Medio Ambiente Portugal , Aveiro, Jueves, 18 de junio de 2015 a las 11:25
INESPO II

Efeitos das alterações climáticas na regeneração de vermes marinhos

A Universidade de Aveiro descobriu que as mudanças na acidez, salinidade e temperatura da água modificam a capacidade regenerativa de um poliqueta amplamente utilizado como isco

José Pichel Andrés/DICYT Investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), da Universidade de Aveiro, demonstraram experimentalmente que a acidificação dos oceanos, a redução da salinidade ou a temperatura da água alteram a capacidade de regeneração da espécie Diopatra neapolitana, um verme que pode atingir até 30 centímetros.

 

Os investigadores analisaram Diopatra neapolitana pelo seu interesse comercial, uma vez que é capturado para ser usado como isco de pesca, e pela sua importância ecológica, como fonte de alimento para muitos peixes e crustáceos, segundo explica à DiCYT a investigadora do CESAM Adília Pires. Além disso, é uma espécie espalhada amplamente por toda a Europa, que se pode encontrar da costa atlântica francesa para o Mediterrâneo, portanto, o seu estudo é de grande interesse.

 

Para os experimentos, os cientistas praticaram cortes a esses organismos e colocaram-nos em aquários de vidro para verificarem como regeneravam a parte posterior do seu corpo. Periodicamente tomavam medidas dos vermes submetidos a diferentes condições de acidez, salinidade e temperatura.

 

Os resultados mais importantes aparecem em um artigo publicado na revista Marine Environmental Research e indicam que uma diminuição do pH do mar (maior acidez) e alterações abruptas na salinidade fazem com que estes poliquetas precisem de mais dias para completar a regeneração. Inversamente, se aumentar a temperatura, a regeneração é mais rápida.

 

As previsões nas alterações climáticas indicam que estes fatores todos poderiam acontecer em conjunto, tanto as mudanças no pH e na salinidade ―que dificultam a regeneração―, quanto o aumento das temperaturas ―que a acelera―. No entanto, os cientistas não têm claro que umas circunstâncias vão compensar as outras. “É importante estudar os efeitos combinados de temperatura e salinidade, porque não sabemos qual das duas condições pode ter mais impacto”, explica a especialista.

 

Em todo o caso, esta linha de investigação “pode ajudar a entender as possíveis consequências das alterações climáticas”. A desaceleração na regeneração teria consequências negativas para a reprodução da espécie e, num futuro próximo, isto poderia pôr em risco a sua conservação, de acordo com os especialistas da Universidade de Aveiro.

 

“Algumas espécies são capazes de se adaptar bem às alterações climáticas, enquanto as mais sensíveis são seriamente afetadas; no caso de D. neapolitana precisamos de fazer mais estudos para ter mais certeza, embora poderia ser capaz de se adaptar, a menos que a salinidade seja muito baixa”, afirma a investigadora.

 

Consequências para a cadeia alimentar

 

Em qualquer caso, se as alterações climáticas reduzirem significativamente algumas espécies, as consequências sentir-se-iam em toda a cadeia alimentar, o que pode causar algumas espécies que não são diretamente afetadas, fiquem sem alimento e tenham que procurar outras maneiras de se alimentar.

 

Embora esta investigação de Adília Pires se tenha concentrado em poliquetas e a sua sensibilidade às alterações climáticas, também analisa como são afetados esses animais perante outros distúrbios, como os produtos contaminantes que acabam nas águas do mar. Entre outras coisas, verificou-se que a contaminação por produtos farmacêuticos também modifica a capacidade regenerativa destes organismos, provocando alterações a nível celular.

 

Referência bibliográfica

 

“The effects of water acidification, temperature and salinity on the regenerative capacity of the polychaete Diopatra neapolitana”. Adília Pires, Etelvina Figueira, Anthony Moreira, Amadeu M.V.M. Soares, Rosa Freitas. Marine Environmental Research, Volume 106, May 2015, Pages 30–41.