Health Portugal , Castelo Branco, Friday, May 29 of 2015, 20:02
INESPO II

Nova terapia para pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral

Investigadores da Universidade da Beira Interior investigam como melhorar o efeito das células que reparam os danos cerebrais

José Pichel Andrés/DICYT O Centro de Investigação em Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (CICS-UBI) investiga uma nova terapia para reparar lesões de pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC). A investigadora Raquel Ferreira conseguiu por este projeto uma das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, um prestigioso prémio com o qual é parcialmente financiado este projeto.

 

“A terapia consiste em utilizar células especializadas em reparação vascular de pessoas que sofreram um acidente vascular cerebral, tratá-las com nanopartículas contendo ácido retinoico e depois injetá-las por via intravenosa de modo a migrarem para o cérebro, à área da lesão, e repararem os vasos sanguíneos numa primeira fase, de forma que a reparação neuronal for mais eficaz numa fase posterior”, explica a cientista à DiCYT.

 

Depois de um acidente vascular cerebral, o paciente libera à corrente sanguínea células especializada no reparo vascular a migrarem para o ponto em que aconteceu o dano. No entanto, este mecanismo de reparação endógena é ineficiente. Por conseguinte, os investigadores propõem isolar essas células do paciente numa amostra de sangue e tratá-las in vitro com nanopartículas para melhorar os seus efeitos.

 

Para verificar se esta terapia funciona, serão realizadas experiências com um modelo animal ao qual se induzirá uma lesão similar à que tenha o paciente. Desta forma, poderão verificar a eficácia da proposta; se se revelar a sua eficaz, no futuro poderia ser implementado em pacientes. Por agora, os cientistas fizeram uma primeira fase de estudos in vitro e os resultados são positivos, portanto, proximamente vão recolher células de pacientes, tratá-las e injetá-las nos animais.

 

A terapia proposta é minimamente invasiva, com o objetivo de reduzir o tempo de hospitalização e melhorar a recuperação dos danos cerebrais do paciente. Até agora, uma abordagem terapêutica possível é a trombólise, que consiste na injeção de substâncias a dissolverem o entupimento dos vasos sanguíneos para restaurar a circulação, mas deve ser aplicada logo dos primeiros sintomas e, como efeito secundário, pode causar hemorragias. Uma outra alternativa é o implante de ‘stents’, mas nem isto nem o método anterior têm efeitos reparadores.

 

Embora os acidentes vasculares cerebrais são muito comuns hoje em dia e produzem uma grande carga socioeconómica, “o investimento nesta área de investigação é escassa e há poucos avanços”, comenta Ferreira. Portanto, as terapias “seguem as linhas clássicas da aplicação de trombolíticos”.

 

Terapia segura e sem efeitos colaterais

 

Se a nova técnica continua para frente “será mais segura e com menos efeitos secundários porque aproveitamos um mecanismo de reparo que acontece naturalmente no paciente”, diz a especialista. A técnica é minimamente invasiva e evita uma resposta imune uma vez que utiliza as células do próprio paciente.

 

Além disso, embora o objetivo deste projeto seja estudar a eficácia da proposta no AVC isquémico, os cientistas confiam em que os progressos alcançados possam ser aplicados a outras doenças cardiovasculares.

 

O projeto, que começou no ano passado, desenvolver-se-á até 2017; o grupo de investigação é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Portugal (FCT), à que se acrescenta o dinheiro do prémio L’Oréal. Do mesmo modo, a equipa espera conseguir financiamento adicional e colaborar com investigadores espanhóis.