Tecnología España , Salamanca, Viernes, 03 de junio de 2016 a las 10:58

“A biotecnologia vai ser uma ferramenta importante para o desenvolvimento sustentável na Ibero-América”

O nicaraguense Pedro Álvarez, investigador na Rice University de Houston (Texas, EUA), é um dos conferencistas mais relevantes no Congresso BIO.IBEROAMÉRICA 2016, que começa no próximo domingo em Salamanca

JPA/DICYT No próximo domingo, 5 de junho, começa o primeiro Congresso Ibero-Americano de Biotecnologia BIO.IBEROAMÉRICA 2016 ‘Biotecnologia a integrar continentes’. Ao longo de quatro dias, investigadores de vários ramos da biotecnologia vão se reunir em Salamanca. Um dos conferencistas mais destacados deste encontro internacional será Pedro Álvarez, cientista da Nicarágua na Rice University de Houston (Texas, EUA), que dedicou grande parte das suas pesquisas a desenvolver novos métodos para fornecer água potável à população.


A sua palestra incidirá sobre a importância da água para a saúde pública e o desenvolvimento económico. “A convergência da nanotecnologia com a biotecnologia pode nos ajudar a desenvolver processos avançados de tratamento descentralizado da água para subministrar ajuda humanitária, responder às emergências, revitalizar a nossa infraestrutura urbana de purificação da água, proteger a saúde pública e facilitar o desenvolvimento sustentável”, afirma o especialista, que é diretor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental na sua universidade e é fundador da Academia das Ciências da Nicarágua.


Na conferência, irá explicar como os nanomateriais interagem com sistemas biológicos, o que é importante para desenvolver processos de desinfecção mais eficientes e para mitigar consequências imprevistas não pretendidas. As contribuições feitas pelo prof. Pedro Álvarez neste campo permitiram-lhe ganhar o prestigioso prémio Clarke, concedido pelo Instituto Nacional de Investigação da Água dos Estados Unidos da América.


Ao longo da sua trajetória, ele fez contribuições significativas para a limpeza de sítios contaminados por resíduos perigosos e para a proteção da qualidade da água. Por exemplo, desenvolveu novas estratégias para estimular a biodegradação de substâncias tóxicas em aquíferos contaminados. O investigador analisou também os mecanismos pelos quais os biocombustíveis, como o etanol, aumentam o alcance dos derramamentos de gasolina e a resistência a antibióticos em estações de tratamento de água. Além disso, a sua equipa decidiu utilizar as extraordinárias propriedades catalíticas, fotónicas e magnéticas de alguns nanomateriais para desinfectar a água sem os “danos colaterais” que produzem o cloro e o ozono e estudou como os nanomateriais interagem com bactérias que são a base dos ecossistemas.

 

O desafio das alterações climáticas

 

Toda esta experiência faz com que Pedro Álvarez tenha um conhecimento profundo dos desafios ambientais que a humanidade vai enfrentar nos próximos anos, especialmente a mudança climática. “É um grande desafio em muitas dimensões, incluindo a segurança hídrica, pois está a se acentuar a escassez de água doce, com secas mais frequentes e intrusão salina nos aquíferos perto do litoral”, adverte. Portanto, ele chama para uma maior proatividade a fim de mitigar as alterações climáticas e adaptar-se a elas, ou seja, “evitar o incontrolável” e “administrar o ineludível”, respetivamente.


"Nós estamos a usar a nanotecnologia para desenvolver reatores que serão compactos, fáceis de implantar e capazes de tratar águas de todos os tipos, incluindo água do mar, para prover de fontes não convencionais de uma maneira económica. Estes reatores vão nos ajudar a nos adaptar às alterações climáticas e serão como os telefones móveis da indústria da água, no sentido de grande prestação de serviço com pouca infraestrutura”, explana o especialista.


Em sua opinião, as pesquisas mais importantes do ponto de vista prático e mais interessantes do ponto de vista intelectual são as interdisciplinares. No que diz respeito à água, seria desejável a gestão integrada, a descobrir oportunidades para a sua reutilização e minimização do uso de energia. Pelo outro lado, “o desenvolvimento de novos materiais, muitos deles biomiméticos, pode permitir purificar a água de fontes não convencionais de forma mais económica”.

 

Acrescentar valor aos recursos naturais

 

Em relação ao Congresso BIO.IBEROAMÉRICA 2016, que reúne especialistas de vários países, Pedro Álvarez acredita que a biotecnologia será um elemento-chave para a região da América Latina. “A biotecnologia será uma ferramenta importante para o nosso desenvolvimento sustentável, ajuda-nos a construir uma economia baseada no conhecimento para acrescentar valor aos nossos recursos naturais”, refere. Aliás, “pode nos ajudar a explorar a nossa rica biodiversidade e contribuir para a segurança alimentar e para a produção de biocombustíveis e medicamentos e, claro, também para reciclar água para aumentar a segurança hídrica”.


Ainda que este cientista nicaraguense desenvolveu a sua trajetória investigadora nos EUA, ele acha que “não é absolutamente necessário emigrar porque na América Latina há muitas universidades e centros de investigação com excelentes programas na área da biotecnologia”; no entanto, “ajuda ter uma perspetiva internacional, especialmente a adquirida em países onde a ciência e engenharia em geral estão mais avançadas”. Além disso, “ninguém é um profeta em sua terra, e é mais fácil ser reconhecido localmente quando a pessoa tem sucesso no exterior”.

 

O potencial biotecnológico da Ibero-América

 

Em sua opinião, a Ibero-América destaca em biotecnologia agrícola, dada a vantagem competitiva de possuir quase um quarto das terras produtivas do planeta. “Também desenvolvêramos processos avançados de fermentação, por exemplo, a produção de biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel”. Finalmente, “temos centros de excelência para produzir biofármacos, incluindo vacinas, e em biotecnologia ambiental sobressaímos em processos anaeróbios para o tratamento de águas residuais e lamas".

 

Todo este potencial da biotecnologia deve ser aproveitado do ponto de vista económico, uma vez que “pode gerar empregos e divisas”, mas também pela sua contribuição para a segurança alimentar, para “aumentar a produção de alimentos e o seu valor nutricional”, e para a saúde pública, porque a biotecnologia produz antibióticos, vacinas e todos os tipos de medicamentos.

 

A importância do congresso

 

O desenvolvimento desta conferência pode ser um marco importante para difundir a biotecnologia ibero-americana. Além da criação de uma federação de sociedades de biotecnologia ibero-americana, que sairá desta reunião, é “uma excelente ideia para partilhar conhecimentos e práticas, servir como um fórum para desenvolver estratégias conjuntas para a produção e exportação e ajudar a desenvolver um ecossistema regional de inovação” conclui o cientista da Rice University.