A montra digital da rádio
José Pichel Andrés/DICYT Primeiro dia de aulas em uma Faculdade de Ciências da Comunicação. O professor fala sobre “dial” do rádio. O quê? Alguns jovens espanhóis nem conhecem o termo. Provavelmente nunca tentaram sintonizar uma estação em um aparelho de rádio clássico, com a sua roletinha e o painel de números que indicam as diferentes frequências nas faixas de Ondas Médias (OM) ou Modulação em Frequência (conhecido pela sigla em inglés FM, Frequency Modulation). Eles pertencem a uma geração que cresceu com meios digitais e têm acesso a quase qualquer conteúdo no seu telemóvel. Este caso anedótico aconteceu no início deste ano lectivo e revela uma nova realidade a que nem todos os meios de comunicação tradicionais estão a se adaptar de igual maneira.
Luis Miguel Pedrero é o professor que viveu essa cena há alguns meses na Faculdade de Comunicação da Universidade Pontifícia de Salamanca (UPSA). Um ano antes, ele já tinha começado a pôr em funcionamente um projeto de investigação para tentar preencher o fosso entre a rádio convencional e as novas tecnologias. “O consumo audiovisual já é generalizado nos novos suportes, particularmente tabletes e smartphones", diz a DiCYT, “mas no caso da rádio a oferta está muito espalhada”.
Cada estação de rádio desenvolveu a sua própria aplicação e alguns grupos de comunicação mesmo nem juntaram as suas diferentes estações em uma única plataforma. Por outro lado, há algumas apps que proporcionam acesso a várias ofertas radiofónicas, mas essas soluções “estão fora do sector” e têm muitas carências.
Para preencher este vazio, nasceu o projeto iRadioGuía, que ao longo do passado ano lectivo 2013-2014 desenvolveu uma aplicação web para reunir informação sobre os programas da rádio nacional de emissão analógica, que, em alguns casos, oferecem também a transmissão online de alguns sinais. Este é um dos projetos incluídos no Clube Universitário de Inovação, que reúne professores e alunos para trabalhar em iniciativas de I&D. Neste caso, da Faculdade de Comunicação, além de Luis Miguel Pedrero, participaram os alunos Miguel Santos e Nubar Hamparzoumian, e da Faculdade de Informática, o professor Alberto Pedrero e o aluno Pablo Aibar.
Neste ano continuam com o projeto as mesmas pessoas, com o objetivo de passar de um mero protótipo a uma aplicação com os máximos serviços para os potenciais utilizadores, que tenha os dados dos programas continuamente atualizados e que ofereça a possibilidade de ouvir diretamente todas as estações, tanto da rádio convencional como das que só emitem online. “Queremos uma única aplicação com informação e sintonização” resume Pedrero.
Reunir todo o sector
A principal referência é a aplicação britânica Radioplayer, que foi desenvolvida por todos os operadores públicos e privados do Reino Unido. Neste caso, dois apoios claros promovem o projeto: da rádio convencional, a Cadena Cope; do novo modelo de negócio, a Associação Espanhola de Radio On Line. Assim, desde a faculdade propõem um trabalho colaborativo e com uma abordagem não-comercial, uma vez que o objetivo principal é animar a ouvir rádio e melhorar a experiência do ouvinte, que poderá descobrir novas estações.
Do ponto de vista técnico, as empresas só têm de fornecer os arquivos com a informação atualizada e o acesso a transmissão em streaming, de modo que a aplicação ―que nesta nova fase foi renomeada como iRadioPlay― se torne um agregador de sinais para dar acesso a todas as rádios de Espanha. Como é uma aplicação web, pode se adaptar a qualquer sistema operacional móvel e pode se tornar na forma de acesso padrão à rádio.
Do analógico ao digital
Ao contrário de outros sectores da indústria audiovisual, parece que a indústria da rádio não está a tomar medidas para cumprir com o seu público devido à sua própria idiossincrasia. Enquanto a televisão mudou os seus sinais analógicos pelos digitais, na Espanha ainda não se desenvolveu uma rádio digital, embora esta soube se adaptar à internet, que é agora a maneira em que muitos dos 25 milhões de radiouvintes espanhóis acedem aos programas, ao vivo ou pelos podcast.
Devido ao aumento de dispositivos móveis “é provável que a rádio passe do analógico para as redes 4G”, afirma Pedrero “que se calhar terão de encarregar-se da distribuição em Espanha”. Nesse sentido, a participação dos operadores de telecomunicações seria essencial. Em todo o caso, a proposta da UPSA, através das redes telefónicas ou wifi, pode constituir uma referência para que finalmente os ouvintes possam ter à sua disposição toda a programação radiofónica de maneira clara e simples.