“O DNA lixo é responsável pelas células dos músculos serem distintas das da pele ou dos ossos”
CGP/DICYT No último mês de setembro, e após nove meses de intenso trabalho, os cientistas do projeto internacional Encode (acrônimo do inglês ENCyclopedia OF DNA Elements, enciclopédia de elementos DNA) revelavam a utilidade das áreas “lixo” do genoma, assim conhecidas por não conter genes que codificam proteínas e, portanto, não ser responsáveis diretas por nossas características biológicas. Os pesquisadores concluíram que esta parte “lixo” do DNA regula os genes convencionais, de modo que é determinante no desenvolvimento de doenças. Trata-se, assim, de “um passo enorme na compreensão de nossa biologia e um grande avanço para decifrar o quebra-cabeça das patologias”.
Roderic Guigó, coordenador do programa Bioinformática e Genômica do Centro de Regulação Genômica (CRG) e membro do grupo de análises de RNA no projeto Encode, falará no dia 16 sobre os segredos ocultos do DNA lixo em uma conferência realizada no Museu da Evolução Humana (MEH) de Burgos. Durante a palestra Guigó introduzirá o conceito de genoma, o processo que levou ao seu descobrimento e como a comunidade científica pensava que funcionava há uma década, quando se obteve sua seqüência.
“O genoma é um conjunto de instruções que determinam as características biológicas dos seres vivos”, explica a DiCYT o especialista, que agrega que o projeto Encode “foi mudando nossa compreensão sobre como a informação está codificada no genoma e como esta informação é interpretada para constituir seres vivos”.
Quando se sequenciou o genoma, os cientistas pensavam “que somente de 2 a 5% continham realmente estas instruções, e que o resto era, por assim dizer, recheio, já que não tinha nenhum significado funcional, não se traduzia em nenhuma função biológica”. Através do Encode e de outros projetos observou-se que, na realidade, a parte funcional do genoma é maior e as regiões que aparentemente não tinham função cumprem um papel regulador.
“Todas as células de nosso corpo têm o mesmo DNA, mas as células do cérebro são diferentes das do músculo, porque o genoma é interpretado de forma distinta nestas células. Uma grande parte desse DNA que chamamos lixo está diretamente dedicada a esta interpretação diferencial. Assim, o DNA lixo determina quais regiões do genoma funcionam de um tipo celular, e quais regiões de outro, de modo que é responsável pelos músculos serem diferentes da pele ou dos ossos”, detalha o pesquisador.
No entanto, o projeto Encode “é um passo pequeno em um caminho muito longo à completa codificação”. Com relação ao futuro, sinaliza que está encaminhado a conhecer “como a partir de uma única célula que se produz após a fusão de células determinadas de um pai e de uma mãe, desenvolve-se um indivíduo, isso é, interpretam-se essas instruções para constituir um indivíduo, o que é totalmente desconhecido”. Isso representa uma das metas da biologia do século XXI.
No marco do projeto Encode foram analisados, até agora, quase 150 tipos celulares e mais de 20 de forma sistemática. Na terceira fase do projeto, na qual se trabalha agora, os cientistas estudam o tecido do cérebro, do músculo ou do fígado, com o objetivo de saber como é a variedade do genoma e seu conteúdo exato.
Palestras de divulgação
A palestra insere-se no ciclo Ao fio da notícia, uma iniciativa do Museo da Evolução Humana (MEH) que trata de favorecer o debate científico sobre descobertas e temas atuais. Este ciclo começou em dezembro com uma palestra sobre a viagem do Curiosity a Marte, as desglaciações e o futuro da Groenlândia. Nesta caso será dada por Antonio Ruiz de Elvira, catedrático de Física aplicada da Universidade de Alcalá de Henares. As palestras se desenvolverão no salão de atos do MEH e começarão às 20:15h, com entrada livre até completar o aforo.