Medio Ambiente Portugal , Aveiro, Lunes, 30 de diciembre de 2019 a las 15:09

Aves também bebem vinho de palma no arquipélago dos Bijagós

Um estudo documentou, pela primeira vez, três espécies de aves (Tecelão-malhado Ploceus cucullatus, Engole-malagueta Pycnonotus barbatus e Beija-flor do Gabão Anthreptes gabonicus) a alimentarem-se em pontos de recolha de seiva de palma

UA/DICYT Investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro (UA) e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa observaram três espécies de aves a alimentarem-se de seiva de palma, parcialmente fermentada, aproveitando a recolha feita nas palmeiras pelas populações locais para produção de vinho de palma, no Arquipélago dos Bijagós, Guiné Bissau.

 

São poucos os grupos de animais vertebrados que conseguem alimentar-se de seiva de plantas, no entanto, algumas espécies de aves e mamíferos incluem este recurso altamente energético na sua dieta.

 

Um estudo realizado em 2019 por investigadores do CESAM e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa documentou, pela primeira vez, três espécies de aves (Tecelão-malhado Ploceus cucullatus, Engole-malagueta Pycnonotus barbatus e Beija-flor do Gabão Anthreptes gabonicus) a alimentarem-se em pontos de recolha de seiva de palma. Na verdade, o consumo de “vinho de palma”, produzido a partir da seiva recolhida das palmeiras, é uma prática comum em muitos países do Oeste Africano. Para isso os habitantes locais fazem cortes no topo das árvores a partir dos quais extraem a seiva.

 

Neste trabalho, que decorreu durante três meses na ilha de Orango, no arquipélago dos Bijagós, as aves foram observadas a tirar partido desta oportunidade, bebendo diretamente dos pontos de recolha de seiva nas palmeiras. Esta seiva, além de rica em açúcares, pode também ser uma fonte de água importante na época seca. No entanto, Apesar de não se terem observado alterações no comportamento destas aves, esta seiva já está parcialmente fermentada, contendo entre 5,6 e 7,6 por cento de álcool (o equivalente a uma cerveja).

 

"De alguma forma estas espécies parecem estar adaptadas para lidar com este nível de álcool, mas serão necessárias mais experiências para o provar” explica Jorge Gutiérrez, um dos autores deste trabalho. Os autores destacam ainda que é muito interessante “o facto destas aves potencialmente aprenderem este comportamento de aproveitamento deste recurso umas com as outras, podendo servir como modelos de estudo de transmissão cultural em ambiente selvagem”.

 

Este é um exemplo de um caso em que o Homem facilita o acesso de alimento a estas espécies de aves que, de outra forma, não conseguiriam aproveitar este recurso. Interessante também é o facto destas aves parecerem estar familiarizadas com a localização e produção dos diferentes pontos de recolha e defenderem-nos ativamente de outras que tentem alimentar-se neles.

 

Os próximos passos serão “investigar a ocorrência deste comportamento em outras ilhas do arquipélago dos Bijagós e realizar experiências com aves marcadas individualmente para se perceber a relevância do vinho de palma na sua alimentação e o potencial papel da transmissão cultural neste comportamento” diz Jorge Gutiérrez.