Tecnología Brasil Campinas, São Paulo, Viernes, 30 de abril de 2010 a las 16:18
Sensoriamento remoto

Técnica inovadora analisa vestígios de petróleo à distância

Exploração no pré-sal e monitoramento ambiental estão entre as atividades beneficiadas

Danilo Albergaria/ComCiência/Labjor/Dicyt - Após a descoberta das reservas de petróleo na camada do pré-sal, na bacia de Santos, os esforços brasileiros concentraram-se, principalmente, na obtenção e produção de tecnologia capaz de extrair petróleo daquela região. Mas outras inovações tecnocientíficas importantes no campo da exploração do petróleo, que não miram necessariamente o pré-sal, também têm sido realizadas. É o caso da pesquisa premiada pela Petrobras, de Talita Lammoglia e de seu orientador, Carlos Roberto Souza Filho, ambos do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O trabalho abriu possibilidades de avaliação à distância de vestígios de petróleo (líquido ou gás) no mar ou em terra.
 

Graças a essa inovação, tornou-se possível “qualificar os tipos de petróleo por meio do sensoriamento remoto”, afirma Souza Filho. Ou seja, hoje podemos conhecer detalhes das características físico-químicas de vestígios de petróleo à distância, sem que amostras desse petróleo tenham que ser coletadas.

 

O chamado sensoriamento remoto permite, com auxílio de satélites ou aviões devidamente equipados, a análise à distância da superfície terrestre. Neste caso específico, o sensoriamento remoto é responsável pela captação e análise da radiação solar refletida pelas manchas de petróleo em várias faixas do espectro eletromagnético, desde o campo da luz visível - ou seja, em frequências em que o olho humano opera e é capaz de perceber cores, de acordo com a reflexão ou a absorção da luz refletida a partir dos objetos - até o infravermelho, em frequências mais baixas, invisíveis ao olho humano. Como as diferentes moléculas presentes na natureza absorvem diferentes frequências da radiação solar - inclusive na imensa faixa invisível a nós -, quando analisamos o espectro da radiação solar refletida por uma amostra de petróleo, podemos inferir sua composição química de acordo com as frequências em que a radiação foi absorvida.

 

A primeira etapa da pesquisa foi coletar diferentes amostras de petróleo e elaborar uma biblioteca de óleos. Essas amostras, então, foram caracterizadas de acordo com a análise do espectro eletromagnético. As análises permitiram que fosse feita uma relação entre esses resultados obtidos em laboratório e a densidade do óleo. “O petróleo pode ser classificado de acordo com sua composição química”, afirma Lammoglia. “Um exemplo de classificação é pelo grau API, que é uma medida de densidade relativa do óleo. Quanto maior o grau API de uma amostra de petróleo, menos denso ele é. E quanto mais ’leve’ o petróleo, maior é o valor de mercado dos seus derivados”, explica a pesquisadora.

 

A segunda etapa da pesquisa foi a comparação dos resultados das análises laboratoriais com a medida da luz solar refletida por uma exsudação no mar, registrada por sensoriamento remoto. Exsudações são vazamentos naturais de petróleo e gás que ocorrem na maioria das bacias petrolíferas. Na história da exploração de petróleo, muitos campos foram descobertos a partir da detecção de exsudações. “O nosso trabalho permitiu não só o mapeamento dessas exsudações por satélite, mas também a inferência do grau API dos óleos exsudados na superfície do mar”. Os resultados que os pesquisadores obtiveram pela análise espectral por sensoriamento remoto foram compatíveis com as características conhecidas da exsudação estudada, o que indica o sucesso da nova técnica.

 

Os benefícios dessa inovação para o país são muitos. Ganha a exploração de petróleo, que contará com análises à distância sobre a composição e, consequentemente, sobre o potencial econômico do óleo, reduzindo consideravelmente os esforços necessários para isso. E se beneficia, igualmente, a capacidade de monitoramento ambiental, já que vazamentos de navios petroleiros poderão também ser identificados e caracterizados.

 

“Até hoje havia detecção de exsudações de petróleo e de gás por meio de radar, mas ainda não havia uma técnica que permitisse inferir as propriedades físico-químicas do que havia sido detectado”, lembra Souza Filho. Lammoglia, que cursa seu doutorado no IG e atualmente trabalha na Petrobras, reconhece que a técnica ainda é pouco utilizada, mas “a tendência é que, com o tempo, seja mais aplicada, tanto para a exploração petrolífera quanto para o monitoramento ambiental”.