentares eram diferentes nas duas regiões estudadas. “Apenas 7% da dieta eram similares entre os animais da costa do Nordeste e os do Litoral Sul do Brasil. De resto, eles se alimentam de organismos diferentes em proporções diferentes”, salienta o oceanógrafo. Na porção sul do Atlântico brasileiro, a probabilidade de tubarões se alimentarem de baleias é maior e há uma variedade maior de presas disponíveis.

 

O pesquisador também encontrou lixo no interior dos predadores, como sacolas plásticas, papelão, madeira, panos, cabos, linhas de pesca e anzóis. Também foram identificados itens como laranja, abacaxi, alho, maçã e ossos de galinha. “Isso é reflexo da poluição dos oceanos. Em cerca de 10% dos estômagos havia lixo. É uma porcentagem elevada", observa.