Health Spain , Salamanca, Friday, January 25 of 2013, 15:41

Banco de cérebros do Incyl soma 14 doações em menos de dois anos

Após uma paralisação temporal no ano passado, o Banco de Tecidos Neurológicos retomou sua atividade e começa a acumular tecidos neurológicos já solicitados pelos pesquisadores

José Pichel Andrés/DICYT O Banco de Tecidos Neurológicos do Instituto de Neurociências de Castela e Leão (Incyl) da Universidade de Salamanca acumula já 14 cérebros doados para a pesquisa desde que começou a funcionar há menos de dois anos. Esta infra-estrutura científica começa a cumprir sua missão, havendo recebido já os primeiros pedidos de pesquisadores que querem utilizar este material para estudar doenças neurodegenerativas.

 

Após superar os problemas que durante meses questionaram sua continuidade no ano passado, o banco de cérebros de Salamanca retomou sua atividade com o financiamento do Conselho de Saúde da Junta de Castela e Leão, que se responsabilizou pela contratação de uma pessoa como técnico. O respaldo administrativo do Incyl, além de suas instalações e equipamentos, unido a esta pessoa especialista, basta para manter uma infra-estrutura que, ainda que simples, pode ser fundamental para avançar na pesquisa em Neurociências, já que dá a possibilidade de analisar o órgão chave em doenças como Alzheimer ou Parkinson.

 

Segundo explicou a DiCYT Javier Herrero, diretor do banco, quando chega um novo cérebro, este é dividido em duas partes. O hemisfério direito é congelado e o hemisfério esquerdo, conservado em formol. Um dos primeiros trabalhos é dissecar esta segunda parte para realizar um diagnóstico post mortem que elimine as dúvidas sobre a doença que realmente possuía o sujeito, já que em muitos casos de demência é impossível determinar em vida exatamente que tipo de doença tinha o paciente.

 

Após realizar uma dissecação muito fina, a presença de certas moléculas pode revelar com exatidão a doença do doador. No momento de realizar este trabalho os técnicos podem gravar sua própria voz para explicar os passos dados. O objetivo é registrar toda a informação possível. Assim, todos os dados estão vinculados aos tecidos armazenados e cada amostra armazenada em dois congeladores de -80 graus centígrados é associada a um código de barras.

 

Dos primeiros 13 cérebros conservados no banco (faltando o diagnóstico do último até agora, que foi doado nesta sexta-feira), seis pertenciam a doentes de Alzheimer, cinco a indivíduos com outras demências, um a uma pessoa com síndrome de Down e outro a um doente de Parkinson. Precisamente este último caso foi protagonista dos primeiros pedidos de cientistas ao banco de Salamanca por parte de pesquisadores da Universidade de Valencia que estudam esta doença e de outros de Madri, que finalmente derivaram em uma amostra na Suécia.

 

A doação

 

O processo de doação tem três partes. Em primeiro lugar, solicita-se informação ao banco de cérebros. Logo, preenche-se uma solicitação para ser doador, o que já converte a pessoa em doador potencial. Em alguns casos, neste segundo passo as solicitações são realizadas por familiares autorizados, quando se trata de pessoas que sofrem alguma doença neurológica grave que lhes impede de ser conscientes da decisão. Finalmente, no  momento do falecimento, realiza-se essa doação, salvo em casos em que, apesar de existir o registro como doador potencial, produz-se algum tipo de desacordo por parte dos familiares.

 

Após a morte do paciente realiza-se uma autópsia e a extração do cérebro, que é realizada em algum centro hospitalar de Castela e Leão ou em algumas comunidades autônomas limítrofes para as quais este banco é referência, já que ainda são poucos os existentes na Espanha. Finalmente, o cérebro do doador é transferido ao Incyl.

 

Um aspecto importante de que ainda carece este banco é a doação de cérebros sadios. O responsável pelo Banco de Tecidos Neurológicos do Incyl afirma que “são necessários como controle”, isso é, para comparar os órgãos que tem alguma patologia com o que não a possuem, e assim ver as diferenças. Em todos os casos, dentre os potenciais doadores registrados existem 11 pessoas que não possuem nenhuma doença neurológica.

 

As cifras

 

Em seu primeiro ano de funcionamento, 2011, o banco de cérebros somou sete doações efetivas, enquanto 28 pessoas se converteram em doadoras potenciais e foram realizadas 54 solicitações de informação. Em 2012, apesar dos meses de inatividade, registraram-se seis doações, acumulando 13 doadores potenciais e 19 solicitações de informação. Finalmente, na sexta-feira passada foi realizada a primeira doação de 2013, o que soma até agora um total de 14 cérebros à disposição da Ciência.

 

A metade destas doações foram realizadas em Salamanca, enquanto 4 procedem de Valladolid, duas de León e uma de Burgos. Dentre os cidadãos que solicitaram informação, há também pessoas de Zamora e Palencia, dentro da comunidade, e curiosamente também de Madri e Barcelona, apesar de que estas cidades têm seus próprios banco de tecidos neurológicos.

 

Contato e conferência

 

O telefone 24 horas, cujo número 669605723, é a principal via pela qual se comunicam os cidadãos com o banco, ainda que também o façam através do email (btn-incyl@usal.es) e, de forma mais direta, nas palestras de divulgação organizadas para revelar a existência do Banco de Tecidos Neurológicos do Incyl.

 

Uma destas palestras será no próximo dia 5 de fevereiro no Incyl, a cargo de Alberto Rábano, diretor do Banco de Tecidos Neurológicos da Fundação Centro de Investigação de Doenças Neurológicas (CIEN), pertencente ao Instituto de Saúde Carlos III. Será às 16:30h, ainda que antes, de manhã, haverá um seminário de pesquisa do mesmo especialista orientado aos pesquisadores.