Alimentación Portugal , Aveiro, Viernes, 08 de enero de 2016 a las 09:54

Descobertas sete espécies de invertebrados exclusivas da Serra do Buçaco

Trabalho decorreu no âmbito do projeto BRIGHT, em parceria com a Universidade de Aveiro

UA/DICYT Sete espécies de invertebrados são apontadas como endémicas, ou seja, exclusivas da Mata Nacional do Buçaco, na sequência de estudos realizados no âmbito do projeto BRIGHT, acrónimo de Bussaco´s Recovery from Invasions Generating Habitat Threats, da Fundação Mata do Buçaco (FMB) e em parceria com a Universidade de Aveiro (UA). Estes resultados foram anunciados no decorrer da intervenção de Tatiana Pinhal e João Gonçalo Moreira, estudantes de Biologia, respetivamente, das universidades de Aveiro e Porto, integrada nas jornadas do “Sement Event”, promovidas pelo grupo de trabalho do BRIGHT, no Luso.

 

Nas sete espécies apenas conhecidas na Mata Nacional do Buçaco incluem-se escaravelhos e colêmbolos. É o caso dos escaravelhos (Coleoptera) Abromus lusoensis (Coiffait, 1984), Euconnus fageli (Franz, 1960), Hesperotyphlus beirensis Coiffait, 1964, Hesperotyphlus vicinus Coiffait, 1964, Hyllaena lusitanica Fagel, 1960, Pselaphostomus bussacensis bussacensis (Dodero, 1919), Stenus bussacoensis Puthz, 1971 e ainda o colêmbolo Pseudosinella gamae Gisin, 1967. Tatiana Pinhal salienta que estas espécies se encontram muito mal estudadas, sendo por isso importante investir na sua valorização e conhecimento.

 

Outras espécies raras como a formiga Solenopsis lusitanica Emery, 1915, ou o escaravelho Anoplodera sexguttata (Fabricius, 1775) encontram neste local um lar ideal. Mas não foram as únicas. Espécies protegidas pela união europeia como o longicórnio Cerambyx cerdo mirbecki (Lucas, 1842), a vaca-loura (Lucanus cervus (Linnaeus, 1758)), as borboletas Euphydryas aurinia (Rottemburg, 1775) e a Euplagia quadripunctaria (Poda, 1761) ou ainda a lesma Geomalacus maculosus Allman, 1843, viram na Mata Nacional do Buçaco um oásis para a sua sobrevivência e conservação. Todas estas espécies estão dependentes da floresta nativa e carecem de maior atenção, especialmente devido às alterações climáticas e às ameaças de perda de habitat nas quais as plantas invasoras e atividades humanas prejudiciais ao meio ambiente têm representado parte importante, sublinha a investigadora Milene Matos, da Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da UA, uma das orientadoras dos trabalhos.

 

O segundo maior contributo para o conhecimento do Buçaco

 

No total, calcula-se que haverá, pelo menos, 1.258 espécies de invertebrados catalogadas na Serra do Buçaco, sendo que 219 destas surgiram na sequência do trabalho ali desenvolvido nos últimos quatro anos. No projeto BRIGHT, para além de Tatiana Pinhal e João Gonçalo Moreira, o trabalho envolveu ainda, originalmente, a participação dos estudantes Ricardo Santos, Sofia Jervis e Cátia Paredes, o contributo de vários especialistas, como Eduardo Marabuto, Pedro Pires, Martin Corley e de vários voluntários, sendo Edmundo Santos um desses colaboradores. A orientação nestes estudos de fauna foi garantida por Milene Matos e Carlos Fonseca, coordenador da Unidade de Vida Selvagem.

 

Estes trabalhos constituem o segundo maior contributo para o conhecimento da Serra, após o pioneirismo do primeiro entomólogo português, Paulino de Oliveira há mais de 120 anos atrás.

 

Os invertebrados, onde se incluem os insetos e outros animais, estão fortemente ligados ao nosso dia-a-dia sendo uma base dos serviços aos ecossistemas, controlando pragas, controlo da fitossanidade das culturas silvícolas, agrícolas e florestais, explica Tatiana Pinhal. Além disso, são excelentes bioindicadores da qualidade dos solos e das águas por serem bastante suscetíveis às alterações bioquímicas do meio, sendo que podem ajudar-nos de forma mais imediata a perceber as carências dos habitats e os impactos nos habitats. Os invertebrados são imensamente diversos e permitem ainda relevar a importância da Mata Nacional do Buçaco para a preservação de uma biodiversidade em declínio e colmatar a escassez de informação destes grupos taxonómicos para o centro do país.