À procura do genoma do feijão rajado
Agência ID/DICYTAinda que o México seja o quinto produtor de feijão do mundo, fatores adversos como a seca e a antracnose, doença da planta causada por um fungo, diminuem a qualidade do produto, o que levou o país a se converter também em um dos principais importadores do grão.
Com o fim de melhorar as propriedades desta planta originária da América e que tem oito mil anos de idade, um grupo de pesquisadores mexicanos, brasileiros, argentinos e espanhóis, seqüenciou o genoma do feijão rajado.
Uma vez obtido o total da informação genética (calcula-se que o feijão rajado tenha 630 milhões de bases nitrogenadas), será utilizada uma técnica de pirosequenciamento com a qual se analisará cada genoma da planta para saber quais genes são propensos à seca, fungos e bactérias, explicou o doutor Alfredo Herrea Estrella, do Centro de Pesquisa e de Estudos Avançados (Cinvestav, em espanhol), Unidade Irapuato.
Com esse estudo também se saberá por que esta leguminosa é rica em ferro, vitaminas e ácido fólico, e que material genético é tolerante à seca e às bactérias.
Segundo o pesquisador e coordenador do projeto, para junho deste ano já existirão avanços no genoma do feijão rajado e em dezembro espera-se que o trabalho esteja concluído.
“Com o material de pesquisa obteremos marcadores biomoleculares; poderíamos produzir um grão melhor e dar um uso racional aos cultivos de feijão em geral, com o fim de apoiar a seleção e desenho de novas variedades da leguminosa”, disse.
A pesquisa, assegurou Herrera Estrella, não vai parar neste ponto, como aconteceu com o seqüenciamento genético do milho pipoca (que também foi seqüenciado pelo Cinvestav – Irapuato), pois o projeto conjunto destes quatro países, uma vez obtidos os resultados, também inclui dar treinamento a produtores do campo na Ibero-américa para que sejam utilizados os resultados do trabalho e melhoradas as semeaduras do feijão.
Esta pesquisa, na qual além do Cinvestav também participam pesquisadores da Faculdade de Ciências e o Instituto de Biotecnologia da UNAM, o Conacyt e o Programa Ibero-americano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento, conta com um investimento de 2,7 milhões de dólares, dos quais o México contribuiu com 600 mil dólares.
Particularmente, em Zacatecas foram cultivados 300 quilos por hectare, mas a colheita foi afetada pela antracnose, um fungo que provoca manchas no feijão e pode ocasionar sua perda total.
“Concluída a pesquisa, parte do objetivo deste trabalho é capacitar as pessoas, ensinando-lhes como podem melhorar o feijão e deixar de ser um país importador, além de continuar entre os principais produtores do grão”, concluiu o pesquisador.
Feijão Tepari contra o câncer
A variedade de feijão Tepari, produzida em Sonora, México, também é tema de pesquisa no Cinvestav, pois foi reconhecida dentre suas propriedades a resistência à seca e insetos, e a proteína que contém, a lectina, é capaz de reconhecer a superfície das células cancerígenas, de modo que poderia detectar com antecipação essa doença.
O doutor Alejandro Blanco, pesquisador do Cinvestav, Unidade Irapuato, explicou que a pesquisa já foi testada em animais, oportunidade em que a lectina diagnosticou no colón de ratas células cancerígenas.
Esta mesma classe de leguminosas mostrou ser resistente à seca e à praga de borboletas brancas (larvas brancas) que ataca ao cacto, de modo que a partir da lectina do feijão Tepari se poderia controlar futuramente este tipo de insetos.