Ciencia España , Salamanca, Martes, 01 de junio de 2010 a las 12:11

Projeto procura novas fórmulas para administrar quimioterapia no câncer de pulmão

Engenheiros químicos da Universidade de Salamanca tentarão desenvolver um sistemas de microcápsulas que diferenciam células tumorais de saudáveis

José Pichel Andrés/DICYT Eva María Martín del Valle, pesquisadora do Departamento de Engenharia Química e Têxtil da Universidade de Salamanca, lidera um projeto que ao longo dos próximos anos pretende desenvolver um sistema de microcápsulas que contenham em seu interior os medicamentos usados em quimioterapia para câncer de pulmão e que os façam chegar especificamente às células tumorais, evitando prejudicar células sãs. Este ambicioso objetivo começa agora a caminhar depois de receber 1,4 milhões de euros de financiamento por parte do European Research Council (Conselho Europeu de Pesquisa) através das becas ERC Starting Grants, dirigidas a cientistas que estão em início de carreira.

 

“É sabido que a quimioterapia produz muitos efeitos colaterais, não só porque destrói as células malignas, mas porque destrói também as benignas”, assinala a pesquisadora em declarações a DiCYT. “Em função dos experimentos que nós desenvolvemos nos últimos anos, em colaboração com especialistas da área de biomedicina, propusemos o desenho de pequenos veículos ou microcápsulas que levariam dentro deles o agente quimioterápico. O que vamos tratar de fazer é modificar estas cápsulas para que se dirijam somente a células tumorais, neste caso, do pulmão”, explica.

 

Além dos engenheiros químicos, participam do projeto outros cientistas de Salamanca da área de biomedicina: Gonzalo Varela e José Luis Aranda, do Departamento de Cirurgia Torácica; María Dolores Ludeña, especialista em Anatomia Patológica; y Juan Jesús Cruz, chefe do serviço de Oncologia do Hospital Universitário. “Trata-se de um trabalho multidisciplinar, a primeira etapa está centrada na Engenharia Química aplicada à biomedicina e, na segunda etapa, contaremos com o apoio dos especialistas na hora de operar, para saber como se manifestam estes tumores, para orientar na aplicação e nas análises posteriores sobre como atuam as microcápsulas. Ademais, não se trata somente de desenhar um novo sistema de microcápsulas, mas de também modificar as vias de administração da quimioterapia no câncer de pulmão”.

 

Novos desenhos

 

Este grupo de pesquisa, liderado por Miguel Ángel Galán, desenvolveu projetos anteriores com microcápsulas, mas destinados a campos diferentes ao biomédico como, por exemplo, produtos têxteis com propriedades hidratantes. “Durante anos desenvolvemos distintas tecnologias de geração de cápsulas para distintos campos de aplicação, mas em função do objetivo é necessário que se faça um desenho sempre novo, os materiais pelos quais está composta a cápsula são diferentes e há que estudar, neste caso, que propriedades devem ter para que estejam dirigidas a uma célula tumoral, é tudo novo”, assegura.

 

Apesar de que a confidencialidade da pesquisa impede que sejam oferecidos detalhes concretos, serão utilizados materiais polímeros biocompatíveis. Além disso, os cientistas já têm experiência sobre como reagem em contato com o pulmão graças a um projeto com Gonzalo Varela e José Luis Aranda. “Desenvolvemos um sistema de administração de fármacos para o tratamento de complicações que aparecem depois das intervenções. Estas cápsulas não geram rejeição por parte dos tecidos do pulmão, são biocompatíveis e tem efeitos altamente satisfatórios para as condições que estamos buscando agora”, aponta. Esta pesquisa prévia com o serviço de Cirurgia Torácica foi testada em porcos em León e os efeitos foram positivos.

 

O desafio agora é distinto e mais complexo, uma vez que será necessário que as microcápsulas se dirijam de forma seletiva a células tumorais. Estudos oncológicos já identificaram estruturas de células tumorais que vão ser chave nessa pesquisa. “Quando transformam células normais em tumorais são provocadas mudanças estruturais e algumas proteínas aparecem superexpressas”, indica. Estas características especiais são as que permitiriam diferenciar os tecidos patológicos dos sadios.

 

In vitro e em animais

 

A pesquisa será realizada em tecidos tumorais in vitro para verificar-se como reagem as cápsulas. Depois, será testada em animais com uma nova via de administração. “Procuramos vias alternativas às convencionais de cateterismo para induzir a quimioterapia, para que o novo método possa ser aplicado na cirurgia ou antes dela”, afirma.

 

Ao longo do projeto serão definidos muitos detalhes enquanto se obtêm os resultados. Assim, os pesquisadores terão que definir o sistema de administração da microcápsula com o agente de quimioterapia, a velocidade na qual será liberada e a dose que necessita a célula tumoral para ser destruída, entre outras.

 

A pesquisadora assegura que se os resultados do projetos são exitosos, a pesquisa terá “um impacto tremendo”, mas adverte que “temos que ser cautelosos com relação às expectativas, porque são problemas que afetam a milhares de pessoas e, ainda que provavelmente dará lugar a alguns avanços, não solucionará o problema do câncer de pulmão da noite para o dia”.

 

Aplicações biomédicas da Engenharia Química

 

Este projeto, que foi defendido em Bruxelas pela própria pesquisadora, demonstra a importância da Engenharia Química na biomedicina, segundo Eva María Martín del Valle, duas áreas muito relacionadas nos Estados Unidos, mas não na Espanha. O norte-americano Robert Langer, Prêmio Príncipe de Astúrias em Pesquisa Científica e Técnica em 2008, é o maior exemplo do papel do engenheiro químico em aplicações biomédicas, segundo a cientista. “A aposta por este projeto significa que a Europa segue as mesmas tendências que os Estados Unidos em matéria de pesquisa, é um prêmio a projetos de risco relevantes que levam a uma mudança de estratégia na abordagem de problemas da sociedade. É um reconhecimento muito grande para a Engenharia Química do nosso país e em particular, desta Universidade”, assinala.