Alimentación Portugal , Aveiro, Jueves, 11 de junio de 2015 a las 14:28
INESPO II

Universidade de Aveiro avalia os riscos ambientais por metais pesados em Cabo Verde

Investigadores contribuem para um projeto promovido pela UNESCO e pela União Internacional das Ciências Geológicas com o objetivo de criar um atlas geoquímico global

José Pichel Andrés/DICYT O Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro levou a cabo um estudo sobre metais pesados no arquipélago de Cabo Verde, com o objetivo de realizar mapas geoquímicos das ilhas e verificar possíveis riscos ambientais. Este estudo, baseado nas recomendações de um projeto internacional da UNESCO, permitirá tomar melhores decisões sobre o uso dos solos e a proteção do meio ambiente e da saúde da população, além de servir como referência para outros países.


A equipa de investigação da Dra. Marina Cabral Pinto realiza estudos de campo a recolher amostras de rochas, solos, sedimentos e águas de correntes para analisar em laboratório e determinar as concentrações de elementos potencialmente nocivos para a saúde humana, tais como os metais pesados. A partir daí, os cientistas elaboram mapas e verificam se estas concentrações têm uma origem natural, antropogénica ou ambas.


“Ao estudarmos as concentrações químicas em sedimentos, solos ou águas, analisamos se existe qualquer risco de exposição a elementos potencialmente tóxicos devido a concentrações elevadas ou exposição prolongada a baixas concentrações. Um exemplo é o risco causado pela exposição a metais cancerígenos”, explica à DiCYT a investigadora. Do mesmo modo, a equipa também estuda a presença destes elementos em amostras biológicas humanas, tais como urina, sangue ou cabelo, tomadas em zonas de risco.


Um dos seus trabalhos mais recentes, publicado na revista científica ‘Journal of African Earth Sciences’, levou este grupo de investigação para Cabo Verde no âmbito do Programa Internacional de Geociências promovido pela UNESCO e pela União Internacional das Ciências Geológicas, que visa produzir uma base de dados geoquímicos universal e elaborar um atlas geoquímico global. Estes estudos permitiriam distinguir a poluição causada pelos seres humanos da que não o é; isto é especialmente útil em países como Cabo Verde, onde ainda não existe uma legislação sobre os usos da terra.


Os resultados das análises realizadas na ilha de Santiago, a maior do arquipélago, revelam que a distribuição de metais nocivos está intimamente relacionada com a cartografia geológica, ou seja, que provavelmente tenham uma origem natural. No entanto, “não está completamente descartado” que a concentração de alguns elementos esteja relacionada com as atividades humanas em algumas localidades ou por atividades agrícolas. Seria o caso do arsénio, mercúrio, cádmio, zinco e chumbo.


Geomedicina


Elementos como cobalto, cromo, níquel, cobre e vanádio são aqueles que podem representar maiores riscos para o meio ambiente e a agricultura, mas a equipa de investigação de Marina Cabral Pinto também está muito interessada em conhecer a influência dos metais para a saúde humana, a denominada Geomedicina. “Sabe-se que algumas doenças podem ser causadas ou favorecidas por excesso ou ausência de certos elementos”, comenta a investigadora. “Nós temos estudado as ligações de algumas neuropatologias, tais como Alzheimer e Parkinson, além do risco de cancro, com alguns elementos químicos com que a população está em contacto no seu ambiente”, acrescenta.


O estudo tem importantes aplicações locais, proporcionando dados de referência para futuras investigações em Cabo Verde, bem como para o desenvolvimento da sua legislação, mas também vai permitir a comparação com outros países com contextos geológicos e climáticos semelhantes. Os cientistas esperam concluir o trabalho em outras ilhas do arquipélago.

 

Referência bibliográfica 

 

Heavy metals of Santiago Island (Cape Verde) top soils: Estimated Background Value maps and environmental risk assessment. M.M.S. Cabral Pinto, E. Ferreira da Silva, M.M.V.G. Silva, P. Melo-Gonçalves. Journal of African Earth Sciences, Volume 101, January 2015, Pages 162–176. doi:10.1016/j.jafrearsci.2014.09.011