Alimentación Brasil Campinas, São Paulo, Jueves, 29 de marzo de 2012 a las 12:58
Meio Ambiente

Fim das sacolas plásticas abre espaço para controvérsias científicas

Comerciantes e ambientalistas afirmam que medida vai contribuir para a preservação do meio ambiente; indústria do plástico afirma que sacolas biodegradáveis e sacos de papel poluem mais

Monique Lopes/ComCiência/Labjor/DICYT - Desde o dia 25 de janeiro, um acordo firmado entre comerciantes e o governo de São Paulo determinou a retirada das sacolas plásticas de mercados em todo o estado. A decisão dividiu a opinião dos consumidores e gerou tanta reclamação que o Procon e o Ministério Público Estadual redigiram um novo acordo, em que os supermercados são obrigados a oferecer aos clientes uma alternativa gratuita à sacolinha por mais dois meses; e que limita o preço de sacolas retornáveis a R$ 0,59. Trata-se de um exemplo clássico de controvérsia científica, situação em que pesquisas e estudos compõem os principais argumentos dos lados opostos de uma discussão.


Enquanto comerciantes e ambientalistas afirmam que a medida vai contribuir para a preservação do meio ambiente, a indústria do plástico contra ataca com dados segundo os quais as sacolas biodegradáveis e os sacos de papel poluem ainda mais do que as tradicionais sacolinhas. “Nessas disputas o conhecimento tecnocientífico entra como uma variável decisiva para as decisões políticas”, afirma Márcia Maria Tait Lima, autora do livro Tecnociência e cientistas - cientificismo e controvérsias na política de biossegurança brasileira, recém lançado pela editora Annablume. “No caso de controvérsias relacionadas a problemáticas ambientais e saúde isso fica bastante claro: o que está causando o aquecimento global? Quais os reais maléficos do fumo? Qual impacto de uma grande hidrelétrica para determinada região? Tudo isso é respondido usando-se principalmente de argumentos de ordem técnica, isso tanto do lado ‘ambientalista’ quanto do ‘desenvolvimentista’”.


Para Tait Lima, recorrer à ciência pode por vezes deslegitimar outras questões. “A noção de uma ‘certeza científica’ que encerre a controvérsia ainda é amplamente utilizada no debate, mas a disputa não se limita à ciência e não pode ser resolvida em nome da ciência, mesmo que fosse possível chegar a uma ‘certeza científica’. Primeiro porque não existe apenas ‘uma ciência’, segundo porque o conceito de risco e a decisão sobre quais os níveis de risco que podem ser tolerados dependem da valoração de cada grupo”, explica. Sobre a incerteza da ciência, ela completa: “A ‘ciência’ é sempre incerta, mas isso não é o problema, mas uma característica da ciência. De nenhuma forma reconhecer a incerteza ou limites do conhecimento tecnocientífico o torna inútil, apenas limita seu poder, sua capacidade de ser usado como árbitro de diversas questões”.


Para não ficar perdido entre controvérsias como essa, Márcia aconselha, “como consumidora e cidadã”, a não ter preguiça, “buscar informação e opiniões de fontes variadas, pensar sobre essas informações e tentar agir de acordo com a decisão que tomar depois desse processo”.