Alimentación Portugal , Aveiro, Martes, 16 de junio de 2015 a las 12:13
INESPO II

Incêndios e chuvas subsequentes mobilizam mercúrio do solo

Universidade de Aveiro estuda o impacto do fogo na dispersão de metais poluentes em florestas de eucaliptos e pinheiros

José Pichel Andrés/DICYT Uma investigação do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), da Universidade de Aveiro, em colaboração com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), demonstrou que os incêndios florestais e subsequentes precipitações desempenham um papel importante para redistribuir o mercúrio, um metal contaminante que, após esses episódios, se acumula nos solos limítrofes e nas águas. Os cientistas descobriram que as florestas de eucalipto contêm mais mercúrio do que as de pinho, os dois casos incluídos no estudo.


“O mercúrio é um metal tóxico e tem um comportamento complexo no ambiente, pode permanecer por décadas, mesmo que as fontes de emissão tenham sido removidas”, explica à DiCYT Isabel Campos, cientista do grupo de investigação ‘Earth Surface Processes Team’.
Além disso, o mercúrio acumula-se na cadeia alimentar e pode ter efeitos prejudiciais não só para o ambiente, mas também para a saúde humana. Portanto, “é importante estudar e verificar o transporte, a mobilização e o destino deste metal nos ecossistemas”.


A investigação, publicada na revista científica CATENA, revela que os solos que sofreram um incêndio perdem mercúrio porque este metal é altamente volátil. Quando chove, este metal presente nas cinzas é parcialmente transmitido ao solo, mas “este aumento no chão é menor do que a perda de mercúrio nas cinzas, o que significa que a percentagem restante pode ter passado para áreas vizinhas ou sistemas aquáticos”, explica a investigadora. Deste modo, “os incêndios florestais e subsequentes eventos de chuva desempenhariam um papel importante na mobilização de mercúrio no meio ambiente”, acrescenta.


O mais importante destes resultados é que a mobilização de mercúrio depois de um incêndio e das posteriores chuvas pode ser uma fonte de contaminação do solo, das águas subterrâneas e de outros habitats aquáticos para além das áreas queimadas. Isto é, os incêndios podem ser uma fonte de poluição ambiental muito mais além das zonas atingidas pelas chamas, pelo que esta investigação deveria servir para “definir estratégias a mitigarem os danos causados pelos incêndios nos ecossistemas terrestres e aquáticos”.


Um aspecto relevante da pesquisa é a diferença que há segundo do tipo de árvore que habita a floresta. Os solos nas florestas de eucalipto têm níveis de mercúrio mais elevados do que nas de pinheiro, e esta tendência também foi observada nas cinzas. Parece que os eucaliptos acumulam mais mercúrio e, portanto, criam as condições para o seu solo reter mais este elemento. O eucalipto é uma das espécies mais representativas das florestas do centro de Portugal, embora não seja uma espécie autóctone.


Estudos essenciais para a recuperação da floresta


Em geral, os incêndios florestais ocasionam enormes perturbações e os cientistas consideram “essencial” estudar as mudanças nas propriedades biológicas, físicas e químicas dos solos, uma vez que são “o meio de crescimento da vegetação e biomassa microbiana”. Para restabelecer as condições prévias ao fogo é importante saber como são redistribuídos elementos como carbono, sódio, potássio, cálcio, ferro, zinco ou cobre, mas também se terá em mente que “o excesso de elementos não essenciais pode ter efeitos prejudiciais sobre a produtividade e a sustentabilidade dos ecossistemas” e, entre eles, estão os metais como o mercúrio.


A investigação foi realizada em áreas recentemente queimadas na Ermida e em São Pedro do Sul (Região Centro de Portugal), bem como em outras zonas não queimadas que serviram como controlo para o estudo, e também através de experimentos. O trabalho envolveu uma equipa multidisciplinar de especialistas em hidrologia, química, ecotoxicologia e ecologia. Nos estudos atuais, apoiados pelo projeto FIRETOX (“Toxic effects of wildfires on aquatic systems”) o grupo está a estudar os efeitos que o transporte de metais das áreas queimadas terá nas águas e organismos que as habitam.

 

Referência bibliográfica 

 

Effects of wildfire on mercury mobilisation in eucalypt and pine forests. Isabel Campos, Carlos Vale, Nelson Abrantes, Jan Jacob Keizer, Patrícia Pereira. CATENA, Volume 131, August 2015, Pages 149–159. doi:10.1016/j.catena.2015.02.024