Ciencia Portugal , Oporto, Viernes, 15 de mayo de 2015 a las 19:20

Vizinhos Distantes

Um novo método de detecção de exoplanetas permite analisar a composição química de suas atmosferas sem fazer uma transição entre a estrela e Terra

EGA/DICYT Em 1584 Giordano Bruno escreveu uma lição de astronomia bastante adiantanda para o seu tempo. Na sua obra ‘De l’infinito universo e mondi’ afirmava “Existem sóis inumeráveis; há inumeráveis terras que orbitam em torno destes sóis da mesma maneira que os nossos sete planetas dão volta em redor do nosso sol.” Giordano foi queimado numa fogueira por heresia em 1600, mas não há dúvida que uma das suas ideias acabou por ser comprovada.

 

Infelizmente tiveram que passar mais de 400 anos para provar que ele estava certo. Em Outubro de 1995, há 20 anos atrás, dois investigadores da Universidade de Genebra descubriram o primeiro corpo orbitando em torno de uma estrela que não o sol, o primeiro exoplaneta.

 

O seu nome é Pegasi 51-b, um planeta de tamanho próximo de Júpiter, mas muito mais próximo à estrela onde orbita em redor do que Júpiter está do Sol. Está a uma distancia de 50 anos-luz na constelação de Pegasus, o nossa vizinhança cósmica e a uma distancia incompreensivelmente grande para o nosso cerebro. Com a nave mais rápida que já criámos, a Voyager 1 – que saiu do sistema solar e está a viajar a 60 mil kilómetros por hora – tardaríamos a chegar a ese planeta uns 900 mil anos. Para contextualizar ese número, há 900 mil anos atrás a espécie Homo Sapiens não existía, a tecnologia dos hominídeos desse tempo era o fogo e a talha lítica (uma técnica de corte intencional da pedra). As estrelas estão muito longe.

 

Contudo continuamos a encontrar exoplanetas. Agora, em 2015, os astrónomos já descobriram quase dois mil e o número continua em contagem crescente. Graças a sofisticadas técnicas de detecção já descobrimos mundos 20 vezes mais pesados que Júpiter, planetas três vezes maiores que a Terra que estão cheios de diamante, mundos completamente cobertos de água. Maravilhas que nem nos atreveríamos a imaginar desde há décadas atrás e das quais ainda sabemos muito pouco.

 

Entre todos estes mundos, Pegasi 51-b, ese primeiro exoplaneta, voltou a ter relevância. A equipa de astrónomos liderados por Jorge Martins, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e a Universidade do Porto, desenvolveram um novo e importantíssimo método que permite analizar a atmosfera deste planeta. Até então um planeta tinha que passar pela sua estrela, sob a qual orbita, para que os investigadores na Terra pudessem analizar a sua atmosfera, chamando-se a isto o método de trânsito. A equipa do profesor Martins desenvolveu um método que permite analizar na parte do espectro electromagnético visível a atmosfera de um planeta só através do reflexo da sua luz, sem que tenha de ocorrer o designado trânsito.

 

Jorge Martins explica: “Este tipo de técnica de detecção tem uma grande importância científica já que nos permite medir a massa real do planeta e a sua inclinação orbital, a qual é essencial para uma maior compreensão do sistema. Também nos permite estimar a reflectividade do planeta, o albedo ( poder de reflexão de uma superfície) que pode ser usado para inferir a composição da sua superficie e da sua atmosfera”.

 

As implicações desta descoberta são espantosas. Num futuro não muito distante poderemos analizar as atmosferas de planetas mais pequenos e à distancia apropriada da sua estrela. Planetas que possivelmente tenham vida, e até mesmo vida inteligente. Seja o tipo de vida que seja, existirão biomarcadores na sua atmosfera (por exemplo uma alta presença de oxigénio) que não poderiam explicar-se sem fenómenos biológicos.

 

Giordano Bruno continuaba nessa sua obra “existem seres vivos que habitam esses mundos”. Talvez num futuro mais próximo do que imaginamos a humanidade possa comprovar essa afirmação.