Salud España , Valladolid, Miércoles, 25 de abril de 2012 a las 15:23

Pesquisa comprova o potencial terapêutico do ácido oleanólico presente na oliveira

Laboratório do IBGM, de Valladolid, coordenado por María Luis Nieto, comprovou a eficácia deste componente para combater doenças de origem inflamatória e apresentou duas patentes

Cristina G. Pedraz/DICYT A Unidade de Imunidade Inata e Inflamação do IBGM (Instituto de Biologia e Genética Molecular), de Valladolid, trabalha há aproximadamente oito anos em uma linha de pesquisa focada no potencial do ácido oleanólico, ácido triterpênico presente na cutícula e folhas da oliveira, como princípio ativo para combater os sinais e sintomas de doenças com um importante componente inflamatório, como a esclerose múltipla (EM).

 

Coordenado pela pesquisadora María Luis Nieto, este laboratório publicou há apenas algumas semanas um importante artigo na revista científica ‘British Journal of Pharmacology’ na qual são expostos os resultados de um estudo com ratos de laboratório com a doença induzida. Conforme explica a pesquisadora, esta linha de trabalho surgiu a partir de uma colaboração com a doutora Ruiz-Gutierrez do Instituto da Gordura e da passagem pelo IBGM de uma professora brasileira, Juliana Carvalho-Tavares, através de uma bolsa da Agência Espanhola de Cooperação Internacional (Aecid). “Esta professora trabalha em um modelo experimental de esclerose múltipla e, aproveitando sua estadia no laboratório, quisemos comprovar se poderíamos modular a doença com os compostos naturais com os que trabalhávamos”, afirma.

 

A esclerose múltipla é uma doença degenerativa do sistema nervoso central (SNC). Ela danifica a cobertura protetora que circunda os neurônios, a mielina, através de um processo inflamatório. Isto provoca no paciente uma redução e, inclusive, a detenção dos impulsos nervosos, o que pode trazer como conseqüência uma mobilidade reduzida e até mesmo a invalidez, nos casos mais graves. A comunidade científica considera que a doença tem uma origem auto-imune, isso é, que é causada pelo sistema imunitário que ataca erroneamente as células e tecidos do próprio organismo.

 

No trabalho realizado no IBGM utilizou-se o melhor modelo animal disponível para estudar a EM, a encefalomielite auto-imune experimental (EAE), uma doença desmielinizante inflamatória do SNC em ratos que possui características clínicas, patogênicas e hispatológicas semelhantes à EM humana. A finalidade, explica María Luisa Nieto, é encontrar novos tratamentos para a doença. “Utilizamos o tratamento com ácido oleanólico ao mesmo tempo em que induzimos a doença nos animais, e também tentamos iniciá-lo de maneira preventiva, antes de que esta fosse produzida”, afirma a responsável pelo trabalho, agregando que inclusive se estudou o potencial tratamento “após o surgimento da doença, para analisar as distintas situações que podem ser produzidas na prática clínica”.

 

Evolução mais lenta

 

Os pesquisadores comprovaram que, apesar de não bloquear o desenvolvimento da doença, a evolução ocorre de modo mais lento. “O desenvolvimento da doença é sensivelmente mais lento nos animais quando recebem o medicamento e, além disso, conseguimos reduzir significativamente e inclusive eliminar em alguns casos todos os processos inflamatórios associados à doença, o que repercute na melhoria dos ratos do ponto de vista patológico”, afirma a pesquisadora.

 

Assim, o estudo revela o potencial do ácido oleanólico como agente capaz de atenuar de forma notável os sinais clínicos (controle muscular, peso, sobrevivência) e imuno-inflamatórios (alterações na permeabilidade vascular, infiltração de leucócitos, presença de citoquinas) da encefalomielite auto-imune experimental. O grupo de pesquisadores patenteou esta nova aplicação farmacológica e atualmente está estudando mais a fundo o de que modo estes compostos afetam de maneira positiva a patologia, a nível celular e molecular. Ademais, e esperando que a industria farmacêutica se interesse por esta importante novidade, esperam contatar com neurologistas para poder levar o estudo à prática clínica.

 

Moléculas terapêuticas

 

A linha geral do laboratório coordenado por María Luisa Nieto é o estudo dos mecanismos moleculares envolvidos em doenças que incluem processos inflamatórios. Este trabalho foi iniciado com a elaboração da tese doutoral da pesquisadora e continuou, já no IBGM, com o estudo de aspectos relacionados com a reação inflamatória. A linha derivou no estudo da inflamação no contexto de diferentes doenças, como as tumorais, que foram analisadas em primeiro lugar. Atualmente o grupo incorporou ao seu trabalho a busca de possíveis moléculas terapêuticas como o ácido triterpênico, que se encontra de forma natural em várias plantas. Deste modo, pesquisam como atuam estes compostos a nível celular e molecular nos processos inflamatórios que estão sendo caracterizados.

