Cultura Brasil Campinas, São Paulo, Jueves, 23 de septiembre de 2010 a las 11:28

Redes sociais e sites de relacionamento: em busca de comunidades

ComCiência/Labjor/DICYT - Sites de rede social, como o Orkut, o Facebook e o Linkedin, trouxeram uma novidade importante para pesquisadores de várias áreas: eles proporcionaram que as pessoas passassem a publicar informações relacionadas a suas redes de relacionamento. Essas ferramentas, portanto, proporcionaram que os grupos sociais fossem reinscritos no ciberespaço e que pudessem ser estudados, assim, através dessa representação. Esses sites, portanto, não são propriamente redes sociais, mas representam redes. E o que são redes sociais?

 

Redes sociais são metáforas utilizadas para grupos de pessoas, como forma de estudar as estruturas sociais. A partir dessa perspectiva, representam-se as redes sociais através de nodos (ou nós) – os indivíduos – e suas conexões. Mas qual é a natureza dessas conexões? Como elas são modificadas pelos sites de rede social?

 

Conexões sociais

As conexões entre os indivíduos na sociedade são comumente referidas como laços sociais. O processo é mais ou menos assim: imagine que você hoje foi até uma padaria nova, próxima da sua casa. Ali, enquanto comprava pão, você conheceu o padeiro, José. A partir dali, uma série de obrigações, decorrentes das normas sociais passam a existir, como, por exemplo, o cumprimento. Agora que você conhece José, espera-se que você o cumprimente quando o encontrar na rua. Com o passar do tempo, se você continuar frequentando a mesma padaria, poderá conhecer José melhor, saber que é casado e tem duas filhas, que torce para um determinado time de futebol e, até mesmo, onde José vai passar o feriado. Esse é o processo de criação e estabelecimento daquilo que os cientistas sociais chamam de laço social. É a conexão que une os indivíduos em uma sociedade. Esse laço é, portanto, constituído de interações, trocas que são estabelecidas através da conversa, do agir no espaço social. Com o tempo, essas conexões podem ser aprofundadas, compartilhando-se intimidade e amizades.

 

Foi um cientista social chamado Mark Granovetter quem primeiro propôs examinar essas conexões a partir de sua força. Para Granovetter, os laços sociais poderiam ser classificados em fortes e fracos, ou seja, naqueles onde há intimidade e proximidade entre os agentes, os laços fortes – por exemplo, o laço que você divide com seus amigos –, e aqueles onde esses elementos não estão presentes – como os laços que você divide com seus “conhecidos” –, chamados laços fracos. A percepção de que as conexões que formam a estrutura social são diferentes ajudou também a compreender uma série de outros elementos, como a circulação de informações nos grupos. Granovetter descobriu que os laços fracos são aqueles mais fundamentais para quem, por exemplo, busca um emprego. É principalmente através desses laços que as informações a respeito de novas vagas chegam a potenciais candidatos. Essas conexões vão fazer emergir a estrutura dos grupos sociais. Além disso, compreender a natureza dessas conexões também auxiliou vários pesquisadores a perceber que tipo de valores são gerados nessas redes e como esses valores motivam os indivíduos a criar, manter e remover conexões.

 

O capital social

Os valores gerados nas redes sociais são comumente referidos como capital social. Essa ideia foi discutida por inúmeros pesquisadores e foi, quase sempre, associada aos valores conectados com o pertencimento a um determinado grupo. Por exemplo, o fato de você jogar futebol todo o domingo com um grupo de amigos dá acesso a valores específicos. O primeiro e mais óbvio deles é a possibilidade de divertir-se com o grupo. Ora, futebol é um esporte coletivo, que só pode ser jogado se um grupo de pessoas entra em acordo e participa do jogo. Outro valor poderia ser, por exemplo, a informação a respeito dos próximos jogos, que circula dentro do grupo e que permite que você continue a jogar. As amizades que podem surgir do jogo e passar a outras esferas também são um valor. Até mesmo ser convidado para tomar uma cerveja depois do jogo com o grupo é um valor. Assim, fazer parte de um grupo dá acesso a todo um conjunto de vantagens, o que é chamado capital social.

 

O capital social, no entanto, depende do seu tempo e vontade em manter suas conexões sociais. Os valores a que você tem acesso no grupo do futebol, por exemplo, só persistem enquanto você investir seu tempo em continuar jogando com o grupo. Se você para de jogar e perde o contato com o grupo, perde também o acesso aos valores a ele associados. Assim, o capital social é também relacionado à manutenção das conexões sociais.

 

Os sites de rede social

Quando passamos nossos grupos e redes para os sites de relacionamento, no entanto, as coisas mudam. Um primeiro efeito é o fato de que você pode “adicionar” à sua rede quem você quiser. Isso significa que você pode ter mil, dois mil, ou três mil amigos no Orkut, se tiver vários perfis. Só que na vida offline, isso não acontece. Isso porque ter tantos amigos dá trabalho – você precisa investir tempo e sentimento para manter um laço social – e necessita de algum comprometimento. Além disso, suas conexões no Orkut nunca desaparecem, a menos que você as delete ou que os demais indivíduos saiam de lá. Ao contrário dos laços sociais offline, os laços representados nos sites de relacionamento não sofrem pela falta de investimento de tempo e permanecem mantidos pelo sistema do site. Isso gera alguns efeitos diferentes. A rede, por exemplo, torna-se artificialmente grande. Enquanto no offline vários de nós têm um número pequeno de amigos, nesses sites, todo mundo é seu amigo. Outro efeito é o fato de que os indivíduos têm acesso a tipos específicos de capital social dentro dessas ferramentas, mesmo sem precisar interagir com os outros. Você pode ser, por exemplo, extremamente famoso no MySpace, mas ser um desconhecido na vida offline. Pode também ter acesso a informações que normalmente não seriam acessíveis a você, pelo fato desses sites permitirem que você acompanhe outras redes de outras pessoas.