Salud Portugal , Aveiro, Lunes, 25 de mayo de 2015 a las 19:35
INESPO II

Universidade de Aveiro identifica sequências de ADN específicas do vírus Ébola

Especialistas em bioinformática e biologia computacional publicam um trabalho que permite diferenciar espécies do vírus que podem ajudar a diagnosticar e tratar a doença

José Pichel Andrés/DICYT Especialistas em bioinformática e biologia computacional do Instituto de Engenharia Eletrónica e Informática (IEETA), da Universidade de Aveiro, identificaram sequências de ADN específicas do vírus Ébola que permitem diferenciar as distintas espécies deste vírus e distinguir o surto que começou na África no início de 2014 de outros episódios da doença. Este trabalho, recentemente publicado na revista Bioinformatics, poderá ter aplicações futuras no diagnóstico e tratamento do ébola.

 

Os cientistas selecionaram especificamente três sequências curtas de ADN presentes no genoma do vírus Ébola, mas não no genoma humano. Deste modo, potencialmente, estas regiões de ADN “poderiam servir para identificar o vírus em amostras de origem humana ou para o desenvolvimento de tratamentos mais seguros e mais eficazes”, explica à DiCYT Raquel Silva, uma das responsáveis pela investigação.

 

“As sequências que identificámos distinguem entre espécies e surtos do vírus”, deste modo, “os nossos resultados podem ser usados no diagnóstico”. Além disso, podem ser muito úteis como novos alvos terapêuticos porque essas regiões do genoma são “chave para a replicação do vírus”, diz a investigadora. Em todo o caso, é preciso confirmar estes resultados bioinformáticos com novos estudos no laboratório.

 

A pesquisa foi desenvolvida utilizando métodos computacionais para descrever um genoma usando a informação de outro. Especificamente, “utilizámos as sequências dos genomas de vírus Ébola que se iam depositando em bancos de dados públicos”, explica a investigadora, particularmente no NCBI (siglas em inglês do National Center for Biotechnology, ou Centro Nacional de Informação Biotecnológica, dos EUA).

 

“Este facto evidencia a importância de que a informação esteja disponível e da troca de dados entre a comunidade científica”, afirma a investigadora do IEETA, pois “sem acesso às sequências genómicas não poderíamos ter realizado este trabalho”. Por isso, a Universidade de Aveiro também disponibiliza para todos os cientistas o software que desenvolveu a equipa para esta investigação, chamado de EAGLE, e que pode ser descarregado a partir de http://bioinformatics.ua.pt/software/eagle/.

 

Validação das sequências de ADN

 

O próximo passo nesta linha de investigação deverá ser a validação das sequências de ADN identificadas como um meio para o diagnóstico ou tratamento da doença, mas para isso é necessário o financiamento, pelo que esta equipa está à procura de novos parceiros ou colaboradores para obtê-lo. Outra opção no futuro é aplicar o mesmo método que permitiu esta descoberta para outros patógenos de interesse biomédico.

 

“Eu acho que ainda sabemos muito pouco sobre o vírus Ébola”, comenta Raquel Silva, que confronta a reduzida investigação neste domínio se comparada com outros vírus, como o VIH, que tem focado o interesse da comunidade científica e o investimento das empresas farmacêuticas nos últimos anos. Em geral, os surtos de ébola são reduzidos, mas o último “registou mais de 25 000 casos e 10 000 mortes a lamentar”, o que significou “um despertar para a necessidade de aumentar a investigação” sobre um problema que ainda não tem cura. No entanto, o infortúnio tornou-se “uma oportunidade sem precedentes para ensaiar vacinas que levaria anos testá-las pelos procedimentos normais”.

 

Referência bibliográfica 

 

Three minimal sequences found in Ebola virus genomes and absent from human DNA. Raquel M. Silva, Diogo Pratas, Luísa Castro, Armando J. Pinho and Paulo J. S. G. Ferreira. Bioinformatics, 2015. DOI: 10.1093/bioinformatics/btv189