Pesquisadores de Salamanca buscam genes alterados no câncer de pulmão
José Pichel Andrés/DICYT Os serviços de Anatomia Patológica Pneumologia, Cirurgia Torácica e Oncologia do Hospital Universitário de Salamanca formam um grupo multidisciplinar que estuda novos alvos terapêuticos do câncer de pulmão, que é a primeira causa de morte por câncer no mundo ocidental. O objetivo é determinar biomarcadores em carcinomas de pulmão que possam ser úteis para realizar tratamentos mais específicos.
Geralmente os pacientes “são diagnosticados tarde e respondem mal aos tratamentos”, declara María Dolores Ludeña, cientista da Unidade de Anatomia Patológica do Hospital Universitário de Salamanca e do Departamento de Biologia Celular e Patologia da Universidade de Salamanca, e responsável por esta linha de pesquisa. Por esse motivo “tentamos estudar detalhadamente quais são suas alterações genéticas com ajuda de novas tecnologias”, afirma.
Particularmente, seu interesse se foca nas mutações do receptor de fator de crescimento epidérmico (EGFR), um gene da superfície da célula envolvido na comunicação intracelular e, portanto, na sinalização de processos como a divisão celular, o que no caso das células cancerígenas, pode representar a extensão do tumor.
Por estar mutado em alguns tipos de câncer, como no caso dos carcinomas de pulmão, EGFR se converteu em um bom alvo terapêutico para que os medicamento atuem sobre as células tumorais. No entanto, “o problema é que alguns pacientes respondem muito bem, mas outros não respondem e temos um terceiro grupo de afetados que com o tempo desenvolve resistências ao tratamento”, indica a pesquisadora.
O desenvolvimento destas resistências pode ser devida “a ativação de outros receptores em domínios da membrana celular muito semelhantes ou muito próximos ao EGFR”. Por isso “estamos descobrindo a razão”, afirma Ludeña. A idéia é averiguar se a ativação das vias intracelulares que sinalizam processos fundamentais para a célula, como a divisão celular, estão relacionados ou não com o fato de que EGFR sofra mutação e se os tratamentos modificam isto de alguma maneira.
A pesquisa se desenvolve com os pacientes recebidos pelo Hospital Universitário, que é referência para várias províncias de Castela e Leão, que consistem em aproximadamente cem pacientes por ano. “Cada vez estamos vendo mais alterações no câncer de pulmão e é necessário incorporar esta nova informação aos diagnósticos de rotina”, afirma.
Individualizar terapias
“Queremos fazer um tratamento individualizado, o objetivo é que seja possível estudar todas as alterações genéticas em cada paciente e aplicar uma terapia concreta”, afirma. Por exemplo, o gene MET está entre os genes envolvidos, segundo comprovou a equipe, já que “é ativado naqueles pacientes que não respondem ao tratamento por terem outra alteração genética não localizada”.
Na pesquisa são utilizados, com consentimento prévio, amostras de pacientes provenientes do material que sobra do diagnóstico. A partir de então utilizam-se sobretudo técnicas de hibridação “in situ” para observar as alterações no DNA.
O grupo de pesquisa coordenado por María Dolores Ludeña colabora com outros projetos de pesquisa relacionados com o câncer de pulmão, aproveitando a grande atividade científica que existe em Salamanca neste campo. Por exemplo, o Centro de Investigação do Câncer (CIC) está desenvolvendo um projeto para estudar as células-tronco do câncer de pulmão. É uma pesquisa básica, mas relacionada com o trabalho clínico desenvolvido no Hospital Universitário. Por outro lado, a equipe de Ludeña também colabora com um ambicioso projeto multidisciplinar liderado pela engenheira química Eva Martín del Valle, que pretende buscar uma via alternativa para subministrar medicamentos contra as células tumorais no câncer de pulmão: trata-se de utilizar microcapsulas para que o medicamento chegue ao seu destino.