Cultura Brasil Campinas, São Paulo, Miércoles, 28 de marzo de 2012 a las 18:20
Literatura e rede

Livro compila trabalhos em estudos culturais

Assuntos atuais são o ponto de partida para a maioria dos artigos

Cristiane Kämpf/ComCiência/Labjor/DICYT - A série norte-americana Lost foi ao ar durante cinco anos e oito meses (de setembro de 2004 a maio de 2010) e ultrapassou, no Brasil, mais de 15 milhões de telespectadores para cada um dos 121 episódios. Devido a sua grande popularidade, o programa ampliou práticas culturais até então não tão frequentes na sociedade: fãs da série discutiam cada mistério da ilha ou reviravolta no roteiro em blogs, fóruns online, sites de download e sites especializados, como o Lost Brasil, que conta com quase 193 mil membros. Uma busca rápida no Google por imagens com o termo “lost tatoo” revela que muitos aficionados tatuaram na própria pele imagens que fazem referência à série.

 

Para a socióloga Tatiana Amendola Sanches, doutoranda do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, uma das razões de tanto sucesso foi a capacidade de fomentar debates envolvendo assuntos de interesse do público e estimular a participação dos telespectadores em outras mídias. Segundo ela, “certos assuntos que servem como pano de fundo à narrativa instigam os telespectadores com questões que, segundo alguns teóricos da pós-modernidade, são típicas de nosso tempo e nos ajudam a entender os mecanismos pelos quais a ficção é capaz de moldar a vida e vice-versa”.

Sanches é organizadora do livro Estudos Culturais – uma abordagem prática, recém-lançado pela Editora Senac São Paulo. A obra contém um capítulo de sua autoria, intitulado “Seis temporadas pelas ilhas de Lost: a questão da identidade pós-moderna em uma das séries de maior sucesso da televisão mundial”. A estudiosa examina como os receptores participaram dessa produção, ou seja, como a série reflete e também transforma o olhar do telespectador. A obra reúne artigos de estudiosos que buscam compreender a sociedade por meio de práticas culturais contemporâneas, mostrando o conceito e a importância dos estudos culturais atualmente. Os textos englobam temas como noções de corpo, identidade, gênero, fotografia, cinema, televisão, mídias sociais e internet. “A intenção foi trazer ao mercado editorial brasileiro um olhar mais prático sobre as produções culturais a partir da perspectiva dos estudos culturais. O livro foi pensado para que estudantes de diversas disciplinas ou mesmo leigos possam aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto”, afirma a organizadora.

 

Assuntos atuais são o ponto de partida para a maioria dos artigos. Alguns contextualizam teoricamente a origem das pesquisas em comunicação, como é o caso de Mônica Rebecca Ferrari (pesquisadora do Centro de Estudos de Música e Mídia da ECA-USP) que abre o livro abordando a relação dos estudos culturais com a semiótica da cultura. Outros detalham fenômenos sociais e culturais em diversos meios de comunicação, entre eles a TV. Bruno Campanella (doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ e professor da Universidade Federal Fluminense), por exemplo, analisa a influência de novas representações do feminino no reality show Big Brother Brasil. Ao esmiuçar uma comunidade online focada no programa (Net.BBB), Campanella mostra como os espaços público e privado se entrelaçaram e de que forma o pessoal e o cotidiano passam a ser vistos pelos indivíduos como importantes espaços para a busca de códigos de comportamento. Há também discussões sobre as novas tecnologias. Tarcísio Torres Silva (doutorando no Instituto de Artes da Unicamp) avalia o caráter transformador das mídias sociais na contemporaneidade – na opinião do pesquisador “a colaboração interativa pode incentivar um diálogo amplo, cujo resultado se dá na forma de produtos culturais”.

 

A parte final do livro é dedicada a um questionamento sobre o atual momento dos estudos culturais enquanto campo teórico. Maria Elisa Cevasco, professora titular do Departamento de Letras Modernas da Universidade de São Paulo e uma das pioneiras nessa área no Brasil, enfatiza, em entrevista concedida à organizadora, a origem desse tipo de estudo no país suas implicações atuais. John Hutnyk, da Universidade de Londres, trata, por sua vez, sobre os impactos dos estudos culturais em outras disciplinas e mostra quais seus rumos, sobretudo na Inglaterra, onde esse tipo de estudo nasceu.