Ciencia España , Salamanca, Lunes, 06 de junio de 2016 a las 17:29

Edição de genes é um novo desafio para a ética e a lei

Congresso ‘BIO.IBEROAMÉRICA 2016’ aborda os desafios legais e éticos introduzidos pelas novas técnicas de engenharia genética

JPA/DICYT A biotecnologia não só reúne várias disciplinas científicas, mas tem repercussões em todas as áreas do conhecimento humano, como foi demonstrado hoje no primeiro Congresso Ibero-americano de Biotecnologia ‘BIO.IBEROAMÉRICA 2016. Biotecnología Integrando Continentes’ (Biotecnologia a integrar continentes), que decorre em Salamanca (Espanha). Prof. Carlos María Romeo Casabona , diretor da ‘Cátedra Universitaria de Derecho y Genoma Humano (Direito e Genoma Humano) Fundación BBVA-Diputación Foral de Vizcaya’ das universidades de Deusto e do País Basco, analisou uma questão de atualidade: a edição de genes do ponto de vista da ética e da legislação.


Recentemente, uma técnica conhecida como CRISPR permitiu a edição do genoma. A controvérsia surge pela possibilidade de interferir com a herança genética dos seres vivos, especialmente no caso dos seres humanos. “Tenha em conta que se a alteração é feita na linhagem germinativa, a mudança não irá afetar um único indivíduo, mas perpetuar-se-ia ao longo das gerações subsequentes” expõe o especialista, “isso é mudar a espécie humana e, se for feito para fins terapêuticos, parece que todos podemos concordar, mas também poderia servir para aperfeiçoar traços e isto é um assunto muito diferente”.


Daí brota o debate: até que ponto deve ser permitido? Em geral, domina uma “opinião favorável, mas com reservas”. Diferentes escolas de pensamento dão respostas variadas, algumas de forte oposição, outras acreditam que se deve permitir em alguns casos, e mesmo há quem argumenta que a melhora da espécie humana é “uma obrigação moral”.


Os investigadores referem que a nova técnica é simples e segura, mas “o genoma não é um quebra-cabeças, os cientistas sabem que se removerem uma peça e colocarem uma outra, poderiam resultar interferências na totalidade do genoma”; portanto, a questão da segurança está também em debate.
De acordo com Carlos Romeo, resolver esta questão não é um problema urgente, toda vez que hoje em dia para ter filhos livres de doenças há muitas possibilidades com as técnicas de reprodução assistida. Além disso, enquanto são resolvidas as questões éticas, “devemos tomar as referências que já temos”, afirma. Por exemplo, quando surgiu a possibilidade da clonagem de seres vivos na década de 1990, as perguntas foram totalmente novas, mas agora o debate sobre a edição do genoma tem tantos pontos em comum que pode ser construído sobre aquelas observações anteriores.

 

Patente de genes


Outro aspecto controverso da edição de genes é como proteger os novos desenvolvimentos em biologia. “As descobertas têm pouca proteção legal: se alguém descobre uma estrela, não a pode patentear, mas se alguém inventa qualquer coisa, sim. O problema é que a edição de genes fica na fronteira entre descoberta e invenção”, explana o palestrante. A possibilidade de obter uma patente para a própria técnica CRISPR tem levantado debates legais nos Estados Unidos da América. Mais uma vez existem precedentes, tais como a tentativa de patentear genes do cancro da mama para fins de diagnóstico. No entanto, a engenharia genética “é diferente, não existe na natureza, é algo novo que pode ter as características de uma invenção”, afirma Romeo, que é membro da Comissão de Bioética da Espanha.

 

Saúde, protagonista no Congresso


Por outro lado, o dia de hoje em BIO.IBEROAMÉRICA 2016 começou com a palestra plenária de Mark Sliwkowski, cientista da empresa Genentech, que desenvolveu alguns dos anticorpos monoclonais mais importantes na atualidade, aprovados para o tratamento do cancro da mama HER2-positivo. Este investigador possui mais de 30 patentes e mais de 100 publicações.


Também na área biomédica sobressaiu a apresentação de Raquel Barros, da Universidade de Lisboa (Portugal), uma engenheira química que trabalha na separação de produtos biológicos. “Concentramo-nos na purificação de anticorpos através de várias técnicas”, comentou. “Visamos encontrar processos alternativas e mais baratos do que os utilizados agora para obter anticorpos, que são proteínas terapêuticas a combaterem doenças como o cancro, Alzheimer e muitas outras doenças crónicas”.


Hoje em dia, para obtermos os anticorpos é precisa uma plataforma de cromatografia, que é muito cara. Conseguir um processo mais económico vai ser essencial para avançar para um acesso mais universal à medicina. Atualmente, Barros está a trabalhar em um projeto europeu juntamente com duas empresas espanholas e tem outras colaborações com cientistas de México e Chile.

 

Plantas a serem “biofábricas”


Melhorar a agricultura é outra das principais questões abordadas no Congresso BIO.IBEROAMÉRICA 2016. “No início, o objetivo principal da biotecnologia é aumentar o desempenho do campo, o que significa termos plantas com menos doenças e maior produtividade, mas já estamos trabalhando em uma segunda geração de aplicações como plantas e animais com propriedades específicas, por exemplo, um milho com maior quantidade de aminoácidos”, explicou Lourdes Cabral, investigadora de EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), instituição brasileira dedicada às ciências agrícolas.


Uma terceira fase procura que as plantas se comportem como “biofábricas”, isto é, que produzam substâncias específicas com aplicações farmacêuticas e de energéticas. “Se pensarmos no consumidor, os seres vivos estão trabalhando para nós, produzindo coisas novas”. A enorme biodiversidade brasileira é essencial para enfrentar este tipo de investigação, pois por vezes, estas melhoras biotecnológicas estão baseadas em acrescentar a uma determinada planta características de outra espécie. Como resultado, por exemplo, “a soja pode ser plantada em locais onde antes não era possível” e, graças a isso, o Brasil tornou-se um líder exportador deste produto.

 

Na mesma linha da biotecnologia no setor da agricultura, o espanhol Roberto Solano é o protagonista de outra das conferências plenárias. Este investigador do Centro Nacional de Biotecnologia de Madrid (Espanha), pertencente ao CSIC, é um dos cientistas mais citados nos últimos anos no campo das ciências agrícolas. A sua área de trabalho são os ‘jasmonates’, hormónios vegetais que contribuem para as plantas se protegerem de perigos, tais como fungos e insetos e têm inúmeras aplicações biotecnológicas.