Educación España , Salamanca, Lunes, 25 de mayo de 2015 a las 14:58
INESPO II

Aplicação ajuda a integrar na aula alunos com problemas de audição

A Universidade Pontifícia de Salamanca está a testar uma aplicação que transcreve o que o professor diz na sala de aula para crianças que têm deficiência auditiva

José Pichel Andrés/DICYT A Universidade Pontifícia de Salamanca (UPSA) desenvolveu uma aplicação móvel (“app”) que tem como objetivo ajudar os estudantes que têm dificuldades de audição na sala de aula. Através desta aplicação, chamada de Integrad@s, o professor pode comunicar-se com estes alunos através de uma tablete digital ou um telemóvel inteligente. Ao dar a aula, o professor usa um microfone que transmite as suas palavras e a app transcreve-as em tempo real, facilitando o seguimento das explicações pelos estudantes, ao poderem visualizar de forma escrita a expressão oral do docente. Atualmente, um grupo de professores está a avaliar a sua funcionalidade.

 

A aplicação, indicada para a adaptação do ambiente educativo, destina-se a crianças e jovens que sofrem de perda auditiva de leve a moderada, o que se conhece como ‘hipoacusia’. “Esses alunos muitas vezes sofrem de fadiga de atenção ao terem que fazer um grande esforço para entender ―apenas para ouvir― o que o professor diz, por isso é fácil que deixem de prestar atenção e percam o interesse e a oportunidade de adquirir uma formação adequada”, explicam a DiCYT Luz María Fernández e María Paz de Blas, investigadoras da Faculdade de Educação da UPSA e responsáveis por este projeto.

 

Durante o passado ano letivo, e com o apoio do professor e investigador da Faculdade de Informática da UPSA José Antonio de la Varga, desenhou-se uma aplicação para dispositivos Android que permite interatuar via Bluetooth. O projeto fazia parte do Clube Universitário de Inovação (CUI) desta instituição académica e teve também a participação dos alunos Mariano García, Carlota Estefanía Martín e María Martín.

 

A app que projetaram tem duas interfaces, uma para o estudante e uma outra para o professor, e configura-se com dois sistemas de alarmes, um emocional e outro cognitivo. Alertas emocionais permitem a interação entre professor e aluno, a fim de facilitar reforços para as tarefas completadas corretamente ou as adquisições de conceitos bem internalizados ou para fazer as correções precisas, se necessário. Alertas cognitivos são projetados para a transmissão de informações de conteúdo teórico e para a organização de exercícios práticos para consolidar o aprendido. O professor e o aluno têm a opção de aceder aos conteúdos específicos de cada unidade por meio de ícones diferentes para cada uma das matérias.

 

Em todo o caso, o aspecto mais útil é a transcrição da exposição oral do professor, que se faz automaticamente e em tempo real. As palavras do professor são captadas por um microfone e aparecem transcritas em texto no ecrã do telemóvel ou tablete do aluno com deficiência auditiva, o que supõe um importante reforço para tentar apanhar o máximo de informação possível e evitar a sua fadiga de atenção.


Compreensão leitora

 

“Sabemos que nessas crianças há um déficit de compreensão leitora: eles têm dificuldades semânticas e sintáticas e dificuldades de discriminação auditiva fonológica, decorrentes da perda de audição”, explica Luz María Fernández; “isto tem um impacto negativo sobre todas as matérias, especialmente aquelas com elevada ênfase em linguagem oral e escrita, mas com a app, que vai transcrevendo o texto, os alunos podem associar os sons que captura com a sua representação por escrito”. Assim, Integrad@s estaria a contribuir para resolver um grande problema. A linguagem escrita, afinal, transforma sons em letras (escrita) e letras em sons (língua oral).

 

Embora foi projetada especificamente para esses alunos, a aplicação poderia ser usada por toda a turma. “A funcionalidade em si da app deveria considerar-se como mais um elemento na sala de aula, um elemento integrador e inclusivo. Neste caso, poderíamos ter a aplicação disponível para todos os alunos, mas a ser apenas utilizada por aqueles que, por causa de qualquer dificuldade ou incapacidade, precisarem dela. É como as legendas na televisão: estão disponíveis para toda a gente, mas usam-nas só algumas pessoas”, diz María Paz de Blas, quem se uniu este ano ao projeto.

 

Além do mais, os investigadores também acreditam que a app seria adequado para os estudantes que têm outros problemas distintos da perda de audição, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

 

Do mesmo modo, tem de se considerar que a perda auditiva, ou hipoacusia, leve muitas vezes passa despercebida. E, por outro lado, este sistema não seria adequado para crianças a sofrerem de surdez total, uma vez que já utilizam a língua gestual e não poderiam pôr atenção às duas.

 

Testada em Porto Rico

 

Os primeiros testes reais foram realizados em Porto Rico, na escola San Gabriel, um centro especial para pessoas com deficiência auditiva. Os membros da equipa psicopedagógica do centro têm uma vasta experiência e, após testarem Integrad@s, consideraram que a aplicação era bem adequada, mas fizeram um pedido específico de melhoria: que a transcrição do texto em tempo real ficasse armazenada, de modo que os alunos pudessem voltar a rever o conteúdo da aula.

 

A fase atual do projeto, além de tentar incorporar este tipo de melhoras tecnológicas, tem como principal objetivo continuar a avaliar ainda mais o sistema em um ambiente real, em particular em um centro de Salamanca (Espanha) com estudantes de 10 a 18 anos. “Queremos ver se as crianças adquirem mais plenamente os conteúdos transmitidos pelo professor, enquanto melhora a atenção e compreensão leitora por meio do acesso visual ao léxico”, comenta Luz María Fernández.

 

O monitoramento é contínuo e os professores que colaboram mantêm um registo de cada uma das sessões. Tudo isso irá fornecer muita informação sobre a eficácia deste método, que afinal o que tenta é fortalecer a educação inclusiva, um modelo educacional que tem entre os seus princípios “que o ambiente tem de se adaptar ao aluno e não ao contrário”.

 

Se os resultados forem positivos, poder-se-á propor a implementação da aplicação em outros contextos e com outros grupos, incentivando um melhor desempenho académico e, portanto, a inclusão social.