Aplicativo simula o comportamento de um surto de meningite meningocócica
José Pichel Andrés/DICYT A Universidade de Salamanca iniciou um projeto de pesquisa que pretende desenvolver uma ferramenta informática capaz de simular o comportamento de um surto de meningite meningocócica. Este aplicativo será útil para que os agentes sanitários possam se adiantar à evolução desta doença, que afeta principalmente crianças e que costuma apresentar poucos casos, mas muito graves. Especialistas em Microbiologia e Matemática colaboram para levar adiante essa idéia.
A meningite meningocócica é uma infecção causada pela bactéria “Neisseria meningitidis” ou meningococo, que afeta as membranas que circundam o cérebro e a medula espinhal. “Desenvolveremos um protótipo de análise que pode ser utilizado em outro tipo de doença infecciosa com padrões de comportamento semelhantes ou adaptáveis”, explica a DiCYT María José Fresnadillo, pesquisadora do Departamento de Medicina Preventiva, Saúde Pública e Microbiologia Médica da Universidade de Salamanca e principal responsável pelo projeto. Em qualquer caso, a escolha da meningite como modelo justifica-se porque se trata de uma doença grave, com grande impacto social. Além disso, suas características são muito boas para testar o modelo matemático.
O fato de que o número de casos registrados seja limitado e de que esteja perfeitamente documentado, porque sempre que ocorre um surto as autoridades sanitárias devem informar, facilita o trabalho dos pesquisadores que desenvolvem este aplicativo informático. A ferramenta está baseada em um modelo matemático de simulação que permite antecipar a evolução de uma doença infecciosa.
“Ter uma idéia da evolução da doença é muito importante”, segundo Fresnadillo. A pesquisadora explica que o aplicativo poderá mostrar o número de pessoas que podem ser afetadas e a relação entre elas. Ademais, a partir deste modelo seria possível estudar o efeito de certas medidas de prevenção antes de implantadas. Tudo isso se baseia em dados de epidemias anteriores. Uma vez desenhado o modelo, é comparado com casos passados para corroborar sua eficácia.
Ángel de Rey, pesquisador do Departamento de Matemática Aplicada, é outro cientista envolvido no projeto. “Na literatura científica há muitos modelos matemáticos de epidemiologia. Tentaremos desenvolver um que permita prever o comportamento de um surto”, afirma. Por exemplo, se aparece na pecuária, a ferramenta informática poderia prever a dinâmica da evolução da epidemia dentro deste recinto, bem como seu desenvolvimento nos dias seguintes. Trata-se de “dados de interesse para o agente sanitário”.
No entanto, o projeto tem um segundo objetivo muito menos comum. Os pesquisadores pretendem “matematizar o processo através do qual uma criança pode ser infectada”, isso é, querem fazer previsões sobre o possível contágio de um indivíduo, de acordo com suas características pessoas e em relação a uma determinada situação. Enquanto do primeiro modelo foram realizados estudos semelhantes com doenças como a gripe ou a AIDS, “no caso da infecção individual não existem precedentes”, afirmam os pesquisadores da Universidade de Salamanca.
Coleta de dados
A quantidade de dados de que dispõem os cientistas para desenvolver a ferramenta é muito ampla. De um lado, para o modelo padrão do estudo da dinâmica global da evolução da doença é necessário conhecer as características básicas da doença, sua virulência, os meios de transmissão e a quantidade do agente infeccioso necessária para o contágio.
Com relação ao modelo personalizado, são necessários outros tipos de dados de cada indivíduo, por exemplo, se é imunodeprimido ou não, bem como as condiçoes sociais nas quais se encontra. Se uma criança tem mais irmãos em casa, por exemplo, aumenta a probabilidade de contágio.
Geralmente, pode-se considerar que sempre há três elementos fundamentais: o agente infeccioso, o hóspede suscetível à doença e o ambiente no qual estão imersos os dois. Quanto mais se saiba tudo isso, mais fácil será realizar uma previsão.
Ángel del Rey reconhece que reduzir o problema a um modelo matemático seria simplificá-lo. No entanto, não é possível realizar experimentos reais sobre a evolução de uma doença bacteriana, de modo que o uso de modelos matemáticos é “barato e seguro”.