Educación Brasil Campinas, São Paulo, Miércoles, 12 de febrero de 2014 a las 10:36

Plataforma online reúne informações sobre inclusão social e equidade no ensino superior

Projeto objetiva ampliar o acesso às informações sobre educação e equidade para outros grupos da sociedade civil, governos e entidades de atuação transnacional

Gabrielle Adabo/ComCiência/Labjor/DICYT - Dados recolhidos em doze Instituições de Ensino Superior (IES) de países da América Latina mostram que o número de mulheres estudantes supera o de homens. A proporção muda, no entanto, quando são analisados os docentes por sexo - a predominância é, então, de homens. Esse é um dos exemplos de análises que podem ser encontradas no Observatório Transnacional de Inclusão Social e Equidade no Ensino Superior (OIE), plataforma online que reúne informações sobre os temas que lhe dão nome.

 

O OIE é uma das ações do projeto de pesquisa Miseal (Medidas para a Inclusão Social e Equidade em Instituições de Ensino Superior na América Latina), financiado pela União Europeia. O projeto é
coordenado pelo Núcleo de Estudos de Gênero Pagu da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), junto com o Instituto de Estudos Latinoamericanos da Universidade Livre de Berlim (Freie Universitä) e reúne, além dessas duas instituições, outras onze da América Latina e mais três da Europa.

 

A proposta do Miseal é estabelecer a cooperação entre as IES para ampliar a igualdade social e equidade nas instituições da América Latina. Ao todo, são doze os países latinoamericanos participantes do projeto: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, México, Nicarágua, Peru e Uruguai. O levantamento de dados das 12 IES latinoamericanas realizado pelo Miseal permitiu obter amostras da realidade das universidades e comparar informações sobre inclusão social e igualdade com base em indicadores sociais. Os primeiros resultados desse trabalho foram disponibilizados pelo OIE. A
análise de como está organizada a população universitária, por sua vez, permite compreender os desafios e traçar estratégias para alcançar as metas.

 

Os objetivos principais do Observatório, segundo a pesquisadora do Miseal/OIE, Rebeca Buzzo Feltrin, são sensibilizar sobre a questão da inclusão social e equidade no ensino superior, disseminar os resultados
de pesquisas provenientes do projeto Miseal, além de ampliar o acesso às informações sobre educação e equidade para outros grupos da sociedade civil, governos e entidades de atuação transnacional. “Espera-se que o OIE seja uma ferramenta capaz de contribuir para a discussão, difusão e compartilhamento de informações nessa temática, proporcionando às instituições e pessoas que buscam atuar em favor da inclusão e equidade no ensino superior um espaço onde possam encontrar conteúdos e interlocutores na América Latina e no mundo”, diz.

 

A plataforma está organizada em diferentes seções. No topo da página do site há bandeiras de cada um dos
países participantes do Miseal, links que permitem acessar o observatório nacional correspondente. Na seção “O Observatório”, há o detalhamento do que é o OIE. Já em “Sistema de Indicadores” o leitor encontra informações sobre a metodologia utilizada e, principalmente, sobre a construção e operacionalização dos indicadores que são a base para compreender a realidade das IES. Na seção “Resultados” é possível
conferir o que foi obtido até o momento pelo projeto Miseal a partir do levantamento, sistematização e padronização dos dados sobre equidade de gênero e marcadores de raça/etnia e necessidades especiais obtidos das IES, comparados e contextualizados com os dados populacionais dos países aos quais pertencem. Em “Recomendações”, há sugestões formuladas pela equipe do Miseal para fomentar ações que ampliem a inclusão social e a equidade no ensino superior e em “Banco de Recursos”, uma série de
ferramentas como vídeos e textos para expandir o conhecimento dos interessados nos temas.

 

Interseccionalidade

 

Uma característica importante do OIE é que os dados obtidos a partir das IES foram organizados em um sistema de indicadores interseccionais, que comportam o cruzamento de diversas esferas. “A perspectiva
interseccional permite um olhar mais complexo sobre a produção de desigualdades sociais em contextos específicos, uma vez que rejeita a separação de categorias analíticas e de identidades, considerando a
análise articulada de várias dimensões da vida social”, explica a coordenadora do Miseal/OIE e pesquisadora do Pagu Maria Conceição da Costa.

 

“O sistema foi desenvolvido a partir da análise de como operam e se constituem mutuamente distintos marcadores sociais de diferença, como gênero, cor/raça, nível socioeconômico, idade, necessidades especiais e sexualidades, podendo implicar contextualmente na produção de desigualdades de acesso, permanência e mobilidade de estudantes, pessoal administrativo e docentes nas Instituições de Ensino Superior integrantes do Miseal”, completa.

 

Dificuldades

 

“Primeiramente, deve-se ressaltar que, durante o levantamento de dados sobre as populações acadêmicas (estudantes, técnicos administrativos e docentes), considerando as diversas dimensões e variáveis, percebeu-se a enorme ausência de dados sobre essas populações nas IES integrantes do projeto, o que dificultava a análise proposta”, aponta Feltrin. O primeiro passo para lidar com esse problema e avançar nos objetivos do Miseal, segundo ela, foi orientar as IES quanto à importância de conhecer suas populações.

 

Especificamente no Brasil, segundo ela, inúmeros são os desafios para a superação das desigualdades e exclusão social no ensino superior. “O principal deles é a criação de novas estratégias de atuação no âmbito
das IES que sirvam como subsídio para informar políticas educacionais mais efetivas na promoção da equidade de condições para o acesso, a permanência e mobilidade nas IES latino-americanas”. Nesse sentido, diz ela, “o OIE pretende destacar as ações dos países envolvidos no Miseal para inclusão social e equidade no ensino superior, como as políticas e programas de ações afirmativas, além da recomendação de boas práticas desenvolvidas pelas IES”.