Alimentación Portugal , Oporto, Martes, 26 de febrero de 2019 a las 10:03

Descodificação do genoma do grande tubarão-branco tem ADN da U.Porto

Uma descoberta que poderá mostrar-se útil para futuros estudos sobre o cancro e doenças do envelhecimento nos seres humanos

UP/DICYT Um consórcio internacional, do qual fez parte o geneticista Agostinho Antunes, Coordenador do Grupo de Genómica Evolutiva e Bioinformática do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) e professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), conseguiu descodificar o genoma do tubarão-branco (Carcharodon carcharias), um dos mais icónicos e temidos animais marinhos.

 

O trabalho, publicado no prestigiado jornal científico “Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America” (PNAS), representa um importante avanço científico no sentido de se entender a biologia dos tubarões em geral. Mas não só. Entre as evidências encontradas destaca-se a grande estabilidade do ADN do tubarão-branco, que lhe garante uma maior resistência a doenças e ferimentos. Uma descoberta que poderá mostrar-se útil para futuros estudos sobre o cancro e doenças do envelhecimento nos seres humanos.

 

O consórcio internacional de investigadores foi liderado por cientistas da Nova Southeastern University (Florida, EUA), que compararam o genoma do tubarão-branco (‘Carcharodon carcharias‘) com o de outras espécies: desde os humanos ao tubarão-baleia. “Deste estudo destaca-se o grande desafio de sequenciar e anotar um genoma de grandes dimensões, já que o genoma do tubarão-branco é 1,5 vezes maior do que o dos seres humanos”, explica Agostinho Antunes. Tanto que “foram anotados 24520 genes do genoma do grande tubarão-branco que possui 4,63 Giga pares de bases (Gpb)”, acrescenta.

 

Os dados revelaram então que o grande conteúdo genético do tubarão-branco é enriquecido com mecanismos que aumentam a estabilidade do genoma (ADN) agindo como defesas contra estragos no ADN. Estes dados dão ênfase a uma pressão seletiva que combina: o grande tamanho do genoma, alto conteúdo de repetição, alta representação de retrotransposões, grande tamanho corporal e também longo tempo de vida. De facto, o tubarão-branco pode atingir 73 anos de vida e o tubarão-baleia pode alcançar os 140 anos.

 

Estas mutações adaptativas foram encontradas em genes intimamente ligados ao reparo do ADN, à resposta ao dano no ADN e à tolerância ao dano no ADN, permitindo uma maior resistência ao envelhecimento entre outras doenças. O fenómeno oposto, a instabilidade do genoma, que resulta de danos acumulados no ADN, é bem conhecido por predispor os seres humanos a numerosos cancros e doenças relacionadas com o envelhecimento. O estudo refere ainda que são evidentes as adaptações moleculares para a cicatrização de feridas, com seleção positiva em genes-chave envolvidos no processo de cicatrização.

 

Além das evidências já mencionadas, importa referir que o tubarão-branco, tendo um agudo senso de olfato, revelou um genoma com muito poucos genes codificadores de recetores olfativos, aspeto que contrasta com a grande quantidade de genes olfativos presentes nos mamíferos, podendo atingir cerca de 400 genes em humanos, ou até 2000 genes em elefantes. No entanto, o elevado número de cópias de genes vomeronasal verificados no tubarão-branco (13), no tubarão-baleia (10) e no tubarão-elefante (30), sugerem que esta família de genes pode estar por trás do forte sentido olfativo destes peixes cartilaginosos.

 

Os impactos do estudo publicado no boletim da Academia Nacional das Ciências norte-americana são transversais: além de permitirem direcionar os esforços de conservação desta e outras espécies de tubarões, poderão mostrar-se úteis para estudos de combate ao cancro e doenças do envelhecimento, assim como melhorar o tratamento de ferimentos e potenciar o processo de cicatrização nos humanos.