Novos agentes terapêuticos reforçam a resposta imunológica diante do câncer
José Pichel Andrés/DICYT O grupo de pesquisa de Jesús San Miguel, catedrático de Hematologia da Universidade de Salamanca e chefe do Serviço de Hematologia do Hospital Universitário da cidade, colabora com uma equipe do Centro de Investigação Médica Aplicada (CIMA) de Pamplona, que estuda novos agentes terapêuticos para reforçar a resposta imunológica dos pacientes contra o câncer. Especificamente, o objetivo dos cientistas de Salamanca é transferir este tipo de estudos clínicos a tumores hematológicos junto ao grupo orientado por Ignacio Melero Bermejo, especialista do CIMA que visitou Salamanca no dia 14 de fevereiro.
“Desenvolvemos estratégias para ‘convencer’ o sistema imunológico de que deve usar toda sua capacidade de destruir células e tecidos contra os tumores, com uma série de ferramentas que atuam com as células do sistema imunológico para aumentar sua atividade antitumoral”, explicou em declarações a DiCYT o especialista do CIMA, que apresentou seu trabalho no seminário de pesquisa orientado aos especialistas do Centro de Investigação do Câncer (CIC) de Salamanca.
Até agora quase todos os testes realizados neste campo se restringem a tumores sólidos, mas os cientistas consideram que nas neoplasias hematológicas esta nova abordagem terapêutica deve ser pelo menos “igualmente eficaz”. Assim, Ignacio Melero buscou a experiência de Jesús San Miguel para testar distintas famílias de medicamentos relacionados com o campo da resposta imunológica.
As novas ferramentas terapêuticas baseiam-se em anticorpos monoclonais imunoestimulantes, isso é, anticorpos que interagem com receptores do sistema imunológico. “Se estabelecemos uma metáfora com um carro, estes receptores se comportam como freios e aceleradores. O que tentamos fazer é utilizar anticorpos que interfiram na resposta dos freios, de modo que a ação do carro seja mais intensa, ou que pressionem com especial intensidade os aceleradores”, afirma.
Para começar os testes com pacientes de tumores hematológicos ainda falta pelo menos um ano, segundo explicou Ignacio Melero, que mantém uma longa história de colaborações com Salamanca, já que antes também colaborou com a equipe de Alberto Orfao no monitoramento de respostas imunológicas antitumorais devido ao “enorme prestígio” do cientista do CIC em citometria de fluxo.
Neste campo, o CIMA busca também estratégias que consistem em transferir células do sistema imunológico ativado para induzir respostas imunológicas endógenas, ou para conseguir que a resposta seja mais potente, bem como estratégias baseadas em introduzir elementos de comunicação no sistema imunológico modificados geneticamente para que sejam mais potentes e induzam uma resposta imunológica mais eficaz diante de tumores.
Isso tudo foi estudado em modelos animais, mas também em pacientes. “Desenvolvemos uma ampla variedade de testes clínicos com pacientes de neoplasias avançadas tentando provar, em cooperação com a industria farmacêutica ou por nossa própria conta, o efeito antitumoral e estudar os mecanismos de ação”, indica.
Avanços significativos
De fato, seu grupo já possui um medicamento aprovador pela FDA (Food and Drug Administration, a agência de medicamentos dos Estados Unidos) para o melanoma metastásico, um anticorpo monoclonal dirigido contra a CTLA-4 (Ipilimumab, Yerboy) e que também poderia ter outras indicações. Do mesmo modo, outros anticorpos estão em fase de desenvolvimento clínico avançado (fase II e fase III), e progridem com “boas expectativas”.
Na trajetória de seu grupo de pesquisa existem feitos cientistas relevantes. “Trabalhamos em uma das especificidades de anticorpos monoclonais imunoestimulantes, que é a molécula CD137, uma das que se comportam como um acelerador. Verificamos que em modelos animais é muito potente e a testaremos em pacientes de uma maneira pioneira em todo o mundo, em colaboração com outros cinco centros”, declara.
O CIMA também participou de ensaios clínicos prévios de umas moléculas denominadas PD-1 e PDL-1, cujos mecanismos de ação representam ainda muitas dúvidas. “Estamos tentando esclarecer porque em alguns pacientes funcionam muito bem, e em outros não funcionam”, afirma.