 

Bons resultados em um modelo experimental de miocardite

 

Em razão dos bons resultados obtidos com o tratamento com ácido oleanólico para mitigar os efeitos da esclerose múltipla no modelo experimental com ratos, o grupo de pesquisa do IBGM pensou em realizar outro estudo para comprovar se realmente estes compostos estavam bem orientados à doença neuro-inflamatória, ou se também esta terapia poderia ser benéfica em doenças que afetam outros órgãos.

 

Através da boa relação do grupo com o Instituto de Ciências do Coração (Icicor) do Hospital Clínico Universitário de Valladolid, coordenado pelo doutor Alberto San Román, concebeu-se a possibilidade de transferir a pesquisa a doenças do miocardio, concretamente a miocardite, uma doença “na qual há um importante componente inflamatório”. O miocardio é a parede muscular do coração e a miocardite uma infecção pouco freqüente causada por vírus, bactérias ou fungos que originam a inflamação do órgão, dentre outros aspectos.

 

“Esta doença também tem um componente auto-imune e pensamos em desenvolver um modelo experimental sobre a mesma para determinar se estes compostos eram tão efetivos quanto no modelo de esclerose múltipla”, afirma a pesquisadora. Após realizar o estudo em cultivos celulares, o grupo cientifico comprovou que os ácidos triterpênicos impedem a proliferação de fibroblastos ativando processos de morte celular programada. Ademais, observaram que modulam processos de diferenciação celular e inibem a expressão de citoquinas inflamatórias.

 

De acordo com a responsável pelo laboratório do IBGM, ainda que os estudos em animais continuem em desenvolvimento, “todos os indicadores sinalizam que estes compostos bloqueiam a resposta inflamatória, são reguladores da resposta imune e melhoram significativamente a evolução da doença, já que os animais não desenvolvem uma patologia tão agressiva”.

 

 

Quando concluam esta parte experimental, “que está praticamente terminada”, os pesquisadores estudarão a nível celular e molecular o músculo cardíaco para comprovar se os compostos terapêuticos protegem estes tipos celulares de uma situação agressiva, e para caracterizar se os triterpenos atuam a nível periférico sobre células do sistema imune. “Se é assim e simplesmente regulam a resposta imune, as células cardíacas não serão afetadas”. Desta forma, poderão diferenciar quais são as células danificadas e quais são as reguladas. Finalmente, do mesmo modo que no estudo experimental sobre a esclerose múltipla, o objetivo final é realizar também um ensaio clínico.

 

Os pesquisadores do IBGM e do Icicor, que fazem parte da Rede Temática de Pesquisa Cooperativa em Doenças Cardiovasculares (Recava), apresentaram uma patente e encontram-se no processo de publicação dos resultados obtidos. “A colaboração com o Icicor é bastante próxima e um dos pesquisadores formados no grupo, Rubén Martín Montaña, conseguiu um contrato Sara Borrel no Instituto de modo que a interação com eles é sólida”, enfatiza.

 

María Luisa Nieto destaca que o laboratório procura em quais doenças podem estar refletidas as pesquisas básicas a nível molecular e celular realizadas. “No mundo real estes estudos têm muitas aplicações, já que existem muitas doenças em que os processos inflamatórios estão envolvidos”, agrega. Assim, desde que esta linha de trabalho começou, pesquisou-se as doenças humanas nas quais a aplicação pode ser efetiva. Uma das primeiras doenças com a qual o laboratório trabalhou foi a tumoral. Através de estudos com cultivos celulares de linhas tumorais de mama e de astrocitomas (um tipo de tumor cerebral), dentre outros, comprovaram o efeito protetor dos triterpenos do azeite de oliva diante do crescimento de referidas células.

 

“Muitos estudos descrevem propriedades anti-inflamatórias e protetoras do ácido oleanólico, sobretudo do ponto de vista cardiovascular. São moléculas com uma ampla gama de efeitos. Nós trabalhamos com a molécula extraída das plantas, com o composto natural, mas já existem diversos estudos que utilizam compostos obtidos de forma sintética nos quais foram incluídos derivados que podem torná-los, por exemplo, mais solúveis ou mais ativos”, destaca.