Ciencias Sociales Brasil Campinas, São Paulo, Lunes, 28 de octubre de 2013 a las 10:04

Projeto coloca em xeque imaginário sobre a exclusão

O projeto de extensão Barracão, desenvolvido pelo Labeurb, realizou oficinas de artesanato, leitura,teatro infantil, cinema, informática, além de fotografia

Maria Marta Avancini/Labjor/ComCiência/DICYT - Desestabilizar o imaginário sobre as periferias urbanas como espaços de exclusão. Este é o objetivo central do projeto de extensão Barracão: Eldorado dos Carajás, desenvolvido pelo Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb), ligado ao Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade da Universidade Estadual de Campinas (Nudecri/Unicamp).

“Existe uma ideia em circulação na sociedade que a periferia é um espaço de exclusão. Exclusão social, econômica, cultural e digital”, afirma a linguista Cristiane Dias, coordenadora do projeto. Este é o ponto de partida conceitual que norteia o projeto, cuja dinâmica se baseia na realização de oficinas com moradores – em especial crianças, adolescentes e mulheres – do Núcleo Residencial Eldorado dos Carajás, na região do Ouro Verde.

 

Uma delas, Fotografias do Cotidiano, conduzida pela jornalista Andrea Klaczko, envolve, desde março, oito adolescentes de 15 a 19 anos moradores na região dos Distritos Industriais de Campinas (DICs). “No início, o objetivo era a produção de um jornal comunitário”, relata. Para tanto, a oficina percorreu algumas etapas relacionadas à produção de um jornal: pauta, diagramação, produção de textos, fotos e edição.

 

Mas o rumo acabou sendo diferente do planejado: “O grupo acabou optando por criar um blog e um jornal impresso baseado em fotografias do bairro”, explica. A mudança de percurso foi decorrência da própria oficina. A jornalista conta que as atividades abrangeram várias dimensões – desde exercícios para aprender a fotografar até reflexões sobre sua identidade e o bairro. “Embora a maior parte dos participantes da oficina fosse negra, eles não se identificavam como tal”, diz Klaczko, que é mestranda no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor).

 

Diante dessa constatação, Klaczko planejou, como uma das atividades, uma visita ao Museu Afro Brasil, em São Paulo, para que os adolescentes tivessem a oportunidade de tomar contato com visão da cultura negra diferente da que conheciam em seu bairro e em seu cotidiano – o que acabou influenciando no formato do jornal. “O jornal será baseado em perfis dos moradores da comunidade. Os adolescentes vão relatar as histórias por trás das fotos, apresentando o espaço onde vivem a partir delas”, complementa Klazckzo. O primeiro número está programado para setembro. Outro resultado foi uma exposição de fotografias, feitas pelos adolescentes, no bairro. Esta exposição será apresentada na Unicamp, em setembro, durante o evento de encerramento do projeto.

 

É justamente esse tipo de deslocamento de percepção que o projeto pretende realizar, reitera a coordenadora do projeto. “O funcionamento do imaginário na sociedade determina a tomada de posição do sujeito; faz parte da constituição do próprio sujeito”, analisa Dias, que também é vice-coordenadora do Labeurb.

 

Por meio das oficinas, a intenção é levar os moradores desses bairros periféricos a perceberem o espaço onde vivem e sua condição de outra maneira – que não a da exclusão. “A intenção é deslocá-los do local onde o discurso os colocou”, complementa Dias. “Desde o início, o projeto teve como objetivo colocar em questão a relação desse grupo social com significados já estabelecidos pela sociedade, cidade, administração, instituições”, esclarece. “Ou seja, trabalhamos os sentidos de inclusão/exclusão, periferia, violência etc.”.

 

E, na medida em que as atividades se desenvolvem, novos sentidos e percepções sobre o espaço onde vivem e sobre eles próprios foram sendo construídas pelos participantes. No caso dos adolescentes que participaram da oficina Fotografias do Cotidiano, o resultado pode ser descrito como a percepção de dimensões, antes despercebidas, do próprio bairro e de sua identidade.

 

Desse modo, no projeto Barracão, as oficinas não se resumem a espaços onde os pesquisadores transmitem algum conteúdo aos participantes. Diferentemente, funcionam como ferramentas para favorecer a construção de uma nova percepção e uma nova relação com o bairro e com eles próprios – embora o processo nem sempre seja simples e o percurso não seja linear.

 

O projeto Barracão teve início em 2011 e encerrará suas atividades em outubro. Ao longo desse tempo, foram realizadas oficinas de artesanato, leitura,teatro infantil, cinema, informática, além de fotografia com públicos e faixas etárias variadas.