Ciencias Sociales Brasil Campinas, São Paulo, Miércoles, 15 de octubre de 2014 a las 19:01
Descobertas

Estudo reforça modelo alternativo de funcionamento dos neurônios

A observação do sistema nervoso de minhocas e lagostas, atesta a colocação dos estudiosos

Roberto Takata/ComCiência/Labjor/Dicyt - Um novo estudo pode resultar em uma reformulação de nossa compreensão sobre as unidades básicas de nosso sistema nervoso – o modo como a informação é transmitida pelos neurônios. Gonzalez-Perez e colaboradores verificaram que sinais nervosos percorrendo em sentidos opostos ao longo de axônios gigantes de invertebrados (lagostas e minhocas) passam um pelo outro e prosseguem normalmente – como ondas na superfície do mar.

 

Pelo modelo clássico, proposto em 1952 pelos fisiologistas britânicos Alan Lloyd Hodgkin e Andrew Huxley, predominante até hoje, ao se colidirem, os sinais deveriam impedir um ao outro de prosseguirem, aniquilando-se reciprocamente. Quando a membrana celular é despolarizada, isto é, quando a diferença de concentração de íons do lado de dentro e de fora da membrana do neurônio é desfeita, ela ficaria por um certo tempo insensível a uma nova onda de despolarização, pois a diferença de concentração de íons precisaria ser refeita. Em 1963, Hodgkin e Huxley viriam a dividir o Nobel de Medicina e Fisiologia com o neurofisiólogo australiano John Eccles pelos trabalhos sobre o funcionamento dos neurônios.

 

Estudos anteriores já haviam detectado inconsistências no modelo HH (nomeado de acordo com os sobrenome dos autores): o processo descrito pelo modelo deveria emitir calor, mas medidas indicavam que o calor era emitido em uma fase inicial e reabsorvido na fase seguinte da passagem do sinal, com uma liberação total nula. Uma proposta alternativa foi desenvolvida, denominada de “sóliton eletromecânico”, na qual o impulso nervoso se propaga por ondas de compressão mecânica no nervo (como som se propagando em meio sólido). Em apoio à hipótese do sóliton, medidas indicavam uma alteração no diâmetro dos axônios durante a passagem de sinal – as regiões distendidas ao longo do comprimento contrairiam-se radialmente, diminuindo o diâmetro; as regiões comprimidas longitudinalmente teriam o diâmetro aumentado – alterações mecânicas nas dimensões locais da membrana (sua espessura, densidade e área) alterariam suas propriedades elétricas como a diferença de potencial elétrico através dela. O achado de agora do grupo de Gonzalez-Perez reforça a teoria do sóliton em detrimento do clássico HH.

 

Sinal de cautela

 

Embora raras, há na literatura científica descrições de colisão de sinais nervosos resultando em aniquilação. Os autores do estudo citam trabalho de 1949 do fisiólogo japonês Ichiji Tasaki, que relatou a aniquilação de pulsos em nervos do músculo sartório de sapos. Porém, segundo Gonzalez-Perez e seu grupo, é um resultado que precisa ser reproduzido de modo independente. Há, então, ainda muito trabalho a ser feito para verificar o quão generalizável é o achado de impulsos nervosos que se cruzam sem aniquilação mútua – não apenas entre os diferentes organismos, como também entre diferentes regiões do sistema nervoso.