Criam modelo matemático para prever a esquizofrenia no momento do primeiro surto psicótico
Cristina G. Pedraz/DICYT Investigadores de diversos centros espanhóis ―o Instituto de Biomedicina da Universidade de León (IBIOMED-ULE), o Departamento de Fisiologia da Universidade do País Basco (UPV/EHU, pelas suas siglas em espanhol e basco), o Centro de Investigação Biomédica em Rede de Saúde Mental (CIBERSAM) e o Hospital Universitário de Álava― desenvolveram um modelo matemático para a predição de esquizofrenia no momento do primeiro episódio psicótico, por meio da determinação da atividade enzimática durante a hospitalização do paciente.
No trabalho, que é o tema da tese de doutoramento de Ainhoa Fernández-Atucha, participaram os investigadores Enrique Echevarría, Gorka Larrinaga, Javier Gil, Mónica Martínez-Cengotitabengoa, Ana M. González-Pinto, Jon Irazusta e Jesús Seco. O Dr. Jesús Seco é investigador no IBIOMED e o coordenador do Mestrado interuniversitário em Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida da ULE e a UPV/EHU, quem explica à DiCYT que os indicadores prognósticos das doenças mentais são chave para melhorar o tratamento clínico dos pacientes.
No caso da esquizofrenia, os primeiros sintomas aparecem geralmente sob a forma de episódios ou surtos psicóticos, com “uma alteração no contacto com a realidade, um estado de delírio com alucinações que incapacitam o sujeito a viver no seu ambiente habitual”. Assim, o episódio psicótico partilha alguns sintomas com a esquizofrenia, mas nem todos os pacientes com um surto psicótico terminam por desenvolver a doença.
“Os modelos tentam prever o estado clínico dos pacientes nos meses seguintes. Às vezes, o diagnóstico inicial é difícil, e este tipo de informação pode servir como orientação para a aplicação de um protocolo terapêutico”, diz o investigador, quem acrescenta que o tratamento matemático dos dados procedentes de escalas clínicas para a avaliação da sintomatologia dos pacientes, bem como a medição dos seus parâmetros bioquímicos plasmáticos ou tissulares (do plasma e dos tecidos), é agora mais fácil devido à eficácia dos sistemas informáticos e ao desenvolvimento de software estatístico avançado. “Isso permite em muitos casos elaborar modelos com capacidade preditiva”, salienta.
Atividade enzimática
Para desenvolver o modelo de predição da esquizofrenia, a equipa de investigação mediu diversas atividades proteolíticas plasmáticas conhecidas como aminopeptidases. Trata-se de enzimas com que o Departamento de Fisiologia da UPV/EHU está a trabalhar há vários anos em modelos animais, a estudar o seu envolvimento fisiológico em diferentes aspectos neuroquímicos do cérebro. Especificamente, neste estudo têm-se centrado em quatro aminopeptidases: dipeptidil peptidase (DPP-IV), prolil oligopeptidase (PEP), aminopeptidase N (APN) e aminopeptidase B (APB).
“Pesquisámos uma relação matemática entre as variáveis quantitativas derivadas das escalas de avaliação clínica dos sintomas dos pacientes ao longo de um ano de evolução e os níveis de atividade dessas aminopeptidases plasmáticas no momento inicial do surto psicótico. Inicialmente detetámos a existência de uma correlação, e depois desenvolvemos vários modelos preditivos baseados na técnica estatística de regressão linear”, explica Jesús Seco.
De acordo com os resultados obtidos, usando uma simples análise ao sangue e uma técnica de laboratório fácil e barata é possível realizar a predição utilizando a atividade aminopeptidásica como biomarcador.
Especificamente, “a elevação da atividade da APB plasmática no momento do diagnóstico inicial poderia atuar como biomarcador clínico a longo prazo, indicador de um bom prognóstico em pacientes com um primeiro episódio de psicose (primeiro surto); enquanto a atividade elevada de DPP-IV e as atividades plasmáticas de APN e PSA no início de um episódio psicótico poderiam indicar um mau prognóstico a curto prazo em pacientes com psicoses”.
Ligação entre a investigação básica e a clínica
O modelo desenvolvido é um passo relevante na tentativa de descobrir indicadores de prognóstico fidedignos. A fim de estabelecer estes indicadores, é precisa a colaboração entre os serviços hospitalares de Psiquiatria e os laboratórios de investigação básica.
Os próximos passos desta equipa de investigação passarão pela procura de relações matemáticas entre a evolução dos pacientes e os seus parâmetros bioquímicos iniciais, de modo a ter mais dados para projetar protocolos terapêuticos mais específicos.
Referência bibliográfica | |
Fernández-Atucha, A., Echevarría, E., Larrinaga, G., Gil, J., Martínez-Cengotitabengoa, M., González-Pinto, A. M., Irazusta, J. y Seco, J. (2015). “Plasma peptidases as prognostic biomarkers in patients with first-episode psychosis”. Psychiatry Research. |