Rede ibero-americana em ambiente e sociedade é formada na Unicamp
Maria Teresa Manfredo/ComCiencia/Labjor/DICYT - O Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizou em dezembro, um workshop para a criação de uma rede ibero-americana de pesquisa em ambiente e sociedade. O foco é debater as dimensões humanas das mudanças ambientais e climáticas em áreas protegidas e seu entorno. Vulnerabilidade, uso de recursos naturais, sustentabilidade, conflitos sociais e políticas públicas foram temas também tratados, na busca da formação de um sistema de práticas e saberes que crie uma interface entre distintos atores e distintas disciplinas acadêmicas.
A programação do evento foi composta por apresentações e discussões para elaboração de estratégias de cooperação entre pesquisadores que integrarão a rede. Participaram cientistas de países latino-americanos (Brasil, Peru, Chile, Cuba, Bolívia e México) e da Espanha, todos envolvidos em atividades de pesquisa sobre a temática. “Riscos, desastres e áreas degradadas”, “Biodiversidade, conservação e sociedades etnicamente diferenciadas” e “Mares, rios e lagos” foram alguns temas discutidos pelos grupos de trabalho durante o evento.
A criação dessa rede ibero-americana de pesquisa tem o objetivo, sobretudo, de promover um intercâmbio de experiências e conhecimentos entre os pesquisadores e traçar as bases de um futuro estudo comparado entre os oitos países participantes. De acordo com Carlos Joly, diretor do Departamento de Políticas e Programas Temáticos (DPPT) da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) do Ministério da Ciência e Tecnologia, estabelecer uma rede efetiva sobre esta temática na América Latina “trata-se de um ganho de escala e de qualidade no desenvolvimento de áreas de interface como Ambiente e Sociedade”.
O intuito foi criar os alicerces para a identificação e análise dos fenômenos ligados ao tema central e contribuir para a modelagem de cenários futuros de adaptação desses países, frente às transformações em curso. Isso favoreceria o desenvolvimento de estudos interdisciplinares fundamentados em experiências de uma ampla variedade de ecossistemas e de realidades socioculturais e políticas, afirma Joly.
Uma das preocupações presentes nas falas dos expositores foi a ampliação do debate teórico e metodológico para que a produção acadêmica e científica influencie, de fato, as políticas públicas e as ações individuais e coletivas, frente às mudanças ambientais e climáticas.
Os pesquisadores concordaram que o desafio maior é integrar diálogos e saberes que envolvam essa questão transdisciplinar. Franscisco Ther Rios, pesquisador da Universidade de Los Lagos, Chile, afirmou que a criação dessa rede é um primeiro passo para o que chamou de “construção social do conhecimento” - esforço em buscar estratégias convergentes (e não só somatórias) que dinamizem o diálogo entre ciências sociais, ciências da natureza e conhecimentos locais.
Nesse sentido, Benjamin Ortiz Espejel, coordenador do programa interdisciplinar em Meio Ambiente da Universidade Ibero-americana, Puebla – México, destacou que, em se tratando de mudanças climáticas e ambientais, quase não se toca nas questões éticas que envolvem tais processos. Para o pesquisador mexicano, enfrentar tal questão é valorizar e aprender outras maneiras de se conhecer o mundo, pois as mudanças em curso não se tratam de algo que envolva e afete somente especialistas, mas, toda a sociedade.