Como explicar que o CERN não produzirá buracos negros
JPA/DICYT O CERN, a Organização Européia para a Pesquisa Nuclear com sede em Genebra (Suíça), é o maior laboratório do mundo dedicado ao estudo da Física de partículas, um centro de pesquisa com boas histórias para contar, mas no qual a comunicação é uma tarefa complexa. Corinne Pralavorio é uma das responsáveis por fazer chegar estas histórias e no dia 18 explicou em Salamanca situações controvertidas que podem ser aproveitadas por jornalistas e cientistas para fazer uma boa comunicação da ciência.
A primeira dificuldade para fazer entender o trabalho do CERN está em seu próprio nome, que contém a palavra “nuclear”. Este termo “está relacionado com o fato de que as partículas fundamentais do átomo estão no núcleo e, portanto, muitas partículas com as quais trabalha o centro são nucleares, mas nossa pesquisa não tem nada a ver com a energia nuclear, nem com o desenvolvimento de armas”, explica Corinne Pralavorio em declarações aos meios de comunicação coletadas por DiCYT.
No entanto, constantemente o público identifica o CERN com a pesquisa militar e, inclusive, acredita que suas atividades são secretas, quando se trata de conhecimento científico aberto a todo o mundo. Lutar contra esta percepção e difundir os fatos reais é o trabalho do departamento de comunicação, que em mais de uma ocasião topou com dificuldades nos últimos anos.
Corinne Pralavorio deu exemplos no seminário que serviu de encerramento do Mestrado em Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia e do Título de Especialista em Comunicação Pública da Ciência, da Universidade de Salamanca, sob o título ‘Black holes and faster than light neutrinos. How to turn scientific controversy into an opportunity’.
O primeiro deles foi a controvérsia pela teoria especulativa de que a atividade do Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider, LHC, em inglês) das instalações do CERN poderia provocar buracos negros. Ainda que careça de fundamentos científicos por diversas razões, esta idéia extravagante triunfou nos meios de comunicação de todo o mundo, mas serviu para revelar os verdadeiros experimentos que, de momento, resultaram na descoberta do Bosón de Higgs.
Os neutrinos, muito velozes
Outro caso muito distinto de problemas na comunicação veio do próprio centro, quando se anunciou que umas partículas conhecidas como neutrinos viajavam mais rápido que a velocidade da luz, o que é impossível segundo as teorias de Albert Einstein e os fundamentos da Física atual. Mais tarde comprovou-se que tudo era fruto de um erro de medida ao realizar um experimento, mas também gerou muita conversa.
Estas controvérsias podem converter-se em uma magnífica oportunidade para os comunicadores e, inclusive, em uma ocasião para repensar e melhorar o trabalho dos cientistas, comentou Pralavorio, Deputy Head of the Communication Group no CERN.
Em sua conferência também explicou aspectos gerais que dão idéia da grande dimensão e da importância científica do centro, no qual colaboram milhares de especialistas de países de todos os continentes. “Ainda que se trate de pesquisa básica, as tecnologias desenvolvidas permitiram implementar avanços tecnológicos em campos relacionados diretamente com a vida cotidiana, como a Medicina”, afirma. Concretamente, algumas tecnologias permitem fazer um diagnóstico melhor através de imagem e já estão sendo utilizadas nos hospitais.
A protagonista assegura que o CERN tem um bom orçamento para pesquisa, mas não para a comunicação. Em todos os casos, considera que não há grandes diferenças entre a comunicação científica realizada por um grande centro como o seu, e a desenvolvida por outras entidades mais modestas, como as universidades, com exceção de que em Genebra existem “mais meios e uma estrutura mais ampla a ser atendida”.
O público esteve composto principalmente por pessoas interessadas na comunicação científica, já que esta atividade faz parte do Mestrado em Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, e do Título de Especialista em Comunicação Pública da Ciência, organizados pelo Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade de Salamanca (eCyT) e pela Fundação 3CIN, respectivamente.