Ciencia Panamá , Panamá, Martes, 01 de junio de 2010 a las 16:52

Pesquisadores utilizam pela primeira vez a radiotelemetria para rastrear abelhas tropicais

Ainda que ningu茅m duvide do servi莽o ecol贸gico que prestam as abelhas, at茅 este momento tinha sido dif铆cil rastrear a dist芒ncia percorrida para polinizar

Eva Aguilar/DICYT Indivíduos de uma espécie de Abelha-da-Orquídea (Euglossini) puderam ser rastreados pela primeira vez durante suas longas viagens através da floresta, graça a pequeníssimos transmissores de rádio instalados em suas costas. As abelhas Euglossini caracterizam-se por percorrer grandes distâncias para polinizar as flores mais distintas, e agora os pesquisadores podem determinar com maior precisão a categoria de movimento dos insetos, o que por sua vez permitirá entender melhor o papel que estes desempenham na manutenção dos ecossistemas tropicais. “Quando as pessoas perturbam e destroem a floresta tropical, também transtornam os sistemas de polinização”, explica David Roubik, pesquisador do Instituto Smithsonian de Pesquisas Tropicais do Panamá e um dos autores do estudo, citado em um comunicado de imprensa da instituição. “Agora podemos rastrear as Abelhas-das-Orquídeas para saber as distâncias e os padrões espaciais envolvidos na polinização. Estes são detalhes vitais a que no passado não tínhamos qualquer acesso”.

 

Nos resultados do estudo publicados na edição de ontem (26 de maio) da revista eletrônica PLoS One, os pesquisadores indicam que, ainda que ninguém duvide dos serviços ecológicos prestados pelas abelhas, na realidade não existem evidências para muitos deles. Isso, afirmam, constitui uma brecha científica importante, provocada em parte pelo fato de que até o momento os cientistas não podiam contar com um mecanismo para medir as distâncias percorridas pelas abelhas, capaz de esquivar-se dos obstáculos representados pelas árvores entre as que estas se movem. A radiotelemetria, no entanto, foi utilizada com êxito no passado para rastrear o movimento de outros insetos como escaravelhos, grilos e libélulas.

 

Viajantes de longas distâncias

 

Os membros do grupo Euglossini caracterizam-se por abelhas de cores brilhantes, geralmente verde e azul, cujas populações se estendem do norte do México até a Argentina. As 200 espécies descritas influenciam de maneira significativa na evolução e manutenção, não apenas das orquídeas, mas de um grupo diversificado de árvores, arbustos e ervas. Os machos das abelhas das orquídeas colhem substâncias químicas produzidas por material orgânico em estado de putrefação e pelas flores e outras partes das plantas. Para recolher estas substâncias, alimentos e material para nidificar, as abelhas têm que viajar o que os cientistas consideram ser distâncias extraordinárias para o tamanho de seus corpos, e nestas viagens contribuem de maneira relevante à polinização a longa distância, atravessando inclusive espaços fragmentados de florestas.

 

Para realizar o rastreamento, os pesquisadores capturaram 17 indivíduos machos da espécie de abelha Exaerete frontalis, inserindo em suas costas pequenos radiotransmissores. Apenas 5 indivíduos conservaram seus pequenos aparelhos e sobreviveram até o final do experimento.

 

“Seguindo os sinais de rádio com uma antena de mão, descobrimos que os machos das abelhas Euglossini passam a maior parte do tempo em pequenas áreas de nidificação e descanso, mas também podem levantar vôo e visitar áreas muito distantes”, indica Martin Wikelski, diretor do Instituto Max Planck de Ornitologia, pesquisador associado do Instituto Smithsonian e principal autor do estudo. “Um dos machos, inclusive, atravessou as rotas de navegação dos barcos no Canal do Panamá, percorreu pelo menos cinco quilômetros e retornou alguns dias depois”.

 

Os cientistas são conscientes de que levar um radiotransmissor que pesa 300 miligramas pode reduzir as distâncias percorridas pelas abelhas, o que, asseguram, não tira o mérito dos resultados do estudo.

 

“Inclusive se as distâncias que registramos são as mínimas que estas abelhas podem voar, ainda assim são muito impressionantes e as consideramos como movimentos de longa distância”, disse Ronald Kays, curador do Museo do Estado de Nova York e outro autor da pesquisa. “Estes dados nos ajudam a entender como é possível que as orquídeas que estas abelhas polinizam sejam tão peculiares.”