Tecnología España , Salamanca, Viernes, 11 de junio de 2010 a las 17:05

Especialistas afirmam que o CLPU de Salamanca coloca a Espanha entre os líderes em tecnologia laser

Philippe Balcou, diretor de um importante centro de laser na França, explicou que um dos grandes desafios da tecnologia laser é conseguir energia de fusão nuclear

José Pichel Andrés/DICYT Os maiores especialistas do mundo em tecnologia de raios laser, reunidos esta semana em Salamanca para o encontro Endeavors of the Petawatt, atestam que a construção do futuro Centro de Lasers Pulsados Ultra-curtos Ultra-intensos (CLPU) no Parque Científico da Universidade de Salamanca representa um grande salto científico para a Espanha. Entre eles está Philippe Balcou, diretor do Centre Lasers Intenses et Applications (Centro para Lasers Intensos e Aplicações), o CELIA, localizado em Bordeaux, França. O especialistas, que trabalha na possível aplicação da tecnologia laser na obtenção de energia por meio da fusão nuclear, assegurou que o futuro laser do Parque Científico da Universidade de Salamanca é “um projeto muito importante a nível de pentawatt”, a maior potência alcançada até o momento pelos lasers.

 

“Há 10 anos não havia nada no campo do laser experimental na Espanha, mas agora existe um grande desenvolvimento em Madri, Barcelona e Salamanca”, declarou à DiCYT. Em sua opinião, graças a construção do CLPU, que começará em breve e finalizar-se-á em 2012, a Espanha se situa entre os líderes mundiais nesta tecnologia, entre os que se destaca especialmente França. Segundo Balcou, esta nova visão da capacidade científica e tecnológica espanhola neste campo é uma das principais conclusões tiradas deste congresso de elite, junto a idéias sobre “quais são as perspectivas para esta tecnologia nos próximos 10 anos”.

 

O surgimento de lasers como o de Salamanca, que somam apenas dez em todo o mundo, uma vez pronto, permitirá que alguns deles se especializem em certos campos e serviços. Por exemplo, o CLPU estará orientado preferencialmente ao campo da Biomedicina, ao tempo que Balcou persegue o estudo da fusão nuclear através do CELIA e, sobretudo, através do laser Megajoule, infra-estrutura localizada também em Bordeaux.

 

“Estes lasers são diferentes ao que será construído em Salamanca, com eles realizamos o que se chama Astrofísica de laboratório, o laser é capaz de gerar um plasma parecido ao estrelar, de maneira que podem ser simuladas situações que permitem estudar o interior das estrelas”, indica.

 

O Megajoule tem duas partes, uma para aplicações militares e outra destinada à pesquisa, centrada na energia da fusão nuclear. A idéia é tentar conseguir energia graças a um elemento chamado deutério, que provêm da água pesada, “encontrada de forma abundante, uma vez que se trata de aproximadamente 2% de toda a água do mar”. Para o especialista não resta dúvida de que este será “o combustível energético do futuro”.

 

Conseguir energia por fusão nuclear (união de átomos) ao invés de por fissão (divisão) é um dos grandes desafios científicos do futuro, e está sendo abordado de duas formas: por confinamento magnético, testado no ITER, e por meio da tecnologia laser. Para isso, pretende-se desenvolver na Europa o projeto HIPER, que consiste em construir um grande laser com esta finalidade mas que, até que seja conseguido, o Megajoule é um antecedente com o que se pode começar a fazer testes.

 

Levando em consideração que estes lasers avançados funcionam através de disparos curtos, “no futuro necessitaremos lasers com uma taxa de repetição de disparos muito mais alta e que disparem muito rápido para que o projeto seja rentável energeticamente”. No entanto, os especialistas consideram que demorará “pelo menos 50 anos” para atingir esta meta, apesar de existir outras vias tecnológicas para alcançá-la, como as centrais nucleares de quarta geração.

 

Fotos da matéria

 

Por quê o laser é tão importante para que se desenvolva esta tecnologia? “Nossos lasers são ultra-rápidos, o movimento dos átomos está a uma escala de femtossegundo (0’000.000.000.000.001 segundos) para baixo, o que é demasiado rápido para que o possamos captar”. Por isso, “queremos fazer fotos com o máximo de detalhe possível para ver um átomo, mas com as técnicas atuais só vemos sua evolução a longo-prazo”. Um exemplo explicativo é a típica foto de um cavalo correndo. Há 100 anos não se sabia se um cavalo trotando levantava todas as patas, ninguém o via a olho nu, mas com a chegada das fotos rápidas foi possível identificar a imagem de maneira nítida. No caso dos átomos acontece a mesma coisa, é necessário captar esta informação (fazer fotos) de matéria muito pequena, para o qual é precisamos de raios-X e de maneira muito rápida. Por isso, o que os especialistas tratam de conseguir são raios de laser que sejam intensos e que permitam fazer essas fotos da matéria em períodos muito curtos.

 

Apesar da possível especialização de alguns dos centros de laser, estes seguirão compartilhando muitos aspectos e nisso os projetos franceses sim são parecidos ao laser que se localizará no campus de Villamayor da Universidade de Salamanca, ainda que este esteja orientado ao âmbito médico. As aplicações estariam no campo da oncologia, oftalmologia, dermatologia e microbiologia, para a análise de proteínas e outras moléculas. “É muito difícil conhecer a estrutura das grandes proteínas”, afirma o cientista francês. Para isso, existem projetos no Japão ou nos Estados Unidos com fontes de raios-X convencionais que custam mais de 1 bilhão de euros, explica, mas a tecnologia laser “pode gerar raios-X para estudar estas proteínas em um prazo de 5 ou 10 anos com orçamentos até 10 vezes menores”, o que também significa que poderia haver mais laboratórios com acesso a esta tecnologia.

 

Salamanca, “nas fronteiras da Ciência”

 

Estes lasers de grande potência se localizarão em países europeus como França, Reino Unido e também Espanha, graças ao CLPU de Salamanca. “Nossos lasers, incluindo o de Salamanca, estarão na fronteira da Ciência”, afirma, e otimizarão uma tecnologia que apresenta semelhanças, por exemplo, com a informática, no sentido de que cada vez mais são fabricados computadores mais potentes e menores, isto é, que também existirão lasers cada vez menores e mais potentes para ser utilizados em hospitais ou outros lugares. Mas antes é necessário realizar testes nestes grandes projetos.

 

Por isso, um dos objetivos do Centro do Laser salmantino é ter uma linha de geração de raios-X que possa ser ofertada a cientistas ou companhias biomédicas para que estes possam realizar seus experimentos